PASCAL (Blaise), matemático, físico, filósofo e escritor francês (Clermont Ferrand 1623 — Paris 1662) — Pertencendo por seu nascimento à alta burguesia de Auvergne, adquire uma formação precoce nas letras e nas ciências. Com dezesseis anos, publica um Ensaio sobre os cônicos; com dezenove anos inventa a primeira das máquinas de calcular, para ajudar o pai, encarregado da administração fiscal da Normandia. Depois prossegue em seus estudos científicos sobre o vácuo. Sua atitude muda em 1654: escapa por pouco de um acidente de carruagem sobre a ponte de Neuilly e, após uma noite de êxtase (23 de novembro de 1654) — testemunhada de maneira emocionante no Memoriai —, retorna totalmente a Deus. As dezoito Cartas Provinciais são uma defesa de Arnauld e do rigor de Port-Royal contra a Sorbonne e a casuística dos Jesuítas. Sua reflexão teológica pronuncia-se nos Textos sobre a graça. Sua meditação volta-se então para uma apologia do cristianismo, para a qual acumula ele fichas e notas. Entretanto, a doença não lhe deixará mais trégua. Sua obra capital, que devia ser a Apologia da religião cristã, permanecerá inacabada; ela subsiste em fragmentos: os Pensamentos, publicados por seus amigos em 1670. Seu pensamento profundo, austero e por vezes angustiado, sempre vivo e emocionante, continua sendo um tema particularmente sugestivo para a reflexão filosófica sobre o homem. O existencialismo reivindicará, muito mais que a de Kierkegaard, a paternidade de Pascal. [Larousse]
Blaise Pascal (1623-1662) prossegue usando, em sua obra filosófica, o espírito de clareza de Descartes, o “espírito geométrico”. Reconhece que as verdades matemáticas não podem ser averiguadas e conhecidas pelos mesmos meios que as verdades morais e religiosas.
Daí distinguir “l’esprit de finesse” de “l’esprit d’ordre”, que é a base de toda a sua doutrina. A ciência é impotente para alcançar a religião, na qual a razão é substituída pelo amor.
A ciência é impotente ante o inexplicável. A existência humana é contradição. O homem é “depositário do verdadeiro e cloaca da incerteza e do erro, glória e desperdício do universo”. Aceitando o princípio da graça agostiniana, a verdade da religião é dada pela graça divina, a razão é impotente para alcançá-la.
Para crer em Deus é preciso já aceitá-Lo, amá-Lo. Ante a verdade da religião e a dúvida propõe Pascal a aposta (pari) pela crença.
Acreditar na verdade da religião, se houver o céu, é ganhá-lo, é ganhar o infinito. Se não houver, perdemos apenas o finito. Qual o jogador que não arriscaria o pouco que tem pelo infinito? Poder-se-ia perguntar a Pascal como o fazem alguns existencialistas, se realmente podemos arriscar a perder o que temos, embora sendo pouco, como também se realmente queremos apostar.
Separa assim Pascal a fé da ciência. Esta pode ser atingida pela investigação e pelo conhecimento, geometricamente organizado, mas o terreno da fé só “l’esprit de finesse”, a intuição, poderia penetrar. [MFS]