O que chamamos de "uso do tempo" é muitas vezes, se não sempre, uma maneira de não usar o tempo, de colocá-lo em espera e em segundo plano. Mais precisamente, é uma maneira de não vivenciar o tempo como tal. O que ocupa o tempo, o uso do tempo, é também o que torna o tempo imperceptível, insensível, fora da consciência e fora da vista. É quando não há nada para fazer que o tempo se torna perceptível - não o tempo no sentido da estrutura transcendental de toda percepção possível, como ensina (…)
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Clément Rosset
CLÉMENT ROSSET (1939-2018)
Obra na Internet: Internet Archive; Library Genesis
ROSSET, Clément. Schopenhauer , philosophe de l’absurde. Paris: PUF, 1967 (ebook)
ROSSET, Clément. A Antinatureza. Elementos para uma filosofia trágica. Getulio Puell. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1970
ROSSET, Clément. O Princípio de Crueldade. Tr. José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 1989 [PC]
ROSSET, Clément. Logica do pior. Tr. Fernando J. Fagundes Ribeiro e Ivana Bentes. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.
ROSSET, Clément. O real e seu duplo. Ensaio sobre a ilusão. Tr. José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008
ROSSET, Clément. Le Réel. Traité de l’idiotie. Paris: Minuit, 2012
ROSSET, Clément. Faits divers. Paris: PUF, 2013
ROSSET, Clément. La Force majeure. Paris: Les Éditions de minuit, 2014 (epub)
ROSSET, Clément. L’endroit du paradis: trois études. Paris: Encre marine, 2018
Matérias
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Rosset (2013) – uso do tempo
22 de maio, por Cardoso de Castro -
Rosset (2014) – alegria de viver
23 de outubro, por Cardoso de CastroUma última observação antes de chegarmos à questão mais crucial: a alegria de que estamos falando aqui não é de forma alguma distinta da alegria de viver, do simples prazer de existir (mesmo que uma análise deste último revele nele um regozijo bastante complexo: um prazer extraído mais do fato de que há existência em geral do que do fato da existência pessoal). Isso é certamente uma confusão, mas uma confusão deliberada e intencional, baseada na ideia de que não há diferença entre alegria e (…)
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Rosset (1967) – primazia da Querença [Wille] para filosofia genealógica
23 de outubro, por Cardoso de Castro[...] A primazia da Querença [Wille] sobre as representações intelectuais representa uma ruptura de inestimável importância na história das ideias. Não que essa ruptura seja inteiramente nova: filósofos e escritores clássicos já haviam analisado este ou aquele aspecto da primazia da “paixão” sobre o “juízo”; mas Schopenhauer é o primeiro a estabelecer e sistematizar essa primazia da “Querença” sobre o “Espírito”. Anteriormente, esses eram apenas “acidentes” do espírito, casos singulares em (…)
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Rosset (1989:16-18) – crueldade
15 de março, por Cardoso de CastroPor “crueldade” do real entendo em primeiro lugar, é claro, a natureza intrinsecamente dolorosa e trágica da realidade. Não me estenderei sobre este primeiro sentido, mais ou menos conhecido de todos, e sobre o qual aliás tive ocasião de falar alhures mais do que abundantemente; basta-me lembrar aqui o caráter insignificante e efêmero de toda coisa do mundo. Mas entendo também por crueldade do real o caráter único, e consequentemente irremediável e inapelável, desta realidade — caráter que (…)
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Rosset (1989:38-39) – ideologia
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroFica entendido que, de todo modo, o que caracteriza a ideologia é a sua inexistência: a ideologia fala de não-seres (como a justiça, a riqueza, os valores, o direito, Deus, a finalidade); para retomar uma palavra de Romeu em Shakespeare, ela “fala de nadas”. E a partir do reconhecimento desse nada que divergem duas direções filosóficas que não se reencontrarão jamais, caracterizadas por uma diferença no modo de olhar. Ou bem se considera que o homem não sabe que ele fala de nadas — donde a (…)
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Rosset (2014) – alegria
23 de outubro, por Cardoso de CastroUma das marcas mais certas da alegria é, para usar um termo que tem ressonâncias infelizes em muitos aspectos, seu caráter totalitário. O regime da alegria é o de tudo ou nada: não há alegria que não seja total ou zero (e eu acrescentaria, antecipando o restante de minhas observações, que não há alegria que não seja total e, de certa forma, zero). A pessoa alegre certamente se alegra com isso ou aquilo em particular; mas se a questionarmos mais a fundo, logo descobriremos que ela também se (…)
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Rosset (1967) – Querer [Wille] em Schopenhauer
23 de outubro, por Cardoso de CastroÉ claro que nunca entenderemos a natureza das forças que reinam no mundo. Mas isso não significa que não possamos descrever essas forças ou até mesmo, de certa forma, conhecê-las. É aí que entra a famosa teoria da Vontade de Schopenhauer, que o levou a caminhos novos e até então proibidos.
Até que ponto, e de que maneira, podemos penetrar nessa terra incógnita, da qual as representações causais só dão uma imagem externa? Como podemos compreender “por dentro” uma motivação que parecia (…) -
Rosset (2014) – sexo
23 de outubro, por Cardoso de CastroEssa passagem do particular para o geral, da simples felicidade para um tipo de bem-estar cósmico, é muito perceptível no que é a alegria por excelência das espécies vivas: a sexualidade. No caso do prazer sexual, e na alegria que é indistinguível dele, fica claro — embora essa observação se aplique a todas as formas de prazer, embora talvez em menor grau — que o prazer não se esgota no benefício obtido por seus protagonistas, ou mesmo por seu único herói, no caso do prazer solitário. Há (…)
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Rosset (2012) – idiotice
15 de março, por Cardoso de Castrodestaque
Não é apenas da Virgem que o poeta fala, é de tudo o que é virgem na medida em que é singular, escapando aos olhos do corpo e à interpretação da mente, na medida em que se resume a ser isso e nada mais do que isso. Uma única palavra exprime este duplo caráter, solitário e incognoscível, de tudo o que existe no mundo: a palavra idiotice. Idiôtès, idiota, significa simples, particular, único; por uma extensão semântica cujo significado filosófico é abrangente, pessoa desprovida de (…) -
Rosset (2018) – alegria de viver
21 de maio, por Cardoso de CastroDiria de bom grado, parodiando Aristóteles, que a alegria de viver constitui uma substância totalmente independente de seus "acidentes". Sem dúvida, essa alegria está constantemente exposta a interrupções: pela tortura, física ou moral, pela morte. Mas essas são interrupções, não acidentes da alegria. Uma vez que a alegria da vida reina, não há nenhum fato ou circunstância que possa perturbá-la ou frustrá-la. Em uma palavra, ela é alheia aos acontecimentos, ao reino do eventual. As melhores (…)
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Rosset (2008:13-18) – a ilusão cega
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNada mais frágil do que a faculdade humana de admitir a realidade, de aceitar sem reservas a imperiosa prerrogativa do real. Esta faculdade falha tão frequentemente que parece razoável imaginar que ela não implica o reconhecimento de um direito imprescritível — o do real a ser percebido —, mas representa antes uma espécie de tolerância, condicional e provisória. Tolerância que cada um pode suspender à sua vontade, assim que as [13] circunstâncias o exijam: um pouco como as aduanas que podem (…)
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Rosset (1967) – a genealogia
23 de outubro, por Cardoso de CastroTalvez ainda não saibamos nada sobre a maneira pela qual as ideias podem agir sobre as ideias . O material fornecido pelos historiadores da filosofia nunca torna possível imaginar claramente uma genealogia das ideias filosóficas, especialmente quando se trata, como aqui, do futuro da ideia genealógica. Dizemos que Berkeley e Hume influenciaram Kant, que sem Hegel não teria havido a dialética marxista; mas não podemos dizer como as ideias de um influenciaram as ideias do outro. No mínimo, (…)
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Rosset (1970:25-28) – crença
15 de março, por Cardoso de Castro[...] nada é tão invencível quanto aquilo que não existe. Os mais profundos analistas da crença concordam em reconhecer a impossibilidade de defini-la. A sina habitual de uma crença é não somente proporcionar razões para crer, como ser paupérrima em definições de sua própria crença: sabe sempre dizer porque crê, mas nunca aquilo em que precisamente crê. Além do mais, o grande inimigo da crença não é a “verdade” (que os incrédulos opõem frivolamente a ela), mas a precisão.
Samuel Butler (…)