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Imaginal
Hegel, precisamente, havia reconhecido no mundus imaginalis o polo de uma ontologia coerente, autônoma, reveladora do espírito: e eis o que ele chama lógica em sentido próprio. [Christian Jambet ]
O imaginário não remete exatamente ao domínio geral das imagens mentais, mas àquele das imagens, que precisamente não têm correspondente no real. Em relação à imaginação pode-se dizer que concerne somente o que Bergson denominou imaginação criadora. O estudo filosófico do imaginário foi particularmente marcada pela abordagem fenomenológica de Sartre . O imaginário deve a princípio ser definido em relação à intencionalidade de um ato de consciência, e não em relação a seu conteúdo (uma cadeira imaginária não difere de uma cadeira real). O ato imaginante é o inverso de uma ato realizante: por este ato apreendo as coisas como ausentes, elas me aparecem como dadas em vazio. O ato imaginativo é assim constituinte, isolante e exterminante. Supõe um recuo do real em relação ao mundo dado na percepção e consequentemente sua condição é a liberdade da consciência: «o irreal é produzido fora do mundo por uma consciência que permanece no mundo e é porque é transcendentalmente livre que o homem imagina». Por aí, se a consciência realizante é evidentemente uma condição mesma de toda consciência imaginante, esta última é reciprocamente a condição da primeira.
É preciso notar no entanto que o imaginário pode também designar a realidade não visada pela consciência, mas dada a ela. Henry Corbin , a fim de dar conta da realidade ontológica dos objetos do conhecimento visionário, propõe substituir o termo imaginário pelo termo «imaginal». De um ponto de vista fenomenológico, Richard Kearney propõe ir além do abismo metafísico entre o imaginário e o real graças à noção de figuração, toda a visada humana tendo uma natureza extática e figurativa.
Os teósofos visionários, os Ishraqiyun de Sohravardi , não estão menos avisados que nós dos perigos do imaginário. Lembro em algumas palavras a metafísica da Imaginação em um Sohravardi. A Imaginação oferece um duplo aspecto, ela preenche uma dupla função: por um lado uma imaginação passiva ou representativa (khayal) que é simplesmente o tesouro recolhendo toda as imagens percebidas pelo sensorium, este sendo o Espelho ao qual converge o conjunto das percepções dos sentidos externos. Por outro lado, uma Imaginação ativa (motakhayyila). Esta é posta entre dois fogos: ela pode sofrer docilmente as injunções da faculdade estimativa (wahmiya); o animal rationale julga então coisas de uma maneira que se aparenta àquela dos animais. Pode cair e cai de fato em todos os delírios, as composições monstruosas do imaginário; opõe denegações obstinadas aos julgamentos do intelecto . Mas a Imaginação ativa pode, ao contrário, se pôr exclusivamente a serviço do intelecto, quanto a sua função que é comum aos filósofos e aos profetas (o intellectus sanctus). Ela toma então o nome de cogitativa ou meditativa (mofakkira, notemos bem que aí está um outro nome da Imaginação ativa, da imaginatriz).
Todo o esforço consistirá em purificar e em liberar a via interior para que o intelecto percebido ao nível do imaginal se reflita no Espelho do sensorium e se traduza em uma percepção visionária. [CorbinTC ]
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Gordon (RP:41-42) – mentalidade ontológica
27 de setembro, por Cardoso de Castro
Nossa ciência atual, baseada sobre o espaço e o tempo humanos, devia pouco a pouco se substituir à ciência original, repousando sobre o espaço e o tempo divinos.
tradução
Sem dúvida a tarefa educativa do primeiro homem a respeito de seus filhos teria sido impossível, se as disciplinas comunicadas por ele com a finalidade de manter o contato estreito com o mundo das essências, assim como uma tomada direta sobre o reservatório infinito da energia, tivessem sido ilusórias: não o foram. (...)
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Gordon (MH:8-9) – trespasse
27 de setembro, por Cardoso de Castro
A reclusão, ou morte iniciática, era identificada, ontologicamente, com o trespasse orgânico: os neófitos retirados de suas famílias, são chorados como defuntos; frequentemente conduz-se o luto de uma maneira barulhenta e ostentatória.
tradução
A etnologia prova que em todos os povos da terra, a fonte da religião e do sacerdócio foi o ritual de morte e de ressurreição, — ritual propagado ao final do neolítico, pela segunda teocracia — através do qual o homem sofria e ainda sofre, (...)
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Gordon (IMA:122) – Via Láctea
26 de setembro, por Cardoso de Castro
A Via Láctea foi tomada por vezes como um caminho que conduzia ao céu. Denominada o «caminho dos deuses», corresponde exatamente a denominação sânscrita suravithi.
tradução
A Via Láctea foi tomada por vezes como um caminho que conduzia ao céu. Denominada o «caminho dos deuses», corresponde exatamente a denominação sânscrita suravithi. É para alguns o caminho dos Espíritos: as almas o seguem para alcançar o mais alto. Os ameríndios do norte a denominavam a estrada das almas, a senda (...)
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Gordon (IMA:127-128) – Qâf
26 de setembro, por Cardoso de Castro
Diremos que o monte Caf e as descrições encantadoras que dele dão, são simples cópias?
tradução
Segundo os muçulmanos, uma elevação maravilhosa cerca a terra. É a montanha CAF (ou QÂF). Ela tem por fundamento uma pedra transcendente, feita de uma só esmeralda, — a pedra Sakhrat — que, por sua reflexão, colore de azul o céu. Esta pedra viva e divina é o polo e o motor do mundo. É ela que, por intermédio da Montanha — no meio da qual está situada a terra — garante a estabilidade de (...)
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Gordon (IMA:131-132) – origem dos deuses
26 de setembro, por Cardoso de Castro
O politeísmo e o polidemonismo são, em outros termos, uma vitória do Diverso espaço-temporal sobre a unidade da energia radiante, um triunfo do mecanismo sobre o dinamismo; resultam diretamente da lei de concreção que domina o cosmos fenomenal; marcam a aplicação pura e simples, no domínio religioso do grande princípio da degradação da energia, que por oposição ao cosmos do super-homem, rege o universo do homem-monstro cósmico.
tradução
Outra questão se coloca com respeito à imagem (...)
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Gordon (IMA:56-58) – Ogigia
26 de setembro, por Cardoso de Castro
A Ilha. – A Ilha do Leste e a Ilha do Oeste
tradução
A oeste, a Ogigia, de Calipso, onde Ulisses estadia sete anos (parte somente ao longo do oitavo ano) é igualmente uma «ilha de mulheres», mais associada à Ilha de Atlas, o que nada tem de surpreendente, posto que Calipso é a filha de Atlas (Hesíodo fará dela uma filha de Oceano, o que salientará ainda mais seu caráter). Sua posição pode ser precisada da maneira seguinte: Ulisses nos é apresentado olhando a Grande Ursa, que, nestas (...)
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Gordon (IMA:62-63) – Noz Cósmica
26 de setembro, por Cardoso de Castro
A noz, com efeito, graças às duas partes facilmente separáveis de sua casca, se prestava, melhor ainda que o ovo, a uma identificação com a caverna ritual. Eis porque ela se tornou, em muitos lugares, um símbolo de morte e ressurreição, e se vinculou estreitamente aos usos iniciáticos, assim como aos costumes nupciais, que dele formam o prolongamento.
tradução parcial
As especulações sobre a caverna e o ovo levaram não somente à sacralização dos ovos (sacralização que lembram os ovos (...)
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Gordon (IMA29-30) – Monte Meru
26 de setembro, por Cardoso de Castro
O Meru é, ao mesmo tempo, o centro de todas as coisas. É também o polo norte, quer dizer o polo fixo da terra.
tradição
Na Índia, o onfalos e a síntese do cosmo é o sacrossanto Meru. Este vocábulo significa, segundo Burnouf, que tem um lago. Este lago é, com efeito, essencial. É formado pela água da divina Ganga, e leva o nome de Manasa-Sarovara (= excelente lago do espírito). É Brama que o criou de seu pensamento. A Montanha onde se situa marca o mais alto ponto da terra, aquele (...)
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Gordon (IMA:83-84) – macieira
26 de setembro, por Cardoso de Castro
As tradições célticas afirmam que a macieira foi a árvore do paraíso terrestre.
tradução
A árvore que mencionam com insistência, como árvore primordial, todas as tradições da Índia, é a macieira. A Ilha da Macieira se encontra como elemento de base, nas cosmogonias de todas as religiões. Ela é tão essencial quanto o Meru. Como dar conta desta singularidade?
Não se trata de invenção da Índia, posto que, nos escandinavos, a deusa da vida imortal, Idhuna, ou Idhu, se identifica com uma (...)
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Gordon (IMA:109-110) – Infernos
26 de setembro, por Cardoso de Castro
O mundo-de-sob-a-terra era por natureza um lugar de provas e de ascese.
tradução
Este mundo dito inferior porque se situava sob (infra) o céu da montanha ou no seio das águas se tornou ao longo do tempo os infernos: termo que nada teve de pejorativo, de início; os infernos foram ao contrário essencialmente, em seu princípio, um lugar de luz e um local divino; é aí que o neófito se preparava à vida sem fim; é aí que morria às pequenezas, às misérias, ao egoísmo, à ignorância, à (...)