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Gordon (IMA:83-84) – macieira

terça-feira 26 de setembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

As tradições célticas afirmam que a macieira foi a árvore do paraíso terrestre.

tradução

A árvore que mencionam com insistência, como árvore primordial, todas as tradições da Índia, é a macieira. A Ilha da Macieira se encontra como elemento de base, nas cosmogonias de todas as religiões. Ela é tão essencial quanto o Meru. Como dar conta desta singularidade?

Não se trata de invenção da Índia, posto que, nos escandinavos, a deusa da vida imortal, Idhuna, ou Idhu, se identifica com uma macieira; é, além do mais, graças a ambrosia extraída da maçã que os deuses nórdicos restauram sua imortalidade. Na Grécia, Apolo, na ocasião dos Jogos Píticos tem uma maçã à mão, como prêmio dos jogos: não se notou suficientemente este detalhe, que nos dá a chave do deus helênico; seu nome, com efeito, — Apellon no vocativo — nada mais é que a denominação setentrional da maçã (inglês apple, alemão apfel, celta abal, etc.). O belo deus germânico Balder tem provavelmente a mesma origem (seu nome vem de a-pal-ter = appeltree em inglês = macieira. Apollon equivale assim a Avallon, a famosa insula pomorum, que é um dos nomes da Ilha Santa («insula pomorum, quae Fortunata vocatur», diz a Vida de Merlin). Esta ilha dos Bem-aventurados, onde a tradição celta medieval fará mais tarde «dormir» o Rei Artur, se hipostasiou na divindade helênica, a mais representativa das iniciações, no mais prestigioso Liberador que conheceu o paganismo. Esta encarnação das macieiras transcendentes além do mais veio dos países hiperbóricos para a Grécia sob o aspecto de um lobisomem: que assim o situa. — Na Ásia, nos parece provável que o grande Liberador do budismo, Avalokiteshvara, que é o bodhisattva do ocidente, esteve igualmente em seu princípio, em conexão com a Ilha Santa: seu nome, que jamais foi claramente explicado, compreende, com efeito o vocábulo celta que designa maçã (Abal ou Aval); temos portanto provavelmente a ver, no início com o Senhor (Ishvara) do lugar das maçãs, ou da essência das maçãs. Se avalokita veio a significar a iluminação perfeita (segundo Heinrich Zimmer  ), é porque a árvore ou o fruto da imortalidade comunica a plenitude da luz; eis aí, em outros termos, um sentido derivado. Se nossa conjectura é exata, a importância de Avallon sobressai com novo brilho.

As tradições célticas afirmam que a macieira foi a árvore do paraíso terrestre. Elas não mentem certamente, neste sentido que lugar identificado com o Éden, — e mais tarde os recintos sagrados constituídos a sua imagem — recorreram a esta árvore como vegetal da vida imortal e lhe deram um emprego no ritual de criação. O fato que os hindus, unanimemente, lhe outorgam um lugar insigne em sua representação do cosmo bastaria para provar sua antiguidade como Árvore de Vida.

Original

L’arbre que mentionnent avec insistance, comme arbre primordial, toutes les traditions de l’Inde, est, nous venons de le voir, le pommier, sous l’espèce Jambû (le pommier rose). L’île du pommier (Jambûdvipa) se rencontre, comme élément de base, dans les cosmogonies de toutes les religions. Elle est aussi essentielle que le Mérou. Comment rendre compte de cette singularité?

Il n’y a pas là une invention de l’Inde, puisque, chez les Scandinaves, la déesse de la vie immortelle, Idhuna, ou Iduh, s’identifie avec un pommier; c’est, au surplus, grâce à l’ambroisie extraite de la pomme que ’es dieux nordiques restaurent leur immortalité. En Grèce, Apollon tient à l’occasion une pomme, prix des Jeux Pythiques : on n’a jamais suffisamment remarqué ce détail, qui livre la clef du dieu hellénique; son nom, en effet, — Apellon au vocatif — n’est autre que l’appellation septentrionale de la pomme (anglais apple, allemand apfel, celtique abal, etc.). — Le beau dieu germanique B aider a, très probablement, même origine (son nom vient de a-pal-ter — appletree en anglais = pommier : voir A. H. Krappe, Mythologie universelle, p. 210). Apollon équivaut ainsi à A vallon, la fameuse insula pomorum, qui est l’un des noms de l’Ile Sainte (« insula pomorum, quæ Fortunata vocatur », dit la Vie de Merlin). Cette île des Bier heureux, où la tradition celtique médiévale fera plus tard « dormir » le roi Arthur, s’est hypostasiée dans la divinité hellénique [84] la plus représentative des initiations, dans le plus prestigieux Libérateur qu’eût connu le paganisme. Cette incarnation des pommiers transcendants est au surplus venue des pays hyperboréens en Grèce sous l’aspect d’un loup-garou : ce qui achève de le situer. — En Asie, il nous semble probable que le grand Libérateur du bouddhisme, Avalokiteçvara, qui est le bodhisattva de l’ouest, fut également, dans son principe, en connexion avec l’Ile Sainte : son nom, qui n’a jamais été clairement expliqué, comprend, en effet, le vocable celtique qui désigne la pomme (Abat ou Aval); nous avons donc très probablement affaire, tout au début, au Seigneur (Içvara) du lieu des pommes, ou de l’essence des pommes. Si avalokita en est venu à signifier l’illumination parfaite (tel est l’avis d’H. Zimmer), c’est parce que l’arbre ou le fruit d’immortalité communique la plénitude de la lumière ; c’est là, en d’autres termes, un sens dérivé. Si notre conjecture est exacte, l’importance d’Avallon ressort avec un nouvel éclat.

Les traditions celtiques affirment que le pommier fut l’arbre du paradis terrestre. Elles ne mentent sûrement pas, en ce sens que la contrée identifiée rituellement avec l’Eden, — et plus tard les enceintes sacrées constituées à son image — recoururent à cet arbre comme végétal de la vie immortelle et lui donnèrent un emploi dans le rituel de création. Le fait que les Hindous, unanimement, lui octroient une place insigne dans leur représentation du cosmos suffirait à prouver son ancienneté comme arbre de vie.