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Cassirer: A CRISE NO CONHECIMENTO DO HOMEM SOBRE SI MESMO
quarta-feira 23 de março de 2022, por
O maior mérito desta concepção estóica do homem reside no fato de que ela dá ao homem, ao mesmo tempo, um profundo sentimento de sua harmonia com a natureza e de sua independência moral da natureza. Na mente do filósofo estóico estas asserções não entram em conflito, são correlativas. 0 homem se encontra em perfeito equilíbrio com o universo, e sabe que este equilíbrio não deve ser perturbado por nenhuma força externa. Tal é o caráter dual da "impassibilidade" (ataraxia) estóica. A teoria estóica revelou-se uma das mais vigorosas forças formadoras da cultura antiga. Mas, de repente, viu-se em presença de uma força nova, até então desconhecida. O conflito com a nova força abalou, até seus fundamentos, o ideal clássico do homem. As teorias estóica e cristã sobre o homem não são necessariamente hostis: trabalham conjuntamente na história das ideias e, não raro, as encontramos em estreita conexão no mesmo pensador. Entretanto, existe sempre um ponto em que os ideais cristão e estóico se mostram irreconciliáveis. A afirmada independência absoluta do homem, que na teoria estóica era considerada virtude fundamental, transformou-se, na teoria cristã, em seu vício e erro fundamentais. Enquanto nele perseverar, o homem não terá caminho possível para a salvação. A luta entre os dois conceitos antagônicos perdurou por muitos séculos e, no início da época moderna, na era da Renascença e no século XVII — ainda sentimos toda sua força (Sobre uma narrativa minuciosa consulte Cassirer, Descartes , Estocolmo, 1939, pp. 215 e seguintes).
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