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Gordon (IMA:55-56) – Ilha Ea

terça-feira 26 de setembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Quando Ulisses, sob o conselho da encantadora, vai visitar a entrada dos infernos (Odisseia   X, 466 ss), não tem que se distanciar, os «infernos», de que falaremos, não sendo na origem senão o mundo subterrâneo (inferi, infra) próprio ao país dos deuses.

tradução

Seguindo as tradições relativas aos Argonautas, não é duvidoso que Aia ou Æa se aplique à Cólquida: a palavra é sem dúvida a mesma que Gaia (= terra); significava então a Terra por excelência, a Terra pura; em outros termos, o que está em causa, é uma região incorporada à Grande Montanha. Para entender que se pôde, no caso, falar de uma ilha, basta notar que o vocábulo apia, que, em sânscrito, quer dizer aquático, designa, em língua cita, ao mesmo tempo a terra e uma ilha; em língua pelasgo, apia era o nome primitivo do Peloponésio e da Tessália; nas línguas góticas, originárias das línguas géticas, apia se tornou avia; a Escandinavia nada mais é que a Ilha Sombreada (Scandoein-avia); um país banhado pela água era assim uma ilha, mesmo se não fosse completamente cercado de água; fomos longe nesta via, como o as velhas expressões Ile de France, Ile de Persois, etc.; o termo ilha não tem mais aqui outro sentido que aquele de pays (país).

É possível que Circe e seu «irmão» Æetes tenham vivido sobre dois territórios contíguos, habitados por dois clãs divinos complementares (sistema bipartite ou dualista, ou dicotômico), e que o domínio do primeiro tenha sido um cantão quase insular, tornado pouco a pouco uma «ilha das mulheres»; a aventura acontecida aos companheiros de Ulisses (Odisseia X 230-364) mostra que aí se praticavam iniciações, ao longo das quais os neófitos eram transformados em porcos divinos. Esta informação é do maior interesse; demonstra a alta antiguidade dos ritos considerados. Os únicos animais que domesticou a Grande Mãe - civilização matriarcal antes das combinações culturais com o ciclo dos pastores nômades são com efeito o porco, o cão e a galinha; estão aí nos grupos de direito feminino, os mais antigos animais sacrificiais e divinizantes. É sem dúvida, primitivamente, uma honra insigne ser transformado em porco pela rainha-sacerdotisa, mais tarde decaindo ao nível de maga. Quando Ulisses, sob o conselho da encantadora, vai visitar a entrada dos infernos (Odisseia X, 466 ss), não tem que se distanciar, os «infernos», de que falaremos, não sendo na origem senão o mundo subterrâneo (inferi, infra) próprio ao país dos deuses.

Original

Suivant les traditions relatives aux Argonautes, il n’est pas douteux qu’Aia ou Æa s’applique à la Colchide : le mot est sans doute le même que Gaia (— la terre); il signifia alors la Terre par excellence, la Terre pure; en d’autres termes, ce qui est en cause, c’est une contrée incorporée à la Grande Montagne. Pour entendre qu’on ait pu, en l’occurrence, parler d’une île, il suffît de noter que le vocable âpiâ, qui, en sanskrit, veut dire aquatique, désigne, en langue scythe, à la fois la terre et une île; en langue pélasge, apia était le nom primitif du Péloponèse et de la Thessalie; dans les langues gothiques, issues des langues gétiques, apia est devenu avia; la Scandinavie n’est rien d’autre que l’Ile ombreuse (Scadœin-avia); un pays baigné par l’eau était ainsi une île, même s’il n’en était pas complètement encerclé; l’on est allé peu à peu très loin dans cette voie, comme le prouvent les vieilles expressions Ile de France, Ile de Persois, etc.; le terme île n’a plus ici d’autre sens que celui de pays (pays de France, pays des Perses, etc.).

Il est possible, au demeurant, que Circé et son « frère » Æètès aient vécu sur deux territoires contigus, habités par deux clans divins complémentaires (système bipartite, ou dualiste, ou dichotomique), et que le domaine de la première ait été un canton presque insulaire, devenu peu à peu une « île de femmes »; l’aventure survenue aux compagnons d’Ulysse (Odyssée, X, 230-364) montre qu’il s’y pratiquait des initiations, au cours desquelles les néophytes étaient transformés en porcs divins. Cette information est du plus grand intérêt; elle démontre la haute antiquité des rites envisagés. Les seuls animaux qu’ait domestiqués la civilisation matriarcale avant les combinaisons culturelles avec le cycle des éleveurs nomades sont en effet le porc, le chien et la poule; ce sont donc là, dans les groupes de droit féminin, les plus anciennes des bêtes sacrificielles et divinisantes. C’était sans nul doute, primitivement, un insigne honneur que d’être changé [56] en cochon par la reine-prêtresse, déchue plus tard au rang de magicienne. Quand Ulysse, sur les conseils de l’enchanteresse, va visiter l’entrée des enfers (Odyssée, X, 466 seq.; XI, 1 seq.), il n’a pas à se rendre très loin, les « enfers », dont nous reparlerons, n’étant, à l’origine, que le monde souterrain (inferi, infra) propre au pays des dieux.