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Perenialistas Rei

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

PERENIALISTAS — REALEZA

Jacques Bonnet: I.N.R.I

Examinando estas siglas, em artigo da Études Traditionnelles, com este mesmo título, Bonnet nos lembra para começar o sentido do "reinado" de Jesus Cristo, o "Rei dos Judeus". Citando a passagem de João (18, 33-38) Bonnet acompanha as respostas de Jesus a Pilatos:
Então Pilatos novamente entrou para o salão-de-julgamento, e chamou Jesus, e disse-Lhe: "És Tu o Rei dos Judeus?" Jesus lhe respondeu: "Dizes tu isso proveniente- de- junto- de ti mesmo? Ou outros te disseram (isto) a respeito de Mim?" Pilatos respondeu: "Porventura sou eu judeu? A Tua própria nação e os principais dos sacerdotes Te entregaram a mim. Que fizeste?" Jesus respondeu : "O Meu reinar não é proveniente- de- dentro- deste mundo. Se o Meu reinar era proveniente- de- dentro- deste mundo, os Meus servidores lutavam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas, agora, o Meu reinar não é daqui." Disse-Lhe, pois, Pilatos: "Logo, Tu és rei!?" Jesus respondeu: "Tu dizes (isto) porque EU SOU rei. Eu tenho sido nascido para isso, e tenho vindo ao mundo para isso: A fim de testemunhar da verdade. Todo aquele (que está) sendo proveniente- de- dentro- da verdade ouve a Minha voz." Pilatos Lhe diz: "Que é (a) verdade?" E ele (Pilatos), havendo dito isto, novamente saiu aos judeus, e lhes diz: "Eu (sequer) nem uma (só) falta encontro nEle! (Jo 18:33-38).

Pilatos coloca quatro questões. Jesus não responde a primeira; indiretamente responde a segunda, e claramente, responde a terceira: "Eu sou rei". O que entender disto no contexto do judaísmo., assim como do "reino" que Jesus aborda.

Os sinóticos usam frequentemente o termo "reino". João só o faz duas vezes. Aqui e na conversa com Nicodemos: "Jesus respondeu e lhe disse: "Na verdade, na verdade te digo: Se alguém não for de novo nascido, não pode ver o reinar de Deus." Nicodemos Lhe diz: "Como pode um homem nascer, (já) sendo velho? (Porventura) pode ir para dentro do ventre da sua mãe pela segunda vez, e ser nascido?" Jesus respondeu: "Na verdade, na verdade te digo: Se alguém não for nascido proveniente- de- dentro- d(a) água e (proveniente- de- dentro- do) Espírito, não pode entrar para o reinar de Deus. (Jo 3:3-5)"

Reino se diz em grego basileia, em hebraico malkhut ou mamlakha. Nas duas línguas estes termos designam reino e realeza ou reinado.

A expressão aparece pela primeira vez na Torá quando Deus diz a Moisés: "Sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa" (Ex 19,6). Texto fundamental para os cristãos, retomado na Epístola de Pedro e no Apocalipse. O reino é constituído daqueles que se tornaram santos, tendo recebido a unção santa, e assim se transformam em "Filhos do óleo" (Zacarias 4,14), quer dizer filhos de luz e logo "nascidos do alto", como Jesus diz a Nicodemos.

Jesus se dizendo afirma que recebeu a unção; no judaísmo, o rei é ungido (hebreu, mashyah, grego christos).

René Guénon

Nos textos sagrados da Índia, encontramos o seguinte: "O Atma (o Espírito divino), que reside no coração, é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de mostarda, menor que um grão de milhe te, menor que o germe que está no grão de um milhete; o Atma, que reside no coração, é também maior que a terra, maior que a atmosfera, maior que o céu, maior que todos esses mundos juntos". [1] É impossível não notarmos a semelhança dos termos dessa passagem com os da parábola evangélica à qual nos referimos há pouco (Semente de Mostarda): "O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou em seu campo. É na verdade a mais pequenina de todas as sementes, mas, crescendo, é a maior das hortaliças e faz-se árvore de modo que as aves do céu vêm pousar nos seus ramos." [2]

A esse paralelo, que parece impor-se, uma só objeção poderia ser levantada: é verdadeiramente possível assimilar ao "Atma que reside no coração" o que o Evangelho designa como o "Reino dos Céus" ou o "Reino de Deus"? O próprio Evangelho fornece resposta a essa questão, e de modo claramente afirmativo. De fato, aos fariseus que perguntavam quando viria o "Reino de Deus", entendendo-o num sentido exterior e temporal, Cristo diz as seguintes palavras: "O Reino de Deus não vem ostensivamente, nem se dirá: ei-lo aqui, ei-lo ah; pois o Reino de Deus está dentro de vós, Regnum Dei intra vos est" [3]

Abade Stephane
É preciso fazer certa distinção quanto ao nível que se pode alcançar no Raio Divino. O Reino dos Céus é um deles, a considerar por sua frequente menção em algumas parábolas consideradas justamente como "do Reino dos Céus". Mas na parábola do Rico e Lazaro se menciona outro nível "desejado" por Lazaro, que após sua morte a ele foi levado pelos Anjos: o "Seio de Abraão". Por outro lado se fala também que "o Reino dos Céus sofre violência, são os violentos que dele se amparam", portanto conquistado sem ser a ele levado pelos Anjos como no caso do Seio de Abraão. Pode-se ainda notar que um dos ladrões crucificados ao lado de Jesus foi perdoado por Jesus e atendido seu desejo de ir ao Paraíso. Portanto, Seio de Abraão, Paraíso e Reino dos Céus não são a mesma coisa, assim como pobreza material não é pobreza espiritual (v. Pobres de Espírito).


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[1Chandogya Upanixade, 39 Prapâthaka, 149 Khanda, shruti 3.

[2Mateus, 13, 31-32; cf. Marcos, 4, 30-32 e Lucas, 13,18-19.

[3Lucas, 17, 21. Lembraríamos, a esse respeito, o texto taoista (já citado por nós de modo mais completo em L’Homme et son devenir selon le Vêdânta, cap. X): "Não pergunte se o Princípio está nisto ou naquilo. Ele está em todos os seres. Por isso é que lhe são atribuídos cognomes tais como grande, supremo, inteiro, universal, total... Ele está em todos os seres, por uma terminação de norma (o ponto central ou o "invariável meio"), mas ele não é idêntico aos seres, não sendo nem diversificado (na multiplicidade) nem limitado" (Tchuang-tseu, cap. XXII).