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Rosset (1967) – inanidade radical da pessoa como pessoa
quarta-feira 23 de outubro de 2024
“Quase todos os homens pensam incessantemente que são este e aquele (τίς ’ἄνθρωπος), com os corolários que resultam disso. Mas que são um homem (ό ’ἄνθρωπος), e quais corolários resultam desse fato, é o que dificilmente pensam, e ainda assim esse é o ponto principal." Essa fórmula do Parerga pareceria banal se apenas evocasse uma advertência contra as armadilhas da subjetividade e outros “poderes enganosos” analisados pelos clássicos franceses, de Pascal a La Rochefoucauld. Mas o principal corolário resultante da qualidade de “ό’ἄνθρωπος” é, acima de tudo, a intuição da inanidade radical da pessoa como pessoa, da união indissolúvel que liga cada vontade à Querença [Wille] global e mergulha toda a pessoa de volta em um cosmos do qual ela só aparentemente havia se libertado. Outro corolário dessa qualidade é uma profunda desilusão, na medida em que essa Querença na qual a pessoa se desintegra, embora rica em comunhão humana, também revela a vaidade de todas as vontades, uma vez que, como ficará mais claro mais tarde, a Querença da qual ela é a imagem é, por definição, sem causa ou objetivo.
[ROSSET, Clément. Schopenhauer , philosophe de l’absurde. Paris: PUF, 1967 (ebook) ]
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