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O espaço, o tempo e o âmbito que eles desdobram — chamemos-lhe universo — são supervalorizados na filosofia moderna como princípio de individuação. Não podemos ajudar-nos aqui com uma referência à física ou a outra ciência natural. Portanto, se quisermos abordar sem preconceitos ou de forma neutra a questão do significado da “existência”, é aconselhável não partir de suposições prévias sobre o que se considera real.
Na ontologia, a questão primordial não é se algum domínio objetivo dado de antemão (por exemplo, o universo) tem um status privilegiado sob o aspecto metafísico no todo da realidade. O fato de se colocar em geral a questão do todo da realidade pressupõe que a ontologia e a metafísica já estão ligadas de maneira relevante. Mas se, em primeiro lugar, trata-se apenas da questão de que tipo de propriedade é a “existência”, não há razão para favorecer determinadas coisas que têm certas propriedades (por exemplo, coisas particulares do tipo espaço-temporal) no nível exploratório. Nesse contexto, Bertrand Russell constatou o seguinte em sua discussão sobre “fantasmas” e “imaginações”:
Sei, naturalmente, que a fé no mundo material é algo como um regime de terror. O que não se encaixa no mundo material merece ser menosprezado, mas isso é muito injusto em relação às coisas que não se encaixam neste mundo, que também existem. O mundo material é algo como uma aristocracia dominante, que de alguma forma conseguiu que tudo o resto fosse menosprezado. Tal atitude é indigna de um filósofo. Devemos levar a sério, em igual medida, as coisas que não se encaixam no mundo material, entre as quais se incluem as imaginações.