O que chamamos de "uso do tempo" é muitas vezes, se não sempre, uma maneira de não usar o tempo, de colocá-lo em espera e em segundo plano. Mais precisamente, é uma maneira de não vivenciar o tempo como tal. O que ocupa o tempo, o uso do tempo, é também o que torna o tempo imperceptível, insensível, fora da consciência e fora da vista. É quando não há nada para fazer que o tempo se torna perceptível - não o tempo no sentido da estrutura transcendental de toda percepção possível, como ensina (…)
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Rosset, Clément
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Rosset (2013) – uso do tempo
22 de maio, por Cardoso de Castro -
Rosset (2018) – alegria de viver
21 de maio, por Cardoso de CastroDiria de bom grado, parodiando Aristóteles, que a alegria de viver constitui uma substância totalmente independente de seus "acidentes". Sem dúvida, essa alegria está constantemente exposta a interrupções: pela tortura, física ou moral, pela morte. Mas essas são interrupções, não acidentes da alegria. Uma vez que a alegria da vida reina, não há nenhum fato ou circunstância que possa perturbá-la ou frustrá-la. Em uma palavra, ela é alheia aos acontecimentos, ao reino do eventual. As melhores (…)
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Rosset (1970:25-28) – crença
15 de março, por Cardoso de Castro[...] nada é tão invencível quanto aquilo que não existe. Os mais profundos analistas da crença concordam em reconhecer a impossibilidade de defini-la. A sina habitual de uma crença é não somente proporcionar razões para crer, como ser paupérrima em definições de sua própria crença: sabe sempre dizer porque crê, mas nunca aquilo em que precisamente crê. Além do mais, o grande inimigo da crença não é a “verdade” (que os incrédulos opõem frivolamente a ela), mas a precisão.
Samuel Butler (…) -
Rosset (2012) – idiotice
15 de março, por Cardoso de Castrodestaque
Não é apenas da Virgem que o poeta fala, é de tudo o que é virgem na medida em que é singular, escapando aos olhos do corpo e à interpretação da mente, na medida em que se resume a ser isso e nada mais do que isso. Uma única palavra exprime este duplo caráter, solitário e incognoscível, de tudo o que existe no mundo: a palavra idiotice. Idiôtès, idiota, significa simples, particular, único; por uma extensão semântica cujo significado filosófico é abrangente, pessoa desprovida de (…) -
Rosset (PC:16-18) – crueldade
15 de março, por Cardoso de CastroPor “crueldade” do real entendo em primeiro lugar, é claro, a natureza intrinsecamente dolorosa e trágica da realidade. Não me estenderei sobre este primeiro sentido, mais ou menos conhecido de todos, e sobre o qual aliás tive ocasião de falar alhures mais do que abundantemente; basta-me lembrar aqui o caráter insignificante e efêmero de toda coisa do mundo. Mas entendo também por crueldade do real o caráter único, e consequentemente irremediável e inapelável, desta realidade — caráter que (…)
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Rosset (Pior:19-22) – expressão trágica e expressão pessimista
15 de novembro de 2023, por Cardoso de CastroRibeiro & Bentes
Notar-se-á, em primeiro lugar, que este cuidado de expressão trágica diverge fundamentalmente daquilo que parece, à primeira vista, constituir a forma a mais elementar e a mais radical de lógica do pior: o pessimismo. Tal como se manifesta em Lucrécio, em Montaigne, em Pascal, a intenção terrorista não é comandada por uma visão pessimista do mundo, mesmo se a filosofia que se segue é, num certo sentido, mais pessimista que qualquer pessimismo. Duas diferenças maiores, (…) -
Rosset (Crueldade) – princípio de realidade insuficiente
12 de novembro de 2023, por Cardoso de CastroOra, se interrogamos a história da filosofia, percebemos que a maior parte das filosofias só puderam alcançar sua meta, isto é, a proposição de uma teoria geral do real, mediante a estranha condição de dissolver o objeto mesmo de sua teoria, de reenviá-lo a este quase nada que Platão chamava o “menor ser” (mè òn) próprio às coisas sensíveis — quer dizer, às coisas reais — consideradas existentes apenas pela metade e com muito custo. Como se a realidade, da qual um pintor ou um romancista (…)
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Rosset (RD:13-18) – a ilusão cega
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNada mais frágil do que a faculdade humana de admitir a realidade, de aceitar sem reservas a imperiosa prerrogativa do real. Esta faculdade falha tão frequentemente que parece razoável imaginar que ela não implica o reconhecimento de um direito imprescritível — o do real a ser percebido —, mas representa antes uma espécie de tolerância, condicional e provisória. Tolerância que cada um pode suspender à sua vontade, assim que as [13] circunstâncias o exijam: um pouco como as aduanas que podem (…)
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Rosset (LP:38-39) – ideologia
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroFica entendido que, de todo modo, o que caracteriza a ideologia é a sua inexistência: a ideologia fala de não-seres (como a justiça, a riqueza, os valores, o direito, Deus, a finalidade); para retomar uma palavra de Romeu em Shakespeare, ela “fala de nadas”. E a partir do reconhecimento desse nada que divergem duas direções filosóficas que não se reencontrarão jamais, caracterizadas por uma diferença no modo de olhar. Ou bem se considera que o homem não sabe que ele fala de nadas — donde a (…)
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Rosset (PC) – crueldade
8 de junho de 2020, por Cardoso de CastroPor “crueldade” do real entendo em primeiro lugar, é claro, a natureza intrinsecamente dolorosa e trágica da realidade. Não me estenderei sobre este primeiro sentido, mais ou menos conhecido de todos, e sobre o qual aliás tive ocasião de falar alhures mais do que abundantemente; basta-me lembrar aqui o caráter insignificante e efêmero de toda coisa do mundo. Mas entendo também por crueldade do real o caráter único, e consequentemente irremediável e inapelável, desta realidade — caráter que (…)