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Plotino - Tratado 19,2 (I, 2, 2) — Teoria da dupla assimilação

sábado 29 de janeiro de 2022, por Cardoso de Castro

  

nossa tradução

versão Brisson   & Pradeau   + Armstrong  

2. Em primeiro lugar, portanto, devemos considerar as virtudes pelas quais nos tornamos, digamos, semelhantes ao deus, a fim de descobrir o elemento comum que para nós é a virtude, sendo apenas uma imitação, mas que não é virtude, sendo por assim dizer o arquétipo, não sem ter mostrado que a assimilação pode ser entendida de duas maneiras. Exige-se, com efeito, que [5] se encontre o mesmo nos termos que se tornaram todos semelhantes em condições iguais, a partir do mesmo modelo. Mas nos casos em que um dos dois termos se tornou semelhante ao outro, que é primeiro e que não é intercambiável com aquele e não se diz semelhante a ele, então devemos entender a assimilação de outro modo, que exige não a mesma forma, mas [10] uma forma diferente nos dois termos, se é verdade que a assimilação foi feita de outra maneira.

O que, então, pode ser a virtude tomada em seu conjunto e cada virtude em particular? Nosso propósito ficará mais claro se considerarmos cada virtude em particular; pois é assim que o elemento comum, segundo o qual todos são virtudes, também será facilmente evidenciado. Assim, as virtudes cívicas, que mencionamos acima, realmente ordenam [15] e nos tornam melhores porque impõem limites e medidas aos desejos e paixões em geral; suprimem falsas opiniões por meio do que em geral é melhor, limitado, e que, por ser medido, não conta mais entre as coisas que são sem medida e sem limite. As virtudes cívicas, embora sejam elas próprias limitadas, são como medidas na matéria que é a alma, fizeram-se semelhantes à medida de lá-no-Alto e [20] possuem o traço de excelência de lá-do-Alto. Aquilo que é totalmente desmedido é a matéria, e assim totalmente nada semelhante: mas na medida em que participa da forma, torna-se semelhante ao Bem, que não tem forma. As coisas que estão perto participam mais. A alma está mais próxima e mais parecida com ela do que o corpo; por isso participa mais, a ponto de nos enganar a imaginar que é um deus, e que toda a divindade está compreendida nessa semelhança. É assim que se fazem os possuidores de virtude cívica.

versão MacKenna  

2. Primeiro, então, examinemos aquelas boas qualidades pelas quais sustentamos que a Semelhança se dá, e busquemos estabelecer o que é esta coisa a qual, como a possuímos, em transcrição, é virtude mas como o Supremo a possui, é a na natureza de um exemplar ou arquétipo e não é virtude.

Devemos distinguir dois modos de Semelhança.

Há semelhança demandando uma natureza idêntica nos objetos que, além do mais, devem retirar sua semelhança de um princípio comum: e há o caso no qual B se assemelha a A, mas A é um Primal, não concernido sobre B e não afirmado assemelhar-se a B. Neste segundo caso, a semelhança é compreendida em sentido distinto: não mais buscamos pela identidade de natureza, mas, ao contrário, pela divergência posto que a semelhança advém pelo modo da diferença.

O que, então, precisamente é Virtude, coletivamente e em particular? O método mais claro será começar com o particular, pois assim o elemento comum pelo qual todas as formas mantêm o nome geral prontamente aparecerão.

As Virtudes Cívicas, que tratamos acima, são um princípio ou ordem e beleza em nós enquanto permanecemos passando nossa vida aqui: elas nos enobrecem pela fixação de limites e medidas a nossos desejos e à nossa inteira sensibilidade, e desencantar o falso juízo — e isto pela simples eficácia do melhor, pela fixação de limites, pelo fato que o comedido é elevado acima da esfera do desmesurado e ilegal.

E, além disto, estas Virtudes Cívicas — comedidas e ordenadas elas mesmas e agindo como um princípio de medida para a Alma que é uma Matéria para sua formação — são como a medida reinando no supramundo, e carregam um traço do Mais Alto Bem no Supremo; pois, enquanto a suprema desmesura é a Matéria bruta e integralmente fora da Semelhança, qualquer participação na Forma-Ideal produz certo grau correspondente de Semelhança no Ser-Aí sem forma. A participação se dá por proximidade: a Alma mais próxima ao corpo, portanto mais próxima por afinidade, participa mais integralmente e demonstra uma presença divina, quase nos enganando na ilusão que na Alma vemos Deus inteiro.

Este é o caminho no qual homens das Virtudes Cívicas alcançam a Semelhança.

Bouillet

Examinons d’abord les vertus par lesquelles nous devenons semblables à Dieu, et cherchons quel genre d’identité il y a entre l’image qui dans notre âme constitue la vertu et le principe qui dans l’Intelligence suprême est l’archétype de la vertu sans être la vertu. Il y a deux espèces de ressemblance : l’une exige l’identité de nature entre les choses qui sont semblables entre elles, comme le sont celles qui procèdent d’un même principe; l’autre dérive de ce qu’une chose ressemble à une autre qui lui est antérieure et lui sert de principe. Dans ce second cas, il n’y a pas réciprocité, et le principe n’est pas semblable à ce qui lui est inférieur; ou du moins la ressemblance doit être conçue ici tout autrement : elle n’implique pas que les êtres où elle se trouve soient de même espèce, mais plutôt d’espèces différentes, puisqu’ils se ressemblent d’une autre manière.

Qu’est-ce donc que la vertu, soit en général, soit en particulier? Pour plus de clarté, considérons une espèce particulière de vertu : c’est le moyen de déterminer facilement ce qui constitue l’essence commune de toutes les vertus.

Si les vertus civiles, dont nous venons de parler, ornent réellement notre âme et la rendent meilleure, c’est parce qu’elles règlent et modèrent nos appétits, qu’elles tempèrent nos passions, qu’elles nous délivrent des fausses opinions, qu’elles nous renferment dans de justes limites, et qu’elles sont elles-mêmes déterminées par une sorte de mesure. Cette mesure, qu’elles donnent à notre âme comme une forme à une matière, ressemble à la mesure des choses intelligibles ; c’est comme un vestige de ce qu’il y a là-haut de plus parfait. Ce qui n’a aucune mesure, n’étant que matière informe, ne peut aucunement ressembler à la divinité : car on s’assimile d’autant plus à l’être qui n’a pas de forme qu’on participe plus de la forme ; et on participe d’autant plus de la forme qu’on en est plus proche. C’est ainsi que notre âme, qui par sa nature en est plus proche que le corps, par cela même participe davantage de l’essence divine, et pousse assez loin la ressemblance qu’elle a avec elle pour faire croire que Dieu est tout ce qu’elle est elle-même. C’est de cette manière que les hommes qui possèdent les vertus civiles s’assimilent à Dieu.

Guthrie

THERE ARE TWO KINDS OF RESEMBLANCE.

2. Let us first examine the virtues by which we are assimilated to the divinity, and let us study the identity between our soul-image which constitutes virtue, and supreme Intelligence’s principle which, without being virtue, is its archetype. There are two kinds of resemblance: the first entails such identity of nature as exists when both similar things proceed from a same principle; the second is that of one thing to another which precedes it, as its principle. In the latter case, there is no reciprocity, and the principle does not resemble that which is inferior to it; or rather, the resemblance must be conceived entirely differently. It does not necessitate that the similar objects be of the same kind; it rather implies that they are of different kinds, inasmuch as they resemble each other differently.

HOW HOMELY VIRTUES MAY ASSIMILATE MAN TO THE SUPREME.

(It is difficult to define) what is virtue, in general or in particular. To clear up the matter, let us consider one particular kind of virtue: then it will be easy to determine the common essence underlying them all.

The above-mentioned homely virtues really render our souls gracious, and improve them, regulating and moderating our appetities, tempering our passions, delivering us from false opinions, limiting us within just bounds, and they themselves must be determined by some kind of measure. This measure given to our souls resembles the form given to matter, and the proportion of intelligible things; it is as it were a trace of what is most perfect above. What is unmeasured, being no more than formless matter, cannot in any way resemble divinity. The greater the participation in form, the greater the assimilation to the formless; and the closer we get to form, the greater the participation therein. Thus our soul, whose nature is nearer to divinity and more kindred to it than the body is, thereby participates the more in the divine, and increases that resemblance enough to make it seem that the divinity is all that she herself is. Thus arises the deception, which represents her as the divine divinity, as if her quality constituted that of the divinity. Thus are men of homely virtues assimilated to the divinity.

MacKenna

2. First, then, let us examine those good qualities by which we hold Likeness comes, and seek to establish what is this thing which, as we possess it, in transcription, is virtue but as the Supreme possesses it, is in the nature of an exemplar or archetype and is not virtue.

We must first distinguish two modes of Likeness.

There is the likeness demanding an identical nature in the objects which, further, must draw their likeness from a common principle: and there is the case in which B resembles A, but A is a Primal, not concerned about B and not said to resemble B. In this second case, likeness is understood in a distinct sense: we no longer look for identity of nature, but, on the contrary, for divergence since the likeness has come about by the mode of difference.

What, then, precisely is Virtue, collectively and in the particular? The clearer method will be to begin with the particular, for so the common element by which all the forms hold the general name will readily appear.

The Civic Virtues, on which we have touched above, are a principle or order and beauty in us as long as we remain passing our life here: they ennoble us by setting bound and measure to our desires and to our entire sensibility, and dispelling false judgement- and this by sheer efficacy of the better, by the very setting of the bounds, by the fact that the measured is lifted outside of the sphere of the unmeasured and lawless.

And, further, these Civic Virtues- measured and ordered themselves and acting as a principle of measure to the Soul which is as Matter to their forming- are like to the measure reigning in the over-world, and they carry a trace of that Highest Good in the Supreme; for, while utter measurelessness is brute Matter and wholly outside of Likeness, any participation in Ideal-Form produces some corresponding degree of Likeness to the formless Being There. And participation goes by nearness: the Soul nearer than the body, therefore closer akin, participates more fully and shows a godlike presence, almost cheating us into the delusion that in the Soul we see God entire.

This is the way in which men of the Civic Virtues attain Likeness.

Taylor

II. In the first place, therefore, the virtues must be assumed, according to which we say that we are assimilated [to divinity,] in order that we may discover the same thing. For that which is virtue with us, being an imitation, is there an archetype as it were, and not virtue. By which we signify that there is a twofold similitude, one of which requires a sameness in the things that are similar, these being such as are equally assimilated from the same thing ; but the other being that in which one thing is assimilated to another, but the latter ranks as first, and is not converted to the other, nor is said to be similar to it. Here, therefore, the similitude must be assumed after another manner; since we do not require the same, but rather another form, the assimilation being effected after a different manner. What, therefore, is virtue, both that which is universal, and that which is particular? The discussion, however, will be more manifest by directing our attention to each of the virtues ; for thus that which is common, according to which all of them are virtues, will be easily apparent. The political virtues, therefore, of which we have spoken above, truly adorn and render us better, bounding and moderating the desires, and in short the passions, and taking away false opinions from a more excellent nature, by limiting and placing the soul beyond the immoderate and indefinite, and by themselves receiving measure and bound. Perhaps, too, these measures are in soul as in matter, are assimilated to the measure which is in divinity, and possess a vestige of the test which is there. For that which is in every respect deprived of measure, being matter, is entirely dissimilar [to divinity]. But so far as it receives form, so far it is assimilated to him who is without form. But things which are nearer to divinity, participate of him in a greater degree. Soul, however, is nearer to, and more allied to him than body, and therefore participates of him more abundantly, so that appearing as a God, it deceives us, and causes us to doubt whether the whole of it is not divine. After this manner, therefore, these are assimilated.


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