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Perenialistas Vigilância

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

PERENIALISTAS — VIGILÂNCIA, SOBRIEDADE

Frithjof Schuon  :

Os termos oratio e jejunium implicam que a invocação do Nome — ou dos Nomes — deve sempre ser acompanhada pela perfeita sobriedade, o que quer dizer que não se deve esperar qualquer resultado durante a invocação; toda a nossa satisfação deveria vir somente do fato que estamos praticando a invocação ou que estamos em presença do Nome. Não se deve ter expectativas de qualquer graça sensível; é necessário se comportar como se a graça virá apenas no momento da morte. Pois o que nos salva não é a percepção de alguma graça ou resposta; é apenas o fato que oramos. Para isto temos toda nossa vida; devemos portanto ser atentos ao equilíbrio da alma a fim de evitar alternâncias entre as fases de entusiasmo e aridez. Se somos indiferentes, a aridez certamente se dissipará; devemos firmemente fixar em nós mesmos a ideia de que não são nossos estados que contam; é somente nossa fidelidade à oração. Nossa alma não deve complicar as coisas; quando as complicações surgem, é necessário por um lado eliminá-las através da inteligência buscando suas causas, e por outro combatê-las através da oração pessoal pedindo ajuda do Céu.
A vigilância: o homem santificado é também, e necessariamente, um homem disciplinado. Ser disciplinado é intrinsecamente dominar-se e extrinsecamente fazer as coisas de modo correto; nada fazer pela metade, nem contra a lógica das coisas; em suma, não ser nem negligente, nem desordenado, aliás, nem extravagante. Na natureza, cada coisa é plenamente o que deve ser e cada coisa está em seu lugar segundo as leis da hierarquia, do equilíbrio, das proporções, do ritmo. A liberdade das formas e dos movimentos combina-se com uma coordenação subjacente; assim, a perfeição da alma exige que o exterior esteja em conformidade com o interior. É preciso que a musicalidade se combine com a geometria, pois a consciência do absoluto deve penetrar na alegria da infinitude, e aí está uma condição fundamental da arte. A disciplina do caráter e da conservação é sinal de humildade tanto quanto de discernimento, e ambos são inseparáveis. Certamente, pode acontecer de um santo ser negligente em relação às coisas deste mundo, mas é porque está absorto na contemplação. Fora da contemplação, seria perfeitamente consciente e cuidadoso; e o mínimo que se pode dizer é que não basta ser negligente para ser um contemplativo ou um santo. O homem santificado evita toda singularidade ostentatória, exceto em caso de vocação especial; assim também, a disciplina exterior, que visa à norma e não à originalidade, é uma das primeiríssimas etapas para a extinção da alma autócrata e indomada.

A vigilância é a virtude afirmativa e combativa, que nos impede de esquecer ou de trair a "única coisa necessária": é a presença de espírito, que constantemente nos traz à memória Deus, e que por isso mesmo nos deixa atentos a tudo o que nos afasta d’Ele. Essa virtude exclui toda negligência e todo descuido — tanto nas pequenas coisas quanto nas grandes —, visto que se baseia na consciência do momento presente, deste instante sempre renovado que pertence a Deus e não ao mundo, à Realidade e não ao sonho. É neste contexto que se situa, repetimos, a qualidade de disciplina, de domínio de si, de retidão em todas as coisas.

Roberto Pla  : Evangelho de Tomé - Logion 103
Estar em vigília, é viver em velação, em contemplação do Pai, o qual é “conhecido” sem vê-lo, sem necessidade de vê-lo, porque não é o órgão da vista o melhor testemunho de Deus, senão o conhecimento, o sentido interno do saber, e é esse sentido superior, negado por muitos, o que revela como se deve adorar, no invisível, em espírito e verdade.

Estar em vigília é a adoração própria de quem em uso do fruto da semente que receberam, exerce seu poder de se fazer filho de Deus. Os que vigiam, vivem despertos, porque mataram o sono para sacudir a ignorância de Deus e esperam a Vida que trás o Filho do homem.

Estes são os que segundo anunciou Jesus, “não saborearão a morte até que vejam ao Filho do Homem vir em seu Reino; porque o esperam com suas “forças” reunidas e bem cingidos os rins de sua consciência, para contemplar em espírito e verdade a hora de sua Vinda (v. VINDA DO FILHO DO HOMEM).

Conta o quarto evangelho que quando Jesus (o Vivente), aparecido a seus discípulos às margens do Tiberíades, saía com Pedro, a quem havia profetizado o tipo de morte com a que ia glorificar a Deus, o perguntou Pedro, então, por João, e Jesus o respondeu: “Se quero que fique até que eu venha, que te importa?”. E não disse: “Não morrerá”, senão que o Filho do Homem viria a João antes de que este morresse.

Isto mesmo é o que anos depois dizia de si mesmo o apóstolo Paulo: “Nós os que vivamos, os que ficamos até a Vinda do Senhor, não nos adiantaremos (por isso) aos que morrerão (aos que receberão a vinda depois de morrer).

  • Ou o que é o mesmo: os que todavia estejam com vida terrena quando recebam sua parousia particular.

Os que alcançam a Vida “antes de saborear a morte”, são somente “os poucos”, os bem-aventurados que não são filhos da noite, senão filhos do Dia, os que velam. Para eles, o Senhor não haverá de Vir como um ladrão, senão como o Filho do homem, para ser um com eles, e para fazer morada, junto com o Pai, neles.