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Antonio Carlos Carvalho: Fatima Tomar Ladeira

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Antonio Carlos Carvalho — O Triângulo Místico Português
Introdução
Diz o povo português que «Deus escreve direito por linhas tortas». E qualquer de nós teve já oportunidade de comprovar que assim acontece.

Mas pode também acontecer que Deus decida «escrever direito» por linhas direitas. Especialmente se forem as linhas de um Triângulo...

E ao falarmos de triângulos ocorre-nos imediatamente referir o célebre «Triângulo das Bermudas» ou «do Diabo», onde, sem qualquer explicação aparente, e sem deixarem rasto, aviões, navios e seres humanos têm desaparecido nos últimos trinta anos.

Ora em Portugal também existe um triângulo célebre, no qual, em vez de desaparecerem homens, navios, e aviões, aparecem figuras e sinais de caráter místico.

É o Triângulo das Aparições, o Triângulo Místico:

FÁTIMA — TOMAR — LADEIRA DO PINHEIRO

Situado no centro de Portugal (e mais adiante veremos a importância dessa situação central), o triângulo Fátima-Tomar-Ladeira do Pinheiro atrai a si, anualmente, centenas de milhares de pessoas, não só portugueses como vindos de todos os países, em peregrinação — em romagem a um dos centros espirituais do Mundo, a três lugares nos quais o Céu parece estar mais próximo da Terra e, portanto, onde o Homem mais facilmente pode cumprir o seu papel, a sua missão de ser o traço de união entre dois mundos aparentemente separados e opostos mas que se devem resolver na Unidade inicial.

Quem penetra no interior deste Triângulo Místico e toca num dos seus três pontos principais, sente-se mais pesado, como se recaísse sobre si todo o peso da condição humana — a condição de um ser errante, eternamente à procura da sua vocação e da sua verdade.

Dentro desse Triângulo, em Fátima, em Tomar ou na Ladeira do Pinheiro, sentimos que a revelação está perto de nós, pode acontecer de um momento para o outro, dependendo apenas de nós — se formos capazes de ver com olhos de ver, de ouvir com ouvidos de ouvir.

Os peregrinos que encontramos nesses lugares são, na sua maioria, pesquisadores do Absoluto (mesmo que não tenham disso consciência), buscadores da Verdade, demandadores de um Graal que continua a não ser encontrado, mas que talvez esteja ali mesmo, dissimulado na arquitetura tradicional de Tomar, nas frias pedras de Fátima ou na paisagem vulgar da Ladeira do Pinheiro...

«Vim cá para cumprir uma promessa que tinha feito.»

«Vim cá apenas por mera curiosidade. Queria ver de perto como isto era...»

«Vim cá à procura de qualquer coisa...»

Estas três respostas de outros tantos peregrinos que encontramos nesses lugares, e a quem perguntamos qual a razão da sua presença, sintetizam as motivações de tantos milhares de outros peregrinos ou romeiros, atraídos pelo «poder do Triângulo»...

Já agora, meditemos um pouco no simbolismo desta figura geométrica, o Triângulo.

Ultimamente tem-se falado muito da Pirâmide e dos seus poderes; talvez convenha lembrar que o Triângulo encontra-se na base da sua formação.

O Triângulo equilátero simboliza a divindade (para os Judeus e, depois para os Cristãos, simboliza Deus), a harmonia, a proporção. O Triângulo retângulo representa o Homem e a Terra (segundo Platão, no «Timeu  »).

Nas antigas civilizações, como a dos mayas, o Triângulo aparece ligado à ideia da fecundidade.

Virado com o vértice para cima, simboliza a montanha, o fogo e o sexo masculino; se tiver o vértice virado para baixo representa a caverna, a água e o sexo feminino.

É também o símbolo do coração.

O equilíbrio é dado ou representado pela chamada Estrela de David  , a união de dois triângulos, um direito e outro virado com o vértice em sentido oposto, símbolo de Israel.

Tradicionalmente, aparecem também ligadas ao Triângulo as ideias de bem pensar, bem dizer e bem fazer; sabedoria, força e beleza; passado, presente e futuro; nascimento, maturidade e morte; e, ainda, os três princípios básicos da Alquimia  : Sal, Enxofre e Mercúrio.

Para a Maçonaria (cuja origem remonta, pelo menos, à civilização egípcia), o Triângulo é o Delta luminoso e representa o Tempo, as Trevas e a Luz (o ternário cósmico).

Se passarmos ao misterioso livro do «Yi-King  » da tradição chinesa, lá encontramos os trigramas, os três termos da Grande Tríade, o Céu, a Terra e o Homem, ou o Pai, a Mãe e o Filho.

Na tradição hindu, é Sat, Chit e Ananda.

Na tradição cristã, temos a Santíssima Trindade e o seu mistério.

Também na tradição judaica (a Qabbalah  ) se fala de uma Tri-unidade essencial.

E, como dirá Lao-Tse, um gera dois, dois gera ires e três gera todas as coisas.

Sem esquecermos os três mundos descritos por Dante   na «Divina Comédia»...

Ora o Triângulo que nos interessa neste caso tem o seu vértice apontado para baixo: representa a feminilidade, a qual, no Cristianismo, é simbolizada (no seu aspecto grandioso e sublime) pela Virgem. E uma das características comuns aos três pontos do Triângulo Místico, Fátima-Tomar-Ladeira do Pinheiro, é precisamente o culto da Virgem, a presença constante de Maria Mãe de Deus.

Por outro lado, e ainda referindo-nos ao simbolismo do Triângulo (que vemos presente em tantas igrejas, dominando o altar) e do número três, lembramos que a Terceira Pessoa da Trindade é o Espírito Santo. Ora outra das características comuns ao Triângulo Fátima-Tomar-Ladeira do Pinheiro é o culto do Espírito Santo, como veremos.

Temos, assim, que o Triângulo Místico é formado por três lugares profundamente influenciados pela Virgem Maria, pelo culto do Espírito Santo e pelas aparições ou descobertas (de mundos novos, de esquecidas aberturas espirituais para o encontro da Verdade).

Sem lhe pedir que acredite piedosamente em tudo o que lhe dizemos aqui, mas fazendo questão de sublinhar que se trata de um pequeno trabalho de investigação feito sem preconceito, convidamos o leitor a acompanhar-nos nesta rápida viagem pelo circuito do Triângulo Místico.

Adotando uma ordem cronológica, em relação à História, começaremos a nossa viagem por Tomar.