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Nietzsche (VP:477) – o pensar

quarta-feira 13 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

  

Mantenho a fenomenalidade também do mundo interior: tudo o que se nos torna conscientes é, completamente, primeiro preparado, simplificado, esquematizado, interpretado — o processo real [wirklich] da “percepção” interna, a unidade causal entre pensamentos, sentimentos, desejos, como aquela entre sujeito e objeto, é completamente oculta para nós — e talvez seja uma pura ilusão. Esse “mundo interior aparente” é tratado com procedimentos e formas totalmente idênticos aos do mundo “exterior”. Não topamos com “fatos”: prazer e desprazer são fenômenos do intelecto, tardios e derivados...

A “causalidade” nos escapa; admitir uma ligação causal imediata entre pensamentos, como faz a lógica — é consequência da observação mais grosseira e mais desajeitada. Entre dois pensamentos entram em jogo todos os afetos possíveis: mas os movimentos são muito rápidos, por isso os desconhecemos, os negamos...

“Pensar”, tal como os teóricos do conhecimento supõem, não acontece absolutamente: é uma ficção arbitrária, alcançada pelo destaque de um elemento do processo e a subtração de todos os restantes; é uma preparação artificial para fins de inteligibilidade...

O “espírito”, algo que pensa: se possível, deveras, “O espírito absoluto, puro, singelo” — essa concepção é uma consequência secundária, decorrente da falsa auto-observação, que acredita no “pensar”: aqui, em primeiro lugar, imagina-se um ato que não acontece absolutamente, “O pensar”, e, em segundo lugar, imagina-se um sujeito-substrato, no qual, e em nenhuma outra parte, cada ato desse pensar tem sua origem: isto é, tanto o fazer quanto o que faz são fictícios.


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