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Gordon (IMA:131-132) – origem dos deuses

terça-feira 26 de setembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

O politeísmo e o polidemonismo são, em outros termos, uma vitória do Diverso espaço-temporal sobre a unidade da energia radiante, um triunfo do mecanismo sobre o dinamismo; resultam diretamente da lei de concreção que domina o cosmos fenomenal; marcam a aplicação pura e simples, no domínio religioso do grande princípio da degradação da energia, que por oposição ao cosmos do super-homem, rege o universo do homem-monstro cósmico.

tradução

Outra questão se coloca com respeito à imagem do universo que a teocracia neolítica forneceu os dados, mas não pôde prever as deformações: de onde provêm os inumeráveis figurantes que ocupam os céus e os infernos?

Este problema é aquele das origens do politeísmo e do polidemonismo. Nossa visão fundamental, é que no ponto de partida se encontra a experiência ritual. Os deuses e os demônios nasceram da liturgia. Não têm em absoluto e em parte alguma uma fonte primariamente naturista. As considerações de ordem física só vieram mais tarde, como complementos, e como princípio de desenvolvimento. Nenhum «deus» pagão teria jamais existido se, de um lado, personagens sagrados não tivessem encarnado neles a radiância em curso nas cerimônias que se desenrolavam nas cavernas ou nos circundados sagrados, e se, por outro lado, não tivessem graças aos ritos, incorporado a energia transcendental às pedras, às árvores, aos rios, ao mar, etc. É o sagrado hipostasiado em um ser ou um objeto físico que, em se passando pouco a pouco a um pedaço de espaço, ao qual o pensamento litúrgico o tinha ligado, se transformou em um deus ou um demônio distinto e autônomo. O politeísmo e o polidemonismo são, em outros termos, uma vitória do Diverso espaço-temporal sobre a unidade da energia radiante, um triunfo do mecanismo sobre o dinamismo; resultam diretamente da lei de concreção que domina o cosmos fenomenal; marcam a aplicação pura e simples, no domínio religioso do grande princípio da degradação da energia, que por oposição ao cosmos do super-homem, rege o universo do homem-monstro cósmico.

Segue que o sacerdócio neolítico esteve na origem do politeísmo e do polidemonismo por sacralizar a natureza e se apresentar ele mesmo como sacrossanto. É sua santidade e seu prestígio que se situam no ponto de partida. Ele teria a princípio poupado a humanidade, sem duvida alguma, a decadência politeizante se os cismas não o tivessem minado e se tivesse podido manter a unidade da língua sagrada. É o recuo de sua influência que o impediu de neutralizar a primeira dualidade introduzida no domínio religioso pela Mãe Divina. Desde que a seiva espiritual cessou de circular com plenitude sobre a terra e que as correntes místicas se desaceleraram, o processo fetichista começou a conduzi-lo; a esclerose ganhou. O politeísmo e o polidemonismo, com as baixas adorações que lhes faziam cortejo, nada são senão o artritismo do sagrado. Crer que a religião humana começou por aí, é ir a contrário da evolução e tornar inexplicáveis os fatos. O que está na fonte, o que domina tudo, — a história da humanidade assim como aquela do cosmos — é a unidade dinâmica da energia radiante. É daí que partiu a inteligência do homem, como dela saiu toda criação. As grandes religiões da Índia jamais perderam de vista esta verdade. Se elas foram incapazes de reabsorver o politeísmo e o polidemonismo — que respondem a princípio à multiplicidade e às inumeráveis variedades dos aspectos possíveis do super-homem — elas não ignoraram e nenhum momento que o super-homem ele mesmo, depositário e fonte do sagrado, é por essência um.

Original

Une autre question se pose à propos de cette Image de l’univers, dont la théocratie néolithique a fourni les données, mais n’a pu prévoir les déformations; c’est la suivante : d’où proviennent les innombrables figurants qui occupent les ciels et les enfers?

Ce problème est, en somme, celui des origines du polythéisme et du polydémonisme. Il exigerait, à lui seul, une série de volumes. Nous l’avons abordé dans plusieurs de nos ouvrages. Notre vue fondamentale, ici comme dans les autres parties du présent travail, est qu’au point de départ se trouve l’expérience rituelle. Les dieux et les démons sont nés de la liturgie. Ils n’ont nullement, et nulle part, une source primairement naturiste. Les considérations d’ordre physique ne sont venues que plus tard, comme appoint, et comme principe de développement. Aucun « dieu » païen n’eût jamais existé si, d’une part, des personnages sacrés n’avaient incarné en eux la radiance au cours des cérémonies qui se déroulaient dans les cavernes ou les enceintes sacrées, et si, d’autre part, ils n’avaient, grâce aux rites, incorporé l’énergie transcendante aux pierres, aux arbres, aux fleuves, à la mer, etc. C’est le sacré hypostasié en un être ou un objet physique qui, en s’enlisant peu à peu dans le morceau d’espace, auquel la pensée liturgique l’avait lié, s’est mué en un dieu ou un démon distinct et autonome. Le polythéisme et le polydémonisme sont, en d’autres termes, une victoire [132] du Divers spatio-temporel sur l’unité de l’énergie radiante, un triomphe du mécanisme sur le dynamisme; ils résultent directement de la loi de concrétion qui domine le cosmos phénoménal; ils marquent l’application pure et simple, dans le domaine religieux, du grand principe de la dégradation de l’énergie, qui, par opposition au cosmos du surhomme, régit l’univers de l’homme-monstre cosmique.

Il suit de là que le sacerdoce néolithique fut à l’origine du polythéisme et du polydémonisme en ce qu’il sacralisa la nature et apparut lui-même comme sacrosaint. C’est sa sainteté et son prestige qui se situent au point de départ. Il eût d’ailleurs sans nul doute épargné à l’humanité la déchéance polythéisante si les schismes ne l’avaient miné et s’il avait pu maintenir l’unité de langue sacrée. C’est le recul de son influence qui l’empêcha de rendre sans danger la première dualité introduite dans le domaine religieux par la Mère Divine. Dès que la sève spirituelle cessa de circuler avec plénitude sur la terre et que les courants mystiques se ralentirent, le processus fétichisant commença de l’emporter; la sclérose gagna. Le polythéisme et le polydémonisme, avec les basses latries qui leur font cortège, ne sont rien d’autre que l’arthritisme du sacré. Croire que la religion humaine a débuté par là, c’est aller au rebours de l’évolution et rendre inexplicables les faits. Ce qui est à la source, ce qui domine tout, — l’histoire de l’humanité aussi bien que celle du cosmos — c’est l’unité dynamique de l’énergie radiante. C’est de là qu’est partie l’intelligence de l’homme, “ comme en est sortie toute la création. Les grandes religions de l’Inde n’ont, du reste, jamais perdu de vue cette vérité. Si elles ont été incapables de résorber le polythéisme et le polydémonisme — qui répondent d’ailleurs, suivant elles, à la multiplicité et aux innombrables variétés des aspects possibles du surhomme —- elles n’ont à. aucun moment ignoré que le surhomme lui-même, reposoir et fontaine du sacré, est, par essence, un.