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Perenialistas Parábolas

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Perenialistas — PARÁBOLAS

René Guénon: MITOS E MISTÉRIOS

Frithjof Schuon  : O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
Sabe-se que, para o hindu contemplativo, essa espécie de leveza metafísica é como uma segunda natureza e não apresenta nenhuma dificuldade. Isso significa que o hindu é particularmente sensível ao que já denominamos, mais de uma vez, a "transparência metafísica dos fenômenos". Certamente, bilinguis maledictus: a linguagem com sentido duplo é maldita; mas situa-se justamente num único e mesmo plano e não, como no esoterismo, em dois planos diferentes. Se esta bidimensionalidade fosse ilegítima, seria impossível interpretar o Cântico dos Cánticos em outro sentido a não ser o literal, e grande parte da exegese patrística e mística deveria ser condenada. Cristo fez uso da parábola e da metáfora.

Ananda Coomaraswamy  : O QUE É CIVILIZAÇÃO?
Naturalmente não estamos discutindo a interpretação dos significados subjetivos ou "fantasiosos" contidos nas fórmulas iconográficas; estamos falando apenas em interpretar o significado dessas fórmulas. Está fora de dúvida que quem (ao contrário de nós, que simplesmente olhamos para os símbolos e, falando generalizadamente, consideramos somente a sua superfície estética) utiliza os símbolos como meio de comunicação espera da plateia algo mais que uma apreciação de ornamentos retóricos e algo mais que uma percepção dos significados expressos literalmente. Quanto aos ornamentos, podemos dizer com Clemente, que observa que o estilo das Escrituras é parabólico e assim tem sido desde a antiguidade e diz que "a profecia não emprega formas figurativas nas expressões simplesmente por amor à beleza de dicção" (Mise. VI. 15); 1 e podemos notar que a atitude do iconólatra é achar que as cores e a arte não são dignas de ser veneradas por si mesmas, mas apenas como indicadoras do arquétipo que é a causa final da obra (Hermeneia de Athos, 445). Por outro lado, o iconoclasta supõe que os símbolos são venerados como tal, como são de fato cultuados pelos estetas, que chegam ao ponto de dizer que todo o significado e todo o valor do símbolo estão contidos nas superfícies estéticas e deixam completamente de lado "a pintura que não está nas cores" (Lankavatara   Sutra II, 117). Quanto aos "significados mais literais", só temos a observar que no mundo inteiro sempre se supôs que "há muitos significados subjacentes à mesma Bíblia  ", sendo que a distinção entre o significado literal e o final ou entre os símbolos e os sinais pressupõe que "enquanto em qualquer outra ciência as coisas são significadas por meio de palavras, esta ciência tem a característica de apresentar as palavras com um significado próprio" (Santo Tomás de Aquino  , Sum. Theol. III, Apêndices 1.2.5 ad 3 e 1.10.10c).2 Na realidade, verificamos que quem se expressa "por parábolas", ou seja, cujo modo de falar tem um número maior de motivos adequados do que os que podem ser utilizados naquele momento, invariavelmente aceita sem discutir que deve haver algumas pessoas qualificadas (e outras não) que entendem o que foi dito; por exemplo, em Mateus   13,13-15 lemos: "Falo com eles por parábolas porque quando olham não veem e quando escutam não ouvem nem entendem. . . Porque são duros de ouvido e porque estão de olhos fechados, a não ser que um dia cheguem a compreender. . ." cf. Marcos 8,15-21). Analogamente, Dante  , que nos garante que toda a Divina Comédia foi escrita com uma finalidade prática e aplica à sua própria obra escolástica o princípio da interpretação quádrupla, não nos pede que lhe admiremos a arte, e sim "a lição que se oculta por trás do véu dos versos estranhos".

Paul Vulliaud  : Excertos do capítulo XIX — Influência da Cabala   e os cabalistas cristãos

Hebraizantes reputados afirmaram que Paulo Apostolo) faz em alguns lugares alusão à Hochma nistara (sabedoria secreta). Mas os Evangelhos contêm exemplos de exegese rabínica: seja a halaka, a haggada ou mesmo o sod (mistério tomado no sentido cabalístico).

O método haggadico é, como se sabe, familiar aos Evangelhos. O rabino convertido Drach, escreveu em um estudo pouco conhecido sobre as Tradições judaicas: “O método de só apresentar o alto ensinamento sob a forma do enigma, da parábola, da fábula, era aquele dos sábios de todas as nações da antiguidade, sobretudo no Oriente, e nosso Senhor não ensinava de outra maneira. “Jesus disse todas estas coisas em parábolas à multidão, e só lhe falava em parábolas”. O divino mestre se afastava tão pouco disto dos rabinos, tanto que a maior parte de suas parábolas se leem quase palavra por palavra no Talmude  , e outras coleções antigas; notem bem, assim como os rabinos, ele só comunicava a inteligência a alguns eleitos. Ele se contentava de dizer à multidão: “que aquele que tem ouvidos para ouvir ouça”; e quando ela se retirava, seus discípulos lhe perguntando: “Porque lhes falas em parábolas?” Respondia: “porque lhes foi dado conhecer os mistérios dos céus; mas para eles, não lhes foi dado; por isso lhes falo em parábolas”. Os apóstolos mesmos, quando nosso Senhor lhes abandonava em seus próprios juízos, não entendiam a linguagem figurada. E assim foi que a maneira do vulgar eles tomaram à letra estas divinas palavras: “Desconfiem do fermento dos fariseus. Elias já veio. Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou retirá-lo do sono. Destruam este templo e em três dias os restabelecerei”. No entanto os rabinos diziam fermento para doutrinas más, perversas; dormir para morrer; Elias para o personagem que deveria ser o precursor do Messias. Assim também, o templo que os judeus esperavam ter o advento do Redentor de Israel, não seria um templo de pedras, um templo perecível, mas um templo eterno, aberto ao céu por IHWH, que descerá espiritual dos céus à terra” (Drach, 1937).