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Javary: Shekinah

sexta-feira 3 de maio de 2024, por Cardoso de Castro

  

Excertos traduzidos por Antonio Carneiro   de Cabalistas Cristãos

A palavra Sekina, formada sobre uma raiz bíblica, mas, desconhecida dos textos da Primeira Aliança, nasceu no primeiro século de nossa era: encontra-se pela primeira vez nessas traduções aramaicas da Bíblia, que se chamam Targumin. Essa palavra é então contemporânea de Jesus Cristo. A raiz Shin, Caph, Nun, significa habitar; em latim se traduziu a palavra por “inhabitatio”, falta de habitação, ou Presença de Deus no mundo. Considera-se que é a Sekina que se manifesta na Sarça Ardente, no Sinai, na Arca da Aliança, no Santo dos Santos; vê-se mesmo, às vezes, nela um dos três anjos que apareceram para Abraão (v. Ícones da Trindade), ou aquele contra o qual lutou Jacó. Suas manifestações são frequentemente acompanhadas de fenômenos sensíveis, sobretudo luminosos, e essa palavra se tornou o equivalente à palavra glória, “kavod” em hebreu. Deus presente entre os homens, Deus glorificado, tal é então o sentido dessa palavra que, ao longo da literatura judaica, se enriqueceu de conotações novas: para os filósofos, é o intelecto agente, para os rabinos o equivalente ao Espírito Santo. Mas, não é senão nos textos da Cabala   que essa palavra tomou um sentido muito específico e tornou-se o aspecto feminino de Deus, ou a Esposa do Santo, louvado seja! Os cabalistas consideram que Deus, às vezes, é macho e fêmea, tanto que está escrito no Gênese:

Deus criou o homem à sua imagem,
Macho e fêmea o criou.

A Sekina se desdobra então, em Sekina superior, frequentemente assimilada à Bina, a terceira dos Sefirot, ou a Inteligência, e Sekina inferior, que é frequentemente assimilada à Malkuth, o Reino, a última dos Sefirot, uma sendo mãe e a outra filha. É então ao redor desse tema, sempre novo porque vivo, que Egídio de Viterbo drapejou os amplos desenvolvimentos líricos, que, onde se mesclaram, em um sincretismo harmonioso, reminiscências bíblicas, lembranças da mitologia grega ou latina, alusões cabalísticas; mas não esqueceu jamais que era cristão e multiplicou as referências para o Evangelho. A fé do humanista italiano é forte demais para assumir sem serem agitadas as tradições as mais diversas.

A Sekina será então o segundo polo de nosso estudo sobre os Nomes de Deus. Reencontraremos a mesma preocupação de estabelecer equivalências: « Nos dois nomes do Tetragrama e de Adonai, estão contidos todos nomes e sobrenomes da Sekina e dos dez Sefirot e dos anjos... » escreverá mais tarde Knorr von Rosenroth. Mas, se o tema da Sekina teve a preferência de Viterbo é que era mais rico de ressonâncias para a alma cristã que o tema do Tetragrama: permitia uma partição em Deus, que, portanto, não rompia a unidade; permitia ver Deus habitando entre os homens, sem, portanto, renunciar à sua glória; permitia, até mesmo, sem cair na idolatria, justificar o culto prestado à Virgem Maria. De fato, se as especulações sobre o Tetragrama acentuavam mais sobre a transcendência de Deus, era, sobretudo, sua imanência que estava posta em evidência no tema da Sekina; mas, um não excluía o outro, uma vez que esses dois polos da divindade se encontravam quando se tratava de evocar a Deus uno e trino.

Mostraremos então sucessivamente:

  • que a Sekina é também o equivalente aos outros Nomes de Deus,
  • que os cabalistas cristãos se serviram da palavra Sekina para nomear Deus Pai, ou Deus Verbo, ou Deus Espírito,
  • que Jesus Cristo em sua vida terrestre evoca frequentemente a Sekina,
  • que a Virgem Maria, em sua feminilidade, recolheu mais de um símbolo, mais de uma designação, atribuídas pelos cabalistas judeus à Sekina.

Não insistiremos sobre as equivalências possíveis entre a Sekina e os outros nomes de Deus: E. de Viterbo notou que é à Sekina que foi dado o nome de Adonai e que esse grande nome não é um sobrenome (Scech. fol. 337v). E. de Viterbo fala também de Eloim Bina (Ibid., 330), Bina sendo a Sekina superior.