Página inicial > Sophia Perennis > Ananda Coomaraswamy > Coomaraswamy: Morte de Buda

Coomaraswamy: Morte de Buda

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Ananda Coomaraswamy   — O Pensamento Vivo de Buda  

A VIDA DE BUDA (cont.)

Foi em Kusinara, no bosque de salas, em Mallas, que Buda se deitou para morrer, tomando o "repouso do leão". Uma multidão de leigos, de mendicantes e de deuses de todas as categorias cercava seu leito, que velava Ananda. Buda deu-lhe instruções para que se incinerasse seu corpo e que se construísse um túmulo (thupa, dhatu-gabbha) que encerraria seus ossos e suas cinzas.

À vista destes túmulos, erguidos para os Budas, para os Arahants ou para um Rei dos reis, muitos seres encontrariam a calma e a felicidade, e isso os levaria a renascer mais tarde num dos céus. Ananda chorou lembrando-se que ainda não tinha nenhuma graduação espiritual. Buda assegurou-lhe que ele tinha trabalhado eficientemente e que não tardaria em ser "livre de todas as vicissitudes", isto é: que se tornaria Arahant; e recomendou Ananda à companhia dos monges, comparando-o a um Rei dos reis.

"Todas as coisas compostas estão sujeitas à corrupção. Lutai pelo vosso ideal com sobriedade". Tais foram as últimas palavras d’Aquele que encontrara a Verdade. Entrando à vontade em cada um dos quatro estados contemplativos superiores, ele saiu do quarto, e nesse instante "expirou" (Parinibbayati: aqui no sentido de morrer, embora raramente empregado a respeito de fenômenos materiais.) totalmente. A morte d’Aquele que encontrara a Verdade foi anunciada por Brahma que compreendeu que a morte de todos os seres, sejam quais forem, mesmo a do Grande Mestre, é inevitável. Indra pronunciou os bem conhecidos versos:

Transitórias são todas as coisas compostas; cabe-lhes ter uma origem, envelhecer, e tendo tido uma origem, se novamente destruídas; tê-las detido, eis a beatitude

O Arahant Anuruddha pronunciou um breve panegírico, e fez notar que "não há luta frenética para o coração fiel, pois o Sábio, o Imutável, encontrou a paz". Ananda estava profundamente comovido. Somente os monges mais jovens choravam, rolavam pelo chão desesperados, gemendo por ter o "Olho do Mundo se fechado tão cedo". Os antigos os censuravam lembrando-lhes que

Todas as coisas compostas estão sujeitas à corrupção: não poderia ser de outra maneira.

O corpo foi incinerado; as relíquias, divididas em oito partes, foram distribuídas aos chefes de clãs que ergueram oito monumentos para encerrá-las.

Assim Buda que, enquanto fora visível aos olhos humanos, tinha possuído os cinco fatores da personalidade sem ser identificado à sua totalidade nem a qualquer deles (Samyutta Nikaya III, 112) "fez estalar a veste da Ipseidade" (Anguttara — Nikaya IV, 312; cf. Vinaya — Pitaka. I, 6). Alcançara depois de muito tempo a qualidade de Imortal (Majjhima — Nikaya I, 172; Vinaya — Pitaka. I, 9; It. 46, 62) não nascendo, não envelhecendo, não morrendo (KhA. 180; [[Dhammapada A, I 228)."O corpo envelhece, mas a Verdadeira Lei não envelhece" (Samyutta Nikaya I, 71). "O corpo morre, o Nome sobrevive" (Samyutta Nikaya I, 43; cf. IV. VI, 18, 7; Bu  , m, 2, 12). "Seu Nome é Verdade" (Anguttara — Nikaya m, 346, IV, 289). "A Verdade é a Lei Eterna" (Samyutta Nikaya I, 168). Ainda hoje pode-se dizer que "Aquele que vê a Lei (Samyutta Nikaya III, 120; Milindapanha 73) vê Aquele que abriu as portas da Imortalidade" (Majjhima — Nikaya I, 167; Vinaya — Pitaka. I, 7).