Página inicial > Sophia Perennis > Frances Yates > Yates: Libavius

Yates: Libavius

domingo 31 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Frances Yates   — O Iluminismo Rosa-Cruz
Andreas Libavius
Um deles foi Andreas Libavius, um nome muito conhecido na história Química antiga. Libavius foi um daqueles "químicos" até certo ponto influenciados pelos novos ensinamentos de Paracelso  , no sentido de que aceitava o emprego, na medicina, de medicamentos químicos recentes, defendido por Paracelso, enquanto que teoricamente aderia aos ensinamentos tradicionais aristotélicos e galénicos e rejeitava o misticismo paracelsista [1]. Aristóteles   e Galeno aparecem honrosamente colocados na página-título do principal trabalho de Libavius, a Alchymia, publicado em Frankfurt, 1596. Os manifestos rosa-cru-cianos atacam Aristóteles e Galeno, como uma característica da antiquada rigidez de espírito. Se Libavius sentira-se pessoalmente alvejado nesse ataque por paracelsistas entusiastas do ensinamento tradicional, não podemos dizer, mas certamente a sua crítica aos manifestos rosa-cruzes torna-se antagônica àqueles "químicos" que, iguais ao ímpio Paracelso, pouco diferem dos mágicos. Ele acusa os autores dos manifestos de não compreenderem a alquimia   séria e científica, que substituem por especulações incultas, e propõe as suas "bem-intencionadas observações" como instruções, através das quais deveriam admitir seus erros, por terem recebido uma base da verdadeira alquimia científica.

Libavius criticou a Fama e a Confessio rosa-cruzes em vários trabalhos; o mais importante deles é chamado "Well-meaning Observations on the Fama and Confession of the Brotherhood of the Rosicrucians", publicado em Frankfurt, 1616 [2]. Baseando-se nos textos dos dois manifestos, Libavius faz sérias objeções a eles nos terrenos científico, político e religioso. Libavius é firmemente contra as teorias da harmonia macromicrocósmica, contra a "Magia" e a "Cabala  ", contra Hermes Trismegistus (de cujas supostas obras faz muitas citações), contra Agripa e Thritemius — resumindo, ele é contra a tradição renascentista conforme transmitida aos autores dos manifestos R.C. e no espírito dos quais eles interpretam Paracelso. Libavius considera tudo isso como subversivo da tradição aristotélica e galénica, como de fato era, e critica firmemente os manifestos, por partirem da ortodoxia.

É digno de nota que num trabalho publicado anos antes, em 1594, Libavius atacara a Monas hieroglyphica, de Dee  , mencionando os elementos cabalísticos nele constantes, e que ele desaprovava [3]. Por conseguinte, ele certamente seria capaz de reconhecer a influência da Alonas de Dee nos manifestos rosa-cruzes, o que confirmaria a sua reprovação por eles.

Também é significativo Libavius frequentemente mencionar Oswald Croll em seus opúsculos contra os rosa-cruzes, parecendo associar suas doutrinas àquelas de Croll, com o qual também não se afina. Cita e reprova o prefácio de Croll em sua Basílica, perto do início de suas "observações bem-intencionadas".


[1Consultar J. R. Partington, History of Chemistry, Londres, 1961, II, pp. 244 e ss. Libavius não rejeitou a própria alquimia; consultar John Read, Prelude to Chemistry, Londres, 1936, pp. 213-21.

[2A. Libavius, Wohlmeinendes Bedencken der Famautid Confession der Brudprschaft des Rosencreulzes, Frankfurt, 1616. Outros trabalhos em latim de Libavius, contra os manifestos rosa-cruzes, estão impressos no Appendix necessária syntagmatis arcanorum chymicorum, Frankfurt, 1615, reeditados tm Frankfurt, 1661, com um título ligeiramente diferente. Consultar Ian Macphail, Alchemy and the Occult, A Catalogue of Books and Manuscripts from the Collection of Paul and Mary Mellon, Yale, 1968, I, p. 71.

[3A. Libavius, Tractatus duo de Physici, Frankfurt, 1594, pp. 46-71; cf. François Secret, Les Kabbalistes Chrétiens de la Renaissance, Paris, 1964, p. 138.