Uma última observação antes de chegarmos à questão mais crucial: a alegria de que estamos falando aqui não é de forma alguma distinta da alegria de viver, do simples prazer de existir (mesmo que uma análise deste último revele nele um regozijo bastante complexo: um prazer extraído mais do fato de que há existência em geral do que do fato da existência pessoal). Isso é certamente uma confusão, mas uma confusão deliberada e intencional, baseada na ideia de que não há diferença entre alegria e (…)
Apontamentos de pensadores do Ocidente e do Oriente, desde um apreço (philo) à compreensão (sophia) do "ser" humano.
[Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro]
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Rosset (2014) – alegria de viver
23 de outubro, por Cardoso de Castro -
Rosset (2014) – sexo
23 de outubro, por Cardoso de CastroEssa passagem do particular para o geral, da simples felicidade para um tipo de bem-estar cósmico, é muito perceptível no que é a alegria por excelência das espécies vivas: a sexualidade. No caso do prazer sexual, e na alegria que é indistinguível dele, fica claro — embora essa observação se aplique a todas as formas de prazer, embora talvez em menor grau — que o prazer não se esgota no benefício obtido por seus protagonistas, ou mesmo por seu único herói, no caso do prazer solitário. Há (…)
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Rosset (2014) – alegria
23 de outubro, por Cardoso de CastroUma das marcas mais certas da alegria é, para usar um termo que tem ressonâncias infelizes em muitos aspectos, seu caráter totalitário. O regime da alegria é o de tudo ou nada: não há alegria que não seja total ou zero (e eu acrescentaria, antecipando o restante de minhas observações, que não há alegria que não seja total e, de certa forma, zero). A pessoa alegre certamente se alegra com isso ou aquilo em particular; mas se a questionarmos mais a fundo, logo descobriremos que ela também se (…)
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Didier Franck (1998:380-383) – a memória
18 de setembro, por Cardoso de CastroDo eterno retorno, e do princípio segundo o qual o orgânico é apenas um caso particular do inorgânico, Nietzsche tira a seguinte conclusão: “A matéria inorgânica, embora na maioria das vezes fosse orgânica, não aprende nada, está sempre sem passado! Se fosse de outra forma, nunca poderia haver repetição – porque, da matéria, sempre nasceria algo com novas qualidades, com novo passado.” A repetição que assegura a constância do mundo e dos corpos que nele vivem supõe, portanto, como condição (…)
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Lévinas (1993:138-141) – diferença ontológica
18 de setembro, por Cardoso de CastroAqui vamos relembrar alguns dos motivos fundamentais do pensamento heideggeriano.
1. A coisa mais extraordinária que Heidegger traz é uma nova sonoridade do verbo ser: precisamente sua sonoridade verbal. Être: não o que é, mas o verbo, o ’ato’ de ser (em alemão, a diferença é facilmente feita entre Sein e Seiendes, e esta última palavra não tem, para a língua, o som bárbaro do francês étant, que, por essa razão, os primeiros tradutores tiveram que colocar entre aspas). Essa contribuição é (…) -
Dreyfus & Taylor (2015) – conhecimento produto do cérebro?
16 de setembro, por Cardoso de CastroTomemos a "virada linguística". Para muitos filósofos atuais, se quiséssemos fornecer o conteúdo da mente, deveríamos recorrer não a pequenas imagens na mente, mas a algo como sentenças consideradas verdadeiras por um agente ou, mais coloquialmente, as crenças da pessoa. Essa mudança é importante, mas mantém a estrutura de mediação intacta. O elemento mediador não é mais algo psíquico, mas sim "linguístico". Isso permite que ele seja, de certa forma, "externo", no sentido da distinção (…)
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Dreyfus & Taylor (2015) – conhecimento como "mediacional"
16 de setembro, por Cardoso de Castro"A PICTURE HELD US CAPTIVE" (Ein Bild hielt uns gefangen). Assim fala Wittgenstein no parágrafo 115 das Investigações Filosóficas.. O que ele está se referindo é a poderosa imagem da mente no mundo que habita e fundamenta o que poderíamos chamar de tradição epistemológica moderna, que começa com Descartes. O ponto que ele quer transmitir com o uso da palavra "imagem" (Bild) é que há algo diferente e mais profundo do que uma teoria. É um entendimento de fundo, em grande parte não refletido, (…)
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Consciência enquanto essência da manifestação em Schelling [MHEM]
15 de setembro, por Cardoso de CastroA consciência designa a essência da manifestação interpretada segundo os pressupostos ontológicos fundamentais do monismo. Por isso, por se identificar com o processo de autodestruição e de separação de si do ser, a consciência apresenta-se sempre, no seu trabalho e no seu devir, como um ato de separar-se do ser, de se elevar acima dele, recuar, opor-se a ele. A emergência da consciência surge assim na sua contemporaneidade com o desdobramento de um distanciamento, com a concretização da (…)
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Patocka (1995:14-16) – efetuação da experiência
14 de setembro, por Cardoso de CastroSe não estou enganado, o tema cartesiano não é o ponto de partida, mas sim um ponto de passagem para a fenomenologia. O princípio fundamental com base no qual a fenomenologia chega ao cartesianismo é o conhecido princípio do mostrar-se, o princípio que nos compromete a acolher o aparecimento como tal, na medida em que é dado, mas sem ultrapassar os limites do presente dado. "Acolher as coisas como elas se dão", sem introduzir nada estranho, não é uma atitude fácil de se alcançar. Os (…)
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Patocka (1983:177-178) – problema da manifestação
13 de setembro, por Cardoso de CastroOra, nossa tese inicial era a seguinte: o problema da manifestação é mais profundo, mais fundamental, mais original que o problema do ser. Simplesmente porque só posso chegar ao problema do ser por meio do problema da manifestação, ao passo que se parto do problema do ser no sentido abstrato do termo, o conceito de ser se torna para mim um conceito abstrato, algo como um signo puramente formal; nem mesmo uma categoria, mas algo que está acima das categorias no sentido de que é inteiramente (…)