MGabrielNE
Meu próprio termo para “a ordem puramente natural” é universo. Eu distingo entre o universo e o mundo. Enquanto o primeiro se refere ao domínio dos objetos estudados pelas nossas melhores ciências naturais (talvez idealmente por uma física unificada futurística ou, dependendo do status da unidade/desunião da ciência, por qualquer conjunto relevante de disciplinas estabelecidas presentes e futuras), o último é o domínio hipotético que abrange todos os objetos. Por razões detalhadas em outro lugar (Gabriel 2015a), acredito que essa ideia de mundo deveria ser reformulada: não devemos entender o mundo nem como um domínio que abrange todos os objetos nem como o domínio que abrange todos os fatos, mas como o que chamo de “o campo de sentido de todos os campos de sentido”. Aqui, um “campo de sentido” (CDS) é o meu nome para um domínio de objetos individuados pelo que corresponde à maneira correta de pensar sobre seus objetos. A maneira correta de pensar sobre os objetos em um dado domínio é a maneira que nos permite apreendê-los como eles são sob as descrições que os caracterizam apropriadamente como sendo o que quer que sejam (ibid.). O universo é um CDS dentro de um domínio que engloba outros CDSs. Ele está aninhado dentro de um sistema aberto de CDSs. Não há um CDS geral que abranja tudo. Chamo esse resultado da ontologia dos CDSs de “visão sem mundo”, e o resumo na expressão de que o mundo não existe (Gabriel 2015b). De acordo com o Neoexistencialismo, a mente não pertence nem à ordem natural (o universo) nem ao mundo. No entanto, ela existe em toda uma série de CDSs de tal forma que os vários fenômenos agrupados sob o termo guarda-chuva “a mente” não designam um objeto ou gama de objetos claramente delineados. Contudo, existe uma estrutura unificadora invariante que mantém nosso vocabulário mentalista coeso. Chamo essa estrutura de “Geist”. Dado que Geist é uma noção técnica aqui projetada para explicar o invariante no pano de fundo das variações confusas do vocabulário mentalista, é garantido que seja menos confuso do que a série de vocabulários mentalistas que encontramos. Observe que, de acordo com minha proposta, algumas partes ou subdomínios do Geist estão incluídos no universo. Tudo o que vou argumentar é que nem todas as partes nem a totalidade do Geist podem existir no universo.
Se a mente, como a fusão de vários objetos que surgiram através das tentativas historicamente mutáveis do Geist de dar sentido à distinção entre o ser humano e o não-humano, existe de fato, de acordo com minha ontologia de base, ela precisa se encaixar em algum CDS ou outro. Mesmo que a mente seja um objeto ficcional (ou um ninho de objetos ficcionais), ela encontrará seu lugar em um CDS adequado, distinto de outros CDSs. Isso será verdadeiro tanto horizontalmente – em comparação com outras ficções, digamos, literárias ou cinematográficas – quanto verticalmente – no contexto de CDSs pertencentes a uma categoria inteiramente diferente, especificamente não ficcional, como o CDS da astrofísica. O tipo certo de pluralismo ontológico que permite uma pluralidade de domínios relacionados entre si em uma ordem maior composta por diferentes bolsões categoricamente distintos acomoda facilmente a mente, qualquer que seja sua natureza. O pluralismo ontológico trivialmente abre espaço para a mente, já que muitos dos itens designados por vários vocabulários mentalistas (consciência, awareness, emoções, estar acordado, etc.) podem ser acomodados sem que seja necessário colocá-los no mesmo reino ontológico (o mesmo CDS) que a matéria bariônica, galáxias ou o cerebelo, por exemplo.