Página inicial > Arte e Simbolismo > Literatura
Literatura
Em seu ensaio sobre a essência da literatura, Sartre concretizou no devoilement das forças obstrutivas da liberdade e da subjetividade, na denúncia e superação do poder do “mal”, isto é, do dinheiro, da ignorância, da opressão e do esmagamento do eu pelo eu, o tema próprio da fabulação literária. Esse desvelamento é, ao mesmo tempo, uma volta-a-si do homem, em consequência da tomada de consciência que emana das forças em luta e da dialética das consciências que encarna. Mesmo o romance que explora a servidão humana, a impotência diante da noite das paixões é, em última instância, uma ilustração no caminho do reconhecimento, um estar-além dessas paixões e uma forma de catarse e purificação. No fundo, a experiência da criação literária é uma continuação da experiência efetiva da História, uma promoção, ativação ou antecipação dessa vida.
Afirmamos aqui que os limites da imaginação literária, em sua forma humanística, são assinalados pelos próprios limites do projeto humano, pelo conteúdo da Matriz mitopoética. O pensamento atual tende a aceitar que esse projeto não é uma quantidade absoluta da História, algo de constante através dos tempos, mas um determinado projeto, isto é, algo de oferecido como forma a se realizar. A literatura também fez parte do acervo de virtualidades emergentes da Fonte. Toda operação ou fruição artística supõe, como vimos, uma “abertura”, um espaço de movimento onde explanar o explanável. Esse explanável é constituído pela demografia lendária que enche os espaços do mundo, os personagens e paradigmas que, como arquétipos, orientam, infletem e delineiam as geodésicas da ação. [VFSTM :136]
-
de Castro: natureza
7 de janeiro, por Cardoso de Castro
Antes de se destacar entre as ideias sobre a Natureza, àquela que promoveu a “matematização da Natureza”, é preciso focalizar o termo Natureza, em suas distintas e originais acepções.
C.S. Lewis, professor de inglês medieval e renascentista na Universidade de Cambridge, percorre em um de seus livros menos conhecido o labirinto de sentidos e usos de algumas palavras inglesas, reencontrando suas genealogias e seus “termos ancestrais” - vocábulos gregos, latinos e ingleses em seus sentidos originais. (...)
-
Queneau (ES) – relato simples x relato científico
11 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
A partir do original francês foram feitas algumas alterações na versão QUENEAU, Raymond. Exercícios de Estilo. Tradução, apresentação e posfácio de Luiz Rezende. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995.
português
Em "Exercícios de Estilo", Raymond Queneau relata um acontecimento ordinário e em seguida experimenta diferentes estilos de como relatar o mesmo acontecimento. Para ilustrar sua genialidade, toma-se apenas o relato simples e direto, e este mesmo relato feito hipotética e caricaturalmente por um (...)
-
Octavio Paz – TODOS SANTOS, DÍA DE MUERTOS
2 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro
PAZ, Octavio. Laberinto de la soledad.
LA MUERTE es un espejo que refleja las vanas gesticulaciones de la vida. Toda esa abigarrada confusión de actos, omisiones, arrepentimientos y tentativas —obras y sobras— que es cada vida, encuentra en la muerte, ya que no sentido o explicación, fin. Frente a ella nuestra vida se dibuja e inmoviliza. Antes de desmoronarse y hundirse en la nada, se esculpe y vuelve forma inmutable: ya no cambiaremos sino para desaparecer. Nuestra muerte ilumina nuestra (...)
-
Saramago (BV) – o fala-só
29 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro
Hoje, apesar do céu descoberto e do sol quente, não me sinto para festas. Há dias assim. E um homem não tem obrigação nenhuma de mostrar aqui um sorriso de boas-vindas quando sabe que ninguém está para chegar. Mais vale aceitar (ou assumir, como é inteligente dizer-se agora) as boas e as más horas do espírito, porque atrás de uma vêm outras, e nada está seguro, etc., etc. Desta fatalidade poderia até tirar matéria para a crónica, se mesmo agora me não tivesse passado na lembrança um homem mal enroupado que (...)
-
Beckett (EG) – existência
14 de abril de 2021, por Cardoso de Castro
BECKETT, Samuel. Esperando Godot. Tr. Fábio de Souza Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2015
Fábio de Souza Andrade
LUCKY (exposição monótona) Dada a existência tal como se depreende dos recentes trabalhos públicos de Poinçon e Wattmann de um Deus pessoal quaquaquaqua de barba branca quaqua fora do tempo e do espaço que do alto de sua divina apatia sua divina athambia sua divina afasia nos ama a todos com algumas poucas exceções não se sabe por quê mas o tempo dirá e sofre a exemplo da divina Miranda (...)
-
Valéry (O2) – moral
12 de março de 2021, por Cardoso de Castro
[L’IDÉE FIXE, VALÉRY, Paul. Œuvres II. Bibliothèque de la Pléiade n. 148. Paris: Gallimard, 1960 (ebook)]
Tradução Se ... Podemos nos livrar de uma autoridade de origem externa, - desamarrar todos os nós, cortar todos os fios estranhos. A defesa é possível ... Mas é quase impossível livrar-se de hábitos mentais que são reforçados pela experiência tanto quanto o pensamento pode ser, e que são justificados pela crítica sempre que se aplica a eles. O poder do moderno é baseado na "objetividade". Mas, (...)
-
Cervantes (Quixote:XII) – o espelho da comédia
29 de novembro de 2020, por Cardoso de Castro
[CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. Tr. de Almir de Andrade e Milton Amado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017 (epub)]
[CERVANTES, Miguel de. D. Quixote de La Mancha (1605). Tr. Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho (1809-1876) e Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875). eBooksBrasil.com, 2005, (epub), Capítulo XII]
Almir de Andrade e Milton Amado
— Nunca os cetros e coroas dos imperadores farsantes foram de ouro puro — observou Sancho Pança —, (...)
-
Hesse (HOA:1) – uma caminhada na primavera
22 de novembro de 2020, por Cardoso de Castro
[HESSE, Hermann. Hymn to Old Age. Tr. David Henry Wilson. London: Pushkin Press, 2012 (ebook), "A WALK IN THE SPRING"]
tradução do inglês
UMA VEZ MAIS AS PEQUENAS gotas de lágrimas brilham nos botões das folhas resinosas, as primeiras borboletas abrem e fecham seus finos mantos de veludo e os meninos brincam com piões e bolinhas de gude. É a Semana Santa, repleta de sons transbordantes, carregada de memórias de ovos de Páscoa de cores deslumbrantes, Jesus no Jardim do Getsêmani, Jesus no (...)
-
Yourcenar (MA:20-22) – amor
6 de novembro de 2020, por Cardoso de Castro
YOURCENAR, Marguerite. Memórias de Adriano. Tr. Maria Calderaro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, p. 20-22
Os cínicos e os moralistas concordam em colocar a volúpia do amor entre os prazeres ditos grosseiros, como o prazer de comer e de beber, declarando-a, contudo, menos indispensável do que aqueles, visto que podem perfeitamente prescindir dela. Do moralista tudo se espera, mas espanta-me que o cínico se tenha enganado. Admitamos que uns e outros receiem seus próprios demônios, seja (...)
-
Pessoa (LD:PLV80/149) – homem
12 de agosto de 2020, por Cardoso de Castro
Excerto de PESSOA, Fernando. Livro(s) do Desassossego. São Paulo, 2017 (edição digital, formato epub)
Muitos têm definido o homem, e em geral o têm definido em contraste com os animais. Por isso, nas definições do homem, é frequente o uso da frase “O homem é um animal...” e um adjectivo, ou “O homem é um animal que...” e diz-se o quê. “O homem é um animal doente”, disse Rousseau, e em parte é verdade. “O homem é um animal racional”, diz a Igreja, e em parte é verdade. “O homem é um animal que usa de (...)