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Perenialistas Boaventura

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

PERENIALISTAS — BOAVENTURA  

François Chenique  :
V. J. G. Bougerol. Saint Bonaventure et la sagesse chrétienne. p. 85. São Boaventura admite que a ideia das coisas é abstrata do sensível e que só é inata a luz natural que permite julgá-las. Quando se trata de virtudes (poderes da alma) ou de Deus, suas ideias são das espécies inteligíveis, inteiramente espirituais, portanto inatas. A ideia de Deus ainda é um caso excepcional, porque ela exprime a presença real de Deus para o espírito, e daí a possibilidade de passar da existência efetiva do Absoluto ao pensamento da sua existência (prova ontológica). V. a nota de H. Dumery, p. 63 de sua tradução do Itinerarium.
No Breviloquium, São Boaventura explica o dogma cristão, partindo do Primeiro Princípio. No Itinerarium, toma o caminho inverso em movimento ascendente: reconhecendo em todas as criaturas a chancela de Deus, ele vai do sinal para o significado; em seguida, porém, em movimento descendente, vai do significado ao sinal e considera como Deus exprime sua presença no interior da sua criação. O Itinerarium foi composto no monte Alverne, lugar dos estigmas de São Francisco, em 1259, 33 anos após a morte dele. Trata-se de uma síntese da obra de São Boaventura e também perfeito comentário teológico do Cântico das criaturas. Seis capítulos formam os marcos das seis etapas do Itinerarium, e o sétimo capítulo indica a etapa final, que se situa para além do próprio pensamento. Os seis capítulos apresentam-se de dois em dois, e Deus é conhecido, sucessivamente, pelos seus vestígios e em seus vestígios, pela imagem da alma e nessa imagem, pela ideia do Ser e na ideia do Bem. O movimento pelo (per) é ascendente, enquanto o movimento em (in) é descendente; o primeiro se faz pelos sentidos, a razão e a inteligência (inteligentia), e o segundo pela imaginação, o intelecto (intellectus) e o cimo da alma (apex mentis ou sindérese). São Boaventura acrescenta: "Esses degraus plantados em nós pela natureza, e deformados pelo erro, são reformados pela graça. Devem ser purificados pela justiça, cultivados pela ciência e aperfeiçoados pela sabedoria" (I, 6). Façamos notar, com H. Duméry, que a justiça recobre o conjunto das virtudes, que a ciência recobre o conjunto dos conhecimentos e que a sabedoria recobre a totalidade de umas e de outros. Ver as notas de sua tradução, p. 31 e 33. A sindérese, chamada por São Jerônimo   "scintilla conscientiae", é, segundo ele e segundo São Tomás, a função da inteligência que nos permite distinguir o bem e o mal, e que a falta original não aboliu; v. o artigo "Sindérese" no Vocabulaire de la philosophie de Lalande  .
O exemplarismo de Boaventura é a doutrina das relações de expressão existentes entre Deus e a criatura. V. a exposição de Bougerol. Op cit., p. 77-87. No parágrafo 14 do capítulo I do Itinerarium, São Boaventura explica que as sete maneiras de ser das criaturas dão um sétuplo testemunho sobre Deus; H. Duméry comenta assim (Op. cit., p. 39): "A palavra testimonium faz-se, aqui, fortemente apropriada. As sete maneiras de ser das criaturas não fornecem a premissa menor de um silogismo. Elas dão testemunho sobre Deus; São Boaventura sobe a Deus seguindo o fio da analogia expressiva, não o de um raciocínio lógico. São Tomás demonstra, porque abstrai. São Boaventura mostra, porque reconhece".