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Barbuy: Pavlovismo como Teoria da Vida

sexta-feira 8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

  

1. O pavlovismo se apresenta como o último remanescente das interpretações mecânicas da vida. Formulado no estilo e no espírito das teorias mecanicistas do século XIX, não ultrapassa os quadros do positivismo   e constitui ainda hoje, como teoria, uma re-exposição do naturalismo científico. Como todo positivismo do século XIX, a teoria de Pavlov pretende ser o resultado de um rigoroso método indutivo, uma interpretação da vida fundada em experiência de laboratório, com a redução da qualidade à quantidade, do vital ao inerte, do psíquico ao físico e do espírito à matéria.

O pavlovismo como fisiologia parece ter alcançado qualificação definitiva no mundo da ciência; pragmaticamente seus resultados são conhecidos na pedagogia, na obstétrica, na psiquiatria, na sociologia. Mas o pavlovismo não pretende cingir-se ao campo da fisiologia; pretende ser uma nova interpretação dialética da vida, uma nova psicologia, uma nova ginecologia, uma nova teoria da evolução.

As experiências de Pavlov e seus discípulos puseram em relevo um fato que, com denominações diversas, foi reconhecido desde todos os tempos; sucede com o reflexo condicionado o mesmo que com o inconsciente: antes de se tornarem objetos de experiências científicas foram o fundamento de experiências vitais; depois de soterrados pela ciência reaparecem ’como produtos e descobertas científicas. Assim como o inconsciente, sob diferentes nomes, sempre foi considerado um depósito secreto de vivências esquecidas e atuantes, assim também o reflexo condicionado sempre foi parte importante da experiência educativa; a educação, desde idades remotas se funda na criação de reflexos condicionados aos estímulos adequados a cada cultura: o hábito da repetição dos gestos, das palavras e dos rituais em todas as culturas antigas mostra a importância que se atribuía ao condicionamento das respostas psíquicas e físicas aos sinais fixados em cada tradição; toda disciplina automática é condicionamento de reflexos. A virtude — como o vício — é hábito segundo os escolásticos; e o hábito é moralmente definido como facilidade e prontidão em repetir atos que podem gerar semelhantes. Se a fisiologia dos reflexos não foi objeto de investigações sistemáticas antes de Pavlov, nem por isso é menos evidente que a sua psicologia e a sua prática são de todos os tempos.

A originalidade do pavlovismo não está pois em haver mostrado que existem reflexos condicionados; a originalidade do pavlovismo está em haver procurado esclarecer o mecanismo dos reflexos, transformando-os em objetos de experiências de laboratório. Tais experiências partiram da possibilidade de considerar o organismo vivo como um centro de respostas automáticas aos estímulos do mundo externo. A possibilidade de considerar a vida como automatismo implica uma temática filosófica; e como conjunto de experiências provocadas e fatos verificados, o pavlovismo, abstraída a sua contribuição à fisiologia, se esforça por fundamentar uma filosofia integral da vida, com a introdução até da terminologia hegeliana no campo da reflexologia.

2. Segundo a escola de Pavlov, os reflexos incondicionados constituem, em cada indivíduo, a herança da espécie, estabelecida no sistema nervoso do animal desde o seu nascimento. De acordo com o pavlovismo, os reflexos incondicionados são comportamentos fixados no decurso da evolução; fixaram-se esses comportamentos a fim de que o organismo pudesse reagir com regularidade aos estímulos fixos do meio ambiente; os reflexos incondicionados são o que a psicologia normalmente denomina os instintos; constituem uma explicação dos “instintos”; os instintos, segundo o pavlovismo, são um conjunto de respostas reflexas, que a evolução tornou incondicionadas, mas que em origem foram condicionadas por estímulos exteriores; os reflexos incondicionados são os próprios reflexos condicionados que se fixaram evolutivamente, graças à permanência dos estímulos exteriores; é a regularidade das mesmas respostas aos mesmos estímulos do meio ambiente. Esta reflexologia, criada pela evolução e tornada por ela permanente, é um dos pontos básicos com que o pavlovismo procura uma explicação do processo evolutivo, segundo foi concebido por Darwin. Não podendo ilustrar com experiências práticas a conversão dos reflexos condicionados em incondicionados, o pavlovismo formula, fora da experiência, uma teoria que poderia ser contraposta às verificações de Weissmann sobre a continuidade do plasma germinativo. Weissmann, apesar de discípulo de Darwin, não conseguiu atestar a transmissão hereditária dos caracteres adquiridos; chegou à conclusão oposta, que é a da teoria da continuidade do plasma germinativo e consequentemente da não transmissão, por via germinativa, dos caracteres adquiridos; sem essa transmissão — que é contestada pelas experiências de Weissmann e Mendel — desabava o suporte fundamental do darwinismo porque se os caracteres adquiridos não são transmissíveis, como explicar a origem das espécies umas pelas outras? — Este problema, como é evidente, não tem a menor importância filosófica para a explicação da vida e das suas origens; o evolucionismo não é incompatível nem mesmo com Aristóteles e Santo Tomás e há escolásticos que são evolucionistas; mas é interessante observar que, fora ou antes de qualquer experiência genética definitiva, o pavlovismo tem como pressuposto que o reflexo que se torna incondicionado se transmite por via hereditária, constituindo patrimônio da espécie, conservado por via fisiológica, exatamente como pensava Théodule Ribot em sua vetusta teoria da hereditariedade.

Assim, segundo o pavlovismo, os reflexos incondicionados são aqueles que se tornaram estáveis, inatos, e são explicáveis pela adaptação do organismo às condições permanentes do meio. Mas, que entidade é esta que se chama organismo? — Se o organismo é um centro de respostas condicionadas e incondicionadas aos estímulos do meio ambiente, é preciso que o organismo seja algo distinto dessas respostas; é preciso que o organismo se organize a si mesmo como centro de resposta; é preciso no mínimo que o organismo seja um todo, superior à cadeia dos reflexos, uma entidade anterior aos reflexos e capaz de condicionar os reflexos. Toda teoria do reflexo condicionado supõe a adaptação do ser vivo ao meio; mas, se essa adaptação depende do psiquismo do ser vivo, a explicação há de ser modificada, porque não é a adaptação que faz o ser vivo e sim o ser vivo que faz a sua adaptação, A reflexologia deve supor algo anterior ao reflexo e capaz de condicionar o reflexo. A vida, na expressão do seu todo psico-físico, não é soma de órgãos, nem muito menos soma de reflexos e sim um todo anterior às partes; aristotelicamente pode-se dizer que as partes são partes justamente porque são partes de um todo, fora do qual não são partes de nada; e esse todo não é soma e sim totalidade; a organização do organismo é a condição da possibilidade do reflexo e não inversamente, porque os reflexos não seriam explicáveis sem o organismo. Foi um dos méritos da Gestalttheorie haver demonstrado que o organismo reage todo inteiro a cada estímulo e que os reflexos perdem assim a sua predominância e principalmente o seu automatismo, porque o indivíduo é um todo que dirige as partes e não uma soma de reflexos. Se os instintos são reflexos incondicionados que já foram em sua origem condicionados, como se poderia explicar esse condicionamento sem uma faculdade psíquica primordial, responsável por ele? — No entanto, essa condição psíquica primordial e anterior, não pode ser admitida pelo pavlovismo, porque a reflexologia é uma explicação quantitativa e mecânica da vida psíquica e concebe o organismo como soma de órgãos e a vida como produto de reflexos. No pavlovismo não cabe o indivíduo na acepção de individuum, como todo independente das partes.

O legítimo fundador do transformismo, que é Lamarck, teria reconhecido coerentemente a existência de uma faculdade em si do organismo, o qual se transformava por via de adaptação; mas o pavlovismo, herdeiro que é do sensualismo e das teorias psicológicas da associação, não pode transpor os limites da interpretação mecânica do movimento vital. Uma vez eliminada a alma como princípio intrínseco de vida e como forma da matéria, ou bem se admite uma sabedoria infusa do organismo, ou bem se incorre na contradição pavloviana de considerar o organismo como efeito das cadeias de reflexos dos quais em verdade é causa.

O incondicionamento de reflexos que já foram algum dia condicionados e que se fixaram graças à constância dos sinais que os determinaram e uma vez fixados se transmitiram hereditariamente, tornando-se estáveis e inatos e enriquecendo a herança da espécie, constitui no dizer mesmo de Pavlov “uma forma do mecanismo da evolução”. Mecanismo da evolução! A obra teórica de Pavlov reedita todo o naturalismo-científico do século XIX e retoma as teses básicas de Spencer, que foi na verdade o primeiro a considerar os instintos como reflexos fixados pela evolução. Linguagem estranha depois de Bergson   e Boutroux! — Depois de todas as considerações contidas na teoria de Boutroux sobre a contingência das leis da natureza e todas as críticas movidas ao spencerismo pela teoria bergsoniana da evolução, não se pode conceber, sem evidente absurdo, nenhum mecanismo da evolução, porque todo mecanismo é repetição, e a evolução é a negação do repetido. A evolução é a criação perpétua do novo, dizia Bergson, porque, se nada se cria de novo não pode haver evolução. E não se vê como a incorporação de novos reflexos incondicionados possa enriquecer a herança da espécie sem criar algo de novo, sem negar a mecânica da repetição. Se o reflexo se incondiciona pela repetição indefinida dos mesmos movimentos em face dos mesmos estímulos, toda vez que um novo reflexo se insere no todo vital, a repetição se quebra e acontece algo de novo, que não é a repetição mecânica do velho.

Se por outro lado a noção de meio for examinada à luz das concepções biológicas vitalistas (por ex. J. von Uexküll   e Hans Driesch), não se sabe o que fazer com o meio, qual o concebe o pavlovismo, no estilo do naturalismo-científico, como um quadro físico permanente, no qual se desenrola o acidente da vida. O meio não é o mesmo para todos os indivíduos, nem para todas as espécies. O meio do vegetal não é o do homem, nem o do animal. O animal não se move no meio em que nos movemos, porque é certo que em larga margem o meio é projetado pelo ser vivo e há, subjetivamente, tantos meios quantos são os indivíduos, os gêneros e as espécies. É mais fácil conceber o ser vivo como adaptando o meio a si, do que concebê-lo como produto passivo da adaptação ao meio. Ninguém sabe se o meio físico formula estímulos imutáveis ou se somos nós que concebemos como imutáveis os estímulos que pomos no meio físico.

Segundo o pavlovismo há duas espécies de meios: o imutável e o mutável. Se todo meio fosse imutável, os reflexos incondicionados bastariam para garantir a sobrevivência do organismo. Mas o pavlovismo descobre que o meio, além dos seus caracteres constantes, tem também inúmeros caracteres mutáveis, aos quais o organismo deve adaptar-se para sobreviver. Os reflexos condicionados, ao contrário dos incondicionados, são respostas mutáveis, graças às quais se opera a adaptação do organismo a traços do ambiente igualmente mutáveis. Esses reflexos condicionados são adquiridos, temporários, ocasionais, característicos do indivíduo. As experiências de Pavlov e seus discípulos mostraram que os reflexos condicionados só se formam quando associados a manifestações dos reflexos incondicionados. Isto torna ainda mais inexplicável o incondicionamento dos reflexos a que normalmente se dá o nome de instintos. O problema se põe novamente porque se os reflexos incondicionados foram algum dia condicionados, como poderia o organismo ou ainda a célula inicial, ter sobrevivido sem eles? O incondicionamento dos reflexos essenciais (que Pavlov distingue dos acidentais), ou seja, a adaptação fundamental do organismo ao meio interno e externo, como poderia ter-se dado sem que o organismo fosse uma totalidade anterior, sem que tivesse uma capacidade interna de adaptação? E com esta capacidade interna, deve-se admitir uma subjetividade primordial, gerando a adaptação como movimento de dentro para fora e não de fora para dentro.

O fato de que só se podem condicionar reflexos temporários sobre a base dos permanentes, leva a supor que toda a reflexologia fica sem explicação se não se apoiar numa base mais ampla, que é a vida. É a vida que explica a reflexologia e não inversamente. A vontade intrínseca de viver, por exemplo, não pode ser explicada por nenhum reflexo. Este querer viver, de que a experiência existencial poderia de há muito ter dissuadido o ser vivo, se torna tanto mais inexplicável quanto mais se eliminam os fins da vida, que não cabem nos horizontes do naturalismo científico.

3. Esta eliminação do sentido e dos fins da vida se faz pela redução de toda realidade a supostos fatos e séries de fatos e pela interpretação mecânica e puramente fisiológica do todo vital. A explicação do psíquico pelo fisiológico e a redução da psicologia à fisiologia é característica marcante do pavlovismo.

É certo que o sentido da dignidade da vida em geral e da vida humana em particular decaiu na medida em que prosperaram o determinismo e o mecanicismo com sua noção do ser vivo, concebido à imagem e semelhança da máquina e quando a fisiologia foi vista como a ciência do funcionamento das engrenagens, das cargas e descargas, das polias e das válvulas do aparelho orgânico. Tal noção da vida, onde a preocupação com o funcionamento das partes ocupa o lugar conferido outrora às finalidades do funcionamento do todo, está intimamente ligada à degradação da ideia de homem: a afirmação das finalidades últimas da vida não era compatível com a transformação do homem num objeto qualquer da natureza, manipulável pela técnica científica como qualquer outro. Para que o homem se tornasse objeto das manipulações científicas, era preciso concebê-lo previamente como um acidente qualquer da natureza, pura quantidade corporal, mecanismo complexo, vazio de toda interioridade. Pavlov, como representante do “naturalismo” é apenas o resultado dessa concepção. Pavlov nasceu no século XIX, quando o homem se tornou realmente o “homo oeconomicus” e foi claramente concebido como instrumento da produção; era pois inevitável que uma ciência como a reflexologia lançasse as bases de uma nova mecânica do comportamento. Dizemos mecânica do comportamento. Há discípulos de Pavlov que pretendem não ser o pavlovismo uma interpretação mecânica do fenômeno vital. Repelem como inadequadas as expressões mecânico e mecanismo; negam por exemplo que o sistema nervoso seja um mecanismo; negam a localização mecânica da sensação dolorosa; mas negam apenas verbalmente, porque na realidade quando explicam tais fenômenos não conseguem ultrapassar o mecanicismo; veja-se por exemplo o número da revista La Raison, dedicado ao pavlovismo pelos seus discípulos franceses; na pág. 4 nega-se que o sistema nervoso seja mecanismo; mas em seguida o sistema nervoso é explicado de maneira visivelmente mecânica. Nega-se que o reflexo seja um mecanismo; mas, por toda parte e particularmente nas págs. 29, 34, 39, 132, 136, 206 e 215, o reflexo aparece claramente como função mecânica; negam que a memória seja mecânica; mas dão da memória explicações acintosamente mecânicas, cujo modelo é o que se encontra à pág. 107 da mesma publicação. São exemplos que se poderiam multiplicar indefinidamente percorrendo a obra de Pavlov (como, por ex.: Lectures on Conditioned Reflexes, de I. P. Pavlov, trad. inglesa, International Publishers, N. York, 2 vols.) e os inúmeros livros de seus discípulos. O fato é que o pavlovismo confunde a sensação com a excitação, reduz todo psíquico ao físico, usa a linguagem do “receptor especializado”, da “estimulação direta”, do “canal condutor”, etc.

Não é privilégio do pavlovismo pensar que procura inutilmente uma linguagem científica que não incorra na mecanização do vital; segundo Bergson, toda explicação científica é necessariamente mecânica e o pavlovismo não difere de outras teorias quando confunde o movimento com a mobilidade, quando se vê incapaz de apreender o tempo sob outra forma que não seja a de um espaço de tempo; quando em suma considera o organismo e a vida, o tempo e o espaço como puras quantidades. Segundo Meyerson, a ciência não pode explicar nada, porque não capta o heterogêneo, não sabe o que a realidade é, desde que só consegue explicar o mesmo pelo mesmo, o idêntico pelo idêntico, não explicando cousa alguma.

Não se julgue porém que o pavlovismo interprete mecanicamente a vida por deficiência de linguagem, por não encontrar palavras que traduzam o inefável do fluxo vital. Ao contrário, o pavlovismo não vê nada de inefável no fluxo vital e tem uma linguagem perfeitamente adequada ao que quer dizer; não é por falta de palavras, mas por natureza, que o pavlovismo interpreta mecanicamente a vida em linguagem científica; o pavlovismo, por sua natureza, não pode dar da vida outra explicação que não seja a mecânica; sua linguagem não poderia ser outra senão a que é; por isso, há uma contradição nos discípulos de Pavlov que negam a mecanicidade do reflexo ou da evolução e depois explicam mecanicamente a evolução e o reflexo; esta contradição porém não se encontra no próprio Pavlov, que é declaradamente mecanicista. O pavlovismo se sente tão bem no reino das palavras, que pensa que as palavras são o reino da cultura, e se dissermos, por exemplo, que as palavras em si não são nada, que apenas exprimem e revestem outras realidades metafísicas e culturais mais fundas que elas, os pavlovistas não desconfiarão de nada. Uma filosofia cultural das palavras, ou a ideia de um espírito objetivo, qual foi concebido por Nikolai Hartmann, apareceria aos pavlovistas como algo completamente estranho, anti-científico e inteiramente fora de propósito. Porque há no pavlovismo certa inocência retardatária, que lembra o entusiasmo do século XVIII, quando descobriu a imagem do homme-machine e se admirou de que nunca antes tivesse ocorrido a ninguém uma descoberta tão elementar.

4. Mas a reflexologia tem valor inestimável como diagnóstico de uma época, para a qual toda manipulação do homem é, não só legítima como também necessária, desde que feita cientificamente. Descobre-se que o ser vivo é um conjunto de reflexos que podem ser alterados cientificamente. Um dos pressupostos do pavlovismo é que, se a experiência souber associar um reflexo condicionado a um incondicionado, o organismo vivo pode ser manipulado pela ciência no sentido que esta entender. Nesta linha, a massa das experiências e da bibliografia pavloviana é realmente impressionante.

Os reflexos condicionados se gravam sobre os incondicionados como um tecido de arcos reflexos sobre uma base fundamental. Essa base fundamental são os antigos instintos que constituem cadeias de reflexos incondicionados; esses reflexos básicos são pouco numerosos: reflexo alimentar, reflexo de investigação, reflexo sexual, reflexo de defesa e também, por estranho que pareça, reflexo de liberdade. De que liberdade se trata? — O reflexo pavloviano de liberdade confunde a liberdade com a espontaneidade. — O pavlovismo ignora que há um psíquico orgânico e um psíquico espiritual; ignora que o psíquico orgânico, que se manifesta nos instintos, se distingue do psíquico espiritual, que se manifesta na consciência.

Foi exatamente para não confundir os movimentos instintivos com os movimentos livres, que os escolásticos e em particular Santo Tomás distinguiram entre a vis aestimativa, a vis cogitativa e a vis intellectiva [1]. O ato espontâneo, como o voo do pássaro, como o crescer da árvore, esse “reflexo de liberdade” pode ser uma libertas a coactione, uma liberdade de coação, mas não uma liberdade verdadeira, uma libertas a necessitate; a liberdade não é um reflexo, mas uma faculdade radical, intrínseca, interna, que tem uma de suas manifestações precisamente na negação da resposta reflexa e automática; a liberdade, tal como existe, nega a reflexologia, porque consiste na possibilidade de escolha entre cousas diversas ou opostas, isto é, consiste em negar o automatismo da repetição reflexa. O ato livre não é oriundo do psíquico orgânico, mas da consciência, a qual implica a liberdade, porque implica a escolha, a possibilidade de atos diversos, em contraposição à resposta automática dos gestos uniformes. E por isso é que antigamente o ato humano foi concebido como excluindo os atos da vida negativa e sensitiva e os atos espontâneos, nos quais não há deliberação, nem liberdade. Nem mesmo o ato voluntário é necessariamente livre, porque a violência externa ou interna pode produzir atos voluntários, mas não livres. (Os escolásticos ensinavam que todo ato livre é voluntário, mas nem todo ato voluntário é livre). — Ora bem, o pavlovismo não vai além da confusão entre o ato espontâneo e o ato livre; considera livre o ato espontâneo, — porque não conhece o sentido da deliberação. Não distingue entre o ato espontâneo e o ato livre, porque não pode, dentro de seus limites, distinguir entre a natureza de uma resposta automática e a natureza do ato que procede de um princípio intrínseco, com conhecimento do fim.

Os psicólogos costumam dividir a personalidade em crosta e núcleo, o núcleo podendo ser o que a personalidade realmente é, e a crosta o que a personalidade se torna, adaptando-se e respondendo convenientemente às diferentes situações. E uma noção paralela à da sociologia, a qual, como é lógico, não tem por objeto o indivíduo como tal, inverbalizável e profundo, mas o indivíduo enquanto social, enquanto posto em relação com os demais; o indivíduo está então imerso no social, posto num status e executando um papel correspondente. Mas enquanto a psicologia sabe que a personalidade não se reduz à crosta, e enquanto a sociologia sabe que o indivíduo não se reduz ao papel, o pavlovismo pretende, ao contrário, reduzir o indivíduo à corrente dos reflexos. O pavlovismo só vê na personalidade o posto transmissor e receptor de perguntas e respostas adrede preparadas; só vê na personalidade o seu aspecto reflexológico, que é o que a personalidade não tem de livre, que é o que os psicólogos denominam crosta e os sociólogos papel. E por isso é que o pavlovismo exprime perfeitamente o reino da civilização mecânica, onde a personalidade é cada vez menos núcleo e mais crosta, onde a personalidade se torna ela própria mecânica e onde, efetivamente, a única liberdade que existe é uma certa espontaneidade, que não constitui a liberdade verdadeira.

Este problema da liberdade incide em cheio no pavlovismo, o qual, não só na obra de Pavlov, como também e principalmente na obra de seus discípulos, se apresenta como filosofia da evolução, teoria da vida, psicologia do comportamento (em parentesco estreito com o behaviorismo) e método de educação. O pavlovismo é uma fisiologia que tem por fim explicar, não só a vida orgânica, mas também toda a vida psíquica, considerada como a tradução dos estados fisiológicos e em particular das glândulas endócrinas e do córtex cerebral, com seus “stereotypos” e seus mosaicos de reflexos, que foram largamente estudados pela corrente pavloviana. “O condicionamento é a lei do córtex cerebral”, diz um pavloviano. Ora, como “lei do córtex cerebral”, o condicionamento é uma lei da vida; a vida se explica assim de modo totalmente fisiológico; o psíquico espiritual se reduz ao orgânico e o psíquico orgânico não é senão uma rede de reflexos, extremamente complexos, cujo esclarecimento e modificabilidade é a suprema tarefa da ciência: Tal o pressuposto do pavlovismo.

5. As experiências mais correntes e mais fáceis do pavlovismo são aquelas que consistem em associar uma série de respostas reflexas ao instinto fundamental da fome. As experiências sobre a salivação dos cães tornaram-se clássicas. O bater de um metrônomo faz salivar um cão à representação da carne, se toda vez que lhe derem carne fizerem preceder esse ato pelo bater do metrônomo. O metrônomo estabelece na zona cortical um arco reflexo, que nos animais superiores se condiciona rapidamente (o condicionamento de reflexos é possível até nos peixes, cujo córtex é dos mais rudimentares); o reflexo estabelece a ligação entre um estímulo do meio ambiente e um centro cortical, mas essa ligação é temporária, desaparecendo brevemente, se a experiência não for repetida. O reflexo simples da salivação ao soar do metrônomo pode ser enriquecido e tornado cada vez mais sutil segundo a capacidade do paciente e a vontade do experimentador; pode-se por exemplo condicionar o reflexo fazendo com que o cão salive tantos ou quantos segundos ou mesmo minutos depois de cessado o som do metrônomo. Podem determinar-se reflexos em cadeia e pode-se, principalmente, depois do fenômeno da excitação, determinar o reflexo da inibição. Dá-se o caso da inibição externa, por exemplo, se ao metrônomo, que desencadeia a salivação, se associar inesperadamente um excitante não habitual, como o toque estridente de uma campainha; produz-se imediatamente a reação incondicionada da atenção e da defesa; e o precário reflexo condicionado da salivação se extingue subitamente.

Esta mecânica da excitação e da inibição, sugerindo a ideia da antítese, foi já transpolada para a terminologia filosófica, como ilustração de uma dialética do sistema nervoso; tese, a excitação; antítese, a inibição; síntese, o reflexo condicionado, visto como fusão temporária dum excitante indiferente e de um excitante incondicionado. Hegel teria talvez aprovado esta linguagem, típica do seu método; mas há nesta transpolação um erro grosseiro, porque a síntese — reflexo — não é aqui senão uma síntese da análise, isto é, uma decomposição do todo em suas partes e uma soma artificial dessas partes na recomposição do todo. A dialética hegeliana é um jogo e uma sucessão de antíteses sustidas pela unidade do Espírito subjacente, que se torna uma infinidade de outros sem deixar de ser sempre si mesmo. Mas esta dialética, uma vez abolido o Espírito que lhe dá unidade e sentido, se converte aqui num recurso linguístico da mecânica pavloviana; não havendo o substractum metafísico do Espírito, ou da Vida, mas apenas o jogo dos contrastes, a dialética fica sendo apenas um jogo pelo jogo, uma escolha arbitrária de teses e antíteses sem sentido, a menos que se restaure alguma unidade do metafísico, na variedade das manifestações dialéticas. Se os discípulos de Pavlov não se detiverem a tempo no uso da terminologia hegeliana, correrão o perigo de transformar a fisiologia dos reflexos numa espécie de panlogismo do absurdo. Porque a dialética de Hegel só tem sentido no idealismo absoluto de Hegel.

6. A reflexologia mostrou que a inibição põe em atividade centros nervosos de importância para a sobrevivência do animal, suprimindo a reação temporária estabelecida pelo excitante. Esta atitude de defesa cede quando o novo excitante se repete muitas vezes, tornando-se habitual: recomposto o quadro da experiência com o novo ingrediente, pela repetição constante, por ex., do toque estridente da campainha associado ao do metrônomo, o reflexo se recondiciona subordinando-se ao metrônomo e à campainha. Era apenas uma inibição “externa”, um dos fatos que revelam a extrema plasticidade do conjunto vital.

Outro fato é a inibição “interna”: é o caso em que o próprio excitante condicionado se transforma em inibidor. Se um cão está habituado a receber o alimento condicionado pelo metrônomo e se, a partir de certa fase do condicionamento, começamos a aplicar o metrônomo sem o alimento, ao cabo de algum tempo o metrônomo não só não produz mais a salivação, como ainda a inibe. Este fato é frequentemente explicado pelos pavlovianos como dialética de centros nervosos que se galvanizam; mas esta explicação é falsa como as demais, porque não leva em conta a totalidade do ser vivo como unidade animada por um princípio superior às partes; a plasticidade do organismo só é possível porque o organismo reage como um todo e não como uma superposição de partes; os reflexos e suas inibições põem em relevo a impossibilidade das teorias mecânicas do comportamento e sublinham, ao contrário, a organicidade do animal, que é a base e não o efeito das cadeias de reflexos. Longe de ver, na maleabilidade dos reflexos, a inteligência que rege as formas da vida, os pavlovistas não vêm outra cousa senão a possibilidade de manusear indefinidamente os seres vivos, convertendo-os em robôs da ciência.

Sabe-se que, uma vez obtido, o reflexo pode ser modificado segundo o capricho do cientista. Quando um cachorro foi condicionado a receber o alimento anunciado pelo metrônomo, novos condicionamentos podem retardar ou apressar a manifestação do reflexo salivar; facilmente os experimentadores obtêm que a salivação comece um minuto depois do término da aplicação do excitante. Podem alterar o ritmo do metrônomo; quando este bate na cadência de oitenta por minuto, não será dado alimento ao animal: quando bate a 120 é dado o alimento; ao fim de certo tempo, o ritmo de oitenta não produz mais a salivação; mas o ritmo de 120 se torna o excitante do reflexo, isto é, condiciona certo comportamento reflexo das células corticais. São experiências de extinção, de retardamento e de diferenciação, nas quais varia, segundo confessam, não mais o excitante externo e sim a relação interna.

Examinando os arcos reflexos divisíveis e sub-divisíveis, estudando os mecanismos corticais e sub-corticais, levantando o mapa dos mosaicos nervosos, os pavlovistas declaram, com a maior gravidade filosófica, que a finalidade dos reflexos é sempre estabelecer a adaptação do organismo ao meio externo e interno; e que por isso os estímulos excitantes ou inibitórios podem ser igualmente “internos” e “externos”.

Toda a reflexologia supõe a adaptação do ser vivo ao meio; é o meio que modela o ser vivo; mas, por outro lado, se essa adaptação depende do psiquismo do ser vivo ou ainda, se o que muda nas experiências da inibição interna não é o excitante externo, mas as relações internas entre o estímulo e a resposta, como explicar o psíquico pelo fisiológico, se aqui se dá justamente o contrário, isto é, se aqui o psiquismo determina a alteração dos arcos reflexos? — O pavlovismo traz esta contradição que afirma insistentemente o psiquismo como emanando do fisiológico, mas em seguida explica os processos nervosos como produtos do psiquismo.

O reflexo é sempre psíquico e altera o físico. Nisto se funda a terapêutica pavloviana, tanto na psiquiatria, como na ginecologia, quando, por via psíquica altera as circunstâncias fisiológicas da neurose ou do parto. Tudo indica que os arcos reflexos da zona cortical são efeitos e não causas do condicionamento, o qual é sempre psíquico. Mas o pavlovismo trata o psíquico como fotocópia do físico e por isso, na linguagem pavloviana, a medula espinhal, o bulbo, o córtex e o sub-córtex aparecem como forças propulsoras do reflexo, quando a experiência revela exatamente o contrário.

O problema se põe também de outro modo, porque os reflexos não seriam possíveis se as experiências anteriores não fossem guardadas na memória; e a memória pavloviana é apenas a memória cortical, aquela memória de repetição e automatização que Bergson demonstrou poder estar situada realmente no cérebro. Mas, assim como o pavlovismo não poderia nunca explicar o psíquico espiritual, assim também não poderia nunca interpretar a memória do espírito. Bergson demonstrou que a memória espiritual não pode estar situada no cérebro; o córtex e o sub-córtex responderão, quem sabe, pela memória automática; mas, a memória verdadeira, ou seja, a memória imaginativa, a memória criadora, que negam todo automatismo, não poderão nunca ser explicadas reflexologicamente. Tudo o que se passa no psíquico deve ter sua contrapartida no físico e inversamente; o exame do físico pode diagnosticar o psíquico; mas disto não se infere que o psíquico se possa explicar pelo físico, porque o psíquico transborda do físico em todas as direções. E uma teoria como a dos pavlovistas, que reduzem o mais ao menos, que fazem emanar o espírito do corpo, teoria que transuda o materialismo já tão velho do século XVIII, não pode atualmente subsistir senão como sobrevivência histórica. De fato, o fisiologismo pavloviano é contraditado pelas experiências metapsíquicas e pela psicologia do inconsciente, desde Freud   até Jung  , além de ter sido completamente expulso do âmbito filosófico, pela crítica que fez ruírem os fundamentos do materialismo. O fisiologismo não é mais objeto de cogitações psicológicas, nem filosóficas.

7. A aplicação pavloviana do psiquismo dos reflexos se estende em muitas direções. A fisiologia dos estados dolorosos é um dos campos prediletos da escola pavloviana. Sabe-se que o reflexo condicionado supõe a base do incondicionado. Porém, um reflexo incondicionado de defesa pode ser convertido artificialmente em reflexo condicionado alimentar; uma excitação elétrica dolorosa, que incondicionalmente põe a vítima em atitude defensiva, pode ser transformada em excitante alimentar. Deste fato concluirão, através de variadas experiências, que a dor é um problema de condicionamento de reflexos. O pavlovismo tratará pois de examinar a psicologia dos mártires sob a perspectiva de um condicionamento de reflexos que não é o habitual; e o pavlovismo denunciará facilmente, por este caminho, a histeria, o sadismo, o masoquismo dos santos e dos mártires, por um condicionamento especial de reflexos, em que os excitantes mais dolorosos se tornam motivos de prazer.

As suposições pavlovianas têm como fim mostrar que os santos suportaram com alegria os maiores tormentos, unicamente porque, no processo de análise e de síntese dos reflexos, o terminal dos “analisadores” nervosos, com seus receptores periféricos, seus nervos aferentes e suas terminações corticais, induziram um reflexo condicionado de prazer, sobre a base por exemplo do reflexo incondicionado sexual: Uma vez abolida para todo sempre a autonomia do espírito, que não passa de um epifenômeno do corpo, o mosaico funcional do córtex cerebral com seus esterótipos dinâmicos, explicará com a mesma facilidade o martírio de São Sebastião e a autoflagelação do neurótico inveterado. Tal a teoria pavloviana. Mas o essencial escapa ao pavlovismo.

Se é possível estabelecer uma cadeia de reflexos tão prodigiosa que transforme as dores mais insuportáveis em fontes de alegria, então o pavlovismo, que nega o espírito, deve supor da parte do organismo uma sabedoria infusa que permita uma auto-educação total, dirigida segundo a vontade do agente. O elemento perturbador do pavlovismo é justamente essa Vontade, que se manifesta como força organizadora do reflexo e que não se pode explicar pelos estereótipos dinâmicos, nem por toda a rede nervosa do córtex e do sub-córtex. Se aprendo a falar grego, organizo no meu cérebro uma região cortical que alojará o novo conhecimento; faço para tanto um esforço, que meço pela facilidade ou dificuldade com que organizo a nova região cortical; que desconhecida entidade é essa que em mim faz o esforço do aprendizado? Devo supor em mim uma faculdade extra-corporal que organiza e educa as minhas regiões cerebrais, sem o que chegaria ao absurdo pavloviano de pensar que o cérebro por si mesmo resolve apreender, delibera fazer um esforço e se organiza a si mesmo para alojar um conhecimento cuja existência ignorava. Na psicologia dos mártires, se lhes foi possível suportar o sofrimento com alegria, não foram os reflexos que se organizaram a si mesmos e sim a vontade dos santos que organizou os reflexos.

O pavlovismo, como qualquer outro materialismo, é incapaz de compreender a dor como dor; só pode compreender a dor de duas maneiras: ou como forma de masoquismo ou confundindo a dor psíquica e a dor espiritual com a dor física: ambas as maneiras de compreender a dor se reduzem a uma só; se a dor física é suportada com tranquilidade, o fisiologismo não poderá jamais compreender que não seja masoquismo puro. Não caberia nos seus quadros uma psicologia do sentido do sofrimento, porque se tudo é físico, nada tem sentido; sentido e realidade não pertencem ao domínio da fisiologia.

A reflexologia não consegue afinal esclarecer o fundamento dos reflexos, que nascem de uma tensão para a vida. Aplica-se a um cão a prova da agulha elétrica, que o põe em atitude de defesa, fazendo agir um reflexo básico. Mas, com o tempo, a agulhada elétrica se torna o sinal do alimento que vem depois dela; associam-se os dois reflexos com o estabelecimento da ligação entre os centros nervosos sub-corticais (sede do reflexo incondicionado) e os competentes centros nervosos corticais (sede do reflexo condicionado); o cão recebe a agulha elétrica alegremente porque sabe que é o sinal que precede a alimentação: a agulha penetra o animal até o osso, fazendo-o sangrar, sem que o reflexo de defesa se manifeste. — Que significa esta experiência? Significa que o essencial é o inexplicável instinto para a vida e que a dor é suportada ou anulada, porque anuncia, não a morte, mas um elemento vital. Significa que o instinto da vida se afirma contra a dor, que se manifesta como o preço da sobrevivência. A dor, que é um índice do negativo, se extingue ou é superada pela afirmação da vida. Posto em condições tais que só possa sobreviver absorvendo, anulando ou superando a dor, o animal não sente a agulhada porque está todo tendido para a vida. A dor pode tornar-se fonte de superação e alegria quando afirma o poder da vida. Esta experiência leva a Nietzsche   e não a Pavlov.

Por outro lado, não há nada mais gratuito do que supor que os santos não sofreram as dores do martírio: o martírio indicava realmente a morte física; punha em perigo todas as forças vitais físicas; não se apresentava como o preço da sobrevivência física; era o sinal claro e ineludível da morte. E se os mártires puderam suportar sem desfalecimento os suplícios mais indizíveis, não sendo esses suplícios o meio da sobrevivência física, a conversão reflexológica dificilmente poderia explicar o fato. Nenhuma conversão reflexológica poderia anestesiar a dor inflicta ao mártir pelo azeite fervente que engoliu ou no qual está mergulhado até o ventre. Não é a reflexologia que vai explicar a satisfação de ser devorado vivo por duas ou três feras famintas.

A explicação reflexológica do estado doloroso não atinge na dor o essencial, que é o seu sentido. A dor, quando vista acima da sua perspectiva física, é algo que atravessa e constrange a vida, como um elemento contrário, diabólico, que ofende a plenitude da existência. Sua origem transcende o físico em que se estampa. A dor, vista na sua amplitude, como ruptura do equilíbrio e do ritmo vital, é de ordem metafísica e não de ordem fisiológica. Não cai sob o domínio da ciência porque não é mensurável como a quantidade. É uma intensidade posta entre a vida e a morte. A dor não é uma sensação, mas um sentimento. Existe a dor mórbida. Existe a dor santificada. Existe a dor alegre. Existe a dor desesperada. Mas a dor não é capítulo da reflexologia, nem mesmo como sensação. Porque os mesmos nervos aferentes, com a mesma indiferença, transmitirão ao mesmo arco reflexo muitas dores de sentido diferente. Assim as mesmas glândulas lacrimais funcionam tanto para a alegria, como para a tristeza.

8. Se o excitante doloroso do reflexo incondicionado pode tornar-se indiferente, desde que se converta no excitante de um reflexo agradável, como no caso das pontadas elétricas que precedem a alimentação da cobaia, a conclusão é que, com muito maior facilidade as dores do parto podem ser completamente abolidas pelos descondicionamento dos reflexos adquiridos. Desfeitos os reflexos ancestrais, as contrações uterinas que antecedem o parto e expulsam o feto, deixam de ser sinal de alarme cuja réplica habitual era a dor. Trata-se então de estabelecer novo arco reflexo, a partir da transformação das contrações uterinas em sinal de resposta indolor; esta resposta facilita o parto e favorece a criança, outrora perturbada pela ansiedade e os gritos da mãe.

Mas, se é possível descondicionar tão rapidamente (a partir, por exemplo, da trigésima semana de gestação) um reflexo que durante milênios as religiões e os preconceitos inculcaram no espírito feminino, como pode dar-se esse processo senão pela predominância absoluta do psíquico espiritual sobre o fisiológico, pela colaboração inteligente da parturiente, em suma, pela intervenção no processo do parto de uma força que, não só não procede do fisiológico, como, ainda, altera rapidamente um comportamento a que o fisiológico estaria habituado desde tempos imemoriais? — Se é tão fácil assim destruir em poucas semanas um reflexo condicionado durante milênios, que motivo temos para admitir a hipótese de que a origem dos instintos está no incondicionamento de reflexos condicionados? — Que o parto doloroso tenha sido a lei de todos os tempos, é cousa de que historiadores, etnólogos e sociólogos podem duvidar, mas de que os discípulos de Pavlov não duvidam. Defendem ao contrário a tese da idade imemorial do parto doloroso; citam o Gênesis e citam Isaías em abono dessa hipótese. E o interessante é que um reflexo fisiológico, automático, milenar, que deverá estar gravado seriamente nas células corticais, se desfaz assim com tanta facilidade, em seis semanas e por via puramente psicológica! — Ao contrário do que dizem os pavlovistas, há aqui uma divergência inextirpável entre a prática e a teoria. No pavlovismo, os fatos se rebelam constantemente contra a teoria que pretende explicá-los. A teoria do reflexo condicionado entra apenas como ingrediente supérfluo, como excrescência, na prática do parto sem dor, chamado parto psychoprophylactico. Qualquer outra teoria fisiológica ou psicológica, ou mística ou metafísica poderia do mesmo modo servir de suporte à prática do parto indolor e o resultado seria absolutamente o mesmo. Ou antes, se um elemento perturba a teoria do parto sem dor, este é justamente o fisiologismo pavloviano.

Os parteiros pavlovianos, em seus livros sobre o parto sem dor, quando expõem os cursos habituais do parto “psicoprofilático” contradizem a teoria mostrando que a prática é puramente psicológica, seja na França, na China ou na Rússia. O parto sem dor não seria possível sem a colaboração inteligente da gestante. O método falha normalmente se aplicado a débeis mentais. Quando a mulher aprende, na primeira lição, o que são as maravilhas da fisiologia do reflexo, ela deve responder racionalmente aos sinais estimulantes, adaptando-se ao ato da maternidade. O médico lhe diz que durante milênios o parto foi doloroso porque lhe inculcaram no córtex, através das palavras, a fatalidade do sofrimento da parturição. Quando a mulher compreende o fato, só por isso o reflexo se desfaz, como um encantamento dos contos de fada. A palavra mágica foi dita. Só que neste caso, a palavra mágica tanto poderia ser da autoria de Grimm  , como de Pavlov. O importante não é a fisiologia, mas a compreensão de que o parto não precisa ser doloroso. A respiração, o relaxamento neuro-muscular, os exercícios de mobilização e desmobilização dos membros fazem parte do método psicoprofilático. É importante tratar a mulher com suavidade, eliminar a angústia e o sentimento de insegurança relativo a si e a seu filho; sugere-se um estado de profunda calma, que é essencial ao parto sem dor. Mas todo o trabalho do médico pode ser frustrado se a sogra ou a vizinha ridicularizam o parto sem dor. Mesmo que a parturiente conheça a fundo todos os segredos do pavlovismo, uma palavra da tia, um chiste do marido podem deitar todo o trabalho por terra e o parto se dará então com as velhas dores ancestrais. O método é educativo, sugestivo, persuasivo, hipnótico; o método depende da psyche da paciente.

9. O fato de que, no parto chamado psicoprofilático as contrações uterinas obtêm como resposta uma respiração adequada, um relaxamento muscular e uma colaboração ativa que suprime relativamente as dores, esse fato, longe de confirmar as teorias fisiológicas e psicológicas do pavlovismo, confirma somente suas práticas [2]. São práticas aliás rudimentares em face dos velhos processos hindus, que punham na respiração a chave da vida, porque, com a respiração nós nos comunicamos com o mundo exterior, com a grande alma cósmica — Atman —; e, postos em estado mental adequado, inspiramos a grande energia vital do Prana. Práticas difundidas em quase todas as religiões orientais mostram a possibilidade e cs métodos de transformação dos processos vitais. Na mesma linha, o faquirismo chega a resultados maravilhosos no domínio’ do corpo pelo espírito; e as religiões sempre viram a dor como o fruto do erro, do pecado e do vício; os métodos respiratórios yogas são universalmente conhecidos como capazes de eliminar a fadiga e as sensações dolorosas; mas para tanto, nunca esses métodos se fundaram em teorias fisiológicas. A fisiologia contida nos testamentos sagrados hindus, como por exemplo, a fisiologia dos plexos nervosos, tem como fim tornar mais eficientes os métodos espirituais de domínio integral do corpo. — Ao contrário, porém, do que sucede com a fisiologia sacra vedanta, a fisiologia de Pavlov perturba os métodos pavlovianos. — A preparação para o parto sem dor é um processo de persuasão psíquica, por via de sugestão anti-dolorosa. Sua explicação pelo jogo das atividades corticais pode cair num círculo vicioso em que essas mesmas atividades são susceptíveis de se apresentar como causa ou como efeito das atividades puramente psíquicas. O parto indolor revela em suma que o psíquico espiritual pode atuar sobre o físico, não por causa, mas apesar de todos os reflexos condicionados. [232]

10. Como tudo no pavlovismo prático depende do psíquico, era justo que Pavlov procurasse elaborar uma classificação dos tipos psicológicos, segundo as perspectivas da sua teoria fisiológica. A formação dos reflexos está em relação estreita com o tipo nervoso do paciente, seja animal ou homem. Segundo o tipo nervoso ou o estado emotivo do paciente, torna-se fácil ou difícil estabelecer as ligações corticais que formam ou decompõem os reflexos. Quanto ao estado emotivo, já vimos que basta que uma parturiente, solteira por exemplo, esteja preocupada com o que vão dizer do seu estado; ou que a família ponha em dúvida a eficiência do parto psicoprofilático, para que este último não tenha probabilidades de ser indolor. Segundo o pavlovismo tudo se explica pelo físico: mas inexplicavelmente, o essencial do parto sem dor é convencer a parturiente da sua eficiência. Se a parturiente é muito nervosa, se não se convence da eficácia do pavlovismo, ou se por acaso se recusa a abolir a angústia causada pela incerteza acerca do seu futuro ou do futuro de seu filho, então os médicos aplicam uma inibição pela sonolência, do tipo da hipnose. Sendo paciente tranquila, em cinco ou seis lições verbais, adquirirá uma fé inabalável no método e o método funcionará. O fato de que tudo é fisiológico não impede para o pavlovismo que tudo seja psicológico.

Quanto à diversidade dos tipos humanos, é este um mistério que desafia a ciência. Toda classificação é arbitrária e falsa; não corresponde nunca à realidade, onde só se encontram os tipos intermediários e não os tipos puros dos esquemas psicológicos. Os psicólogos sabem que a riqueza da vida se sobrepõe à pobreza dos esquemas. Pavlov com certeza quis traçar apenas um quadro ideal quando descreveu os quatro tipos de temperamento nervoso dos cães. Os tipos nervosos segundo Pavlov podem ser: fleugmático, sanguíneo, colérico e melancólico. Renasce deste modo a classificação feita por Hipócrates há muitos séculos e sem nenhuma base na fisiologia dos reflexos. Os quatro tipos nervosos correspondem indiferentemente a homens e cães; mas, a esta classificação se sobrepõe outra que só tem vigência para o tipo humano: tipo artístico, tipo intelectual e tipo intermediário. (Se esta classificação parece demasiado pobre a quem está familiarizado com as classificações de Spranger, ou René Le Senne, é preciso convir que é a única possível nos limites da psicologia [233] pavloviana, sempre contida teoricamente na esfera do fisiológico). A classificação pavloviana dos tipos nervosos está relacionada com o que o pavlovismo entende por cultura, ou seja, com o que os pavlovistas denominam segundo sistema de sinalização.

11. A concepção pavloviana de sinal e de cultura é a mais simples possível: a cultura é um sistema psicológico de sinalizações, um conjunto de excitantes, dentre os quais o mais importante é a palavra. (A palavra é um sinal ou um estímulo que fabrica ou anula reflexos).

Segundo a perspectiva em que nos coloquemos, o mundo nos aparece como conjunto de sinais divinos, sinais místicos, sinais escatológicos, símbolos e expressões do transcendente. Ou então, supondo que adotemos a pavlovismo e estreitemos a visão dos nossos horizontes até o ponto de não ver sentido em cousa alguma; ou ainda, se nos recusamos a procurar a essência dos símbolos e se negamos o significado das culturas, isto é, se caminhamos numa direção inversa à da orientação cultural de Jung, Kérényi e Walter Otto, neste caso o mundo nos aparecerá empobrecido, como simples conjunto de sinais unicamente biológicos e verbais.

Descartes  , a quem se atribui a honra de ter fundado a reflexologia, separava radicalmente o mundo do espírito e o mundo dos sentidos; os sentidos, segundo Descartes serviam unicamente a vida biológica; abolido o espírito, o pavlovismo conservou unicamente o biológico, com seus sinais, sensoriais e intelectuais, fazendo, além disso, do biológico um mecanismo de perguntas e respostas automáticas. Este mundo de sinais biológicos e verbais, com a exclusão de todos os outros, é o mundo dos sinais de Pavlov.

O mecanismo “dialético” do estímulo e da resposta, da excitação e da inibição, se encontra na definição pavloviana de sinal, segundo.a qual o sinal é um elemento primitivamente indiferente para o organismo, o qual traz uma reação biológica, desde que assinale um excitante absoluto. Quer dizer, o sinal, segundo Pavlov, é algo indiferente por si, mas que se torna sinal desde que se torne estímulo de uma resposta, ou causa de um reflexo; o metrônomo é um sinal porque, indiferente para a cobaia, torna-se depois excitante da salivação; e [234] quando se torna excitante, se torna sinal. O sinal é pois uma entidade puramente biológica no pavlovismo. O reino da cultura se reduz à sinalização biológica, transformada em palavras.

Não é preciso dizer que o pavlovismo é, de todos os materialismos, o mais incapaz de vislumbrar a essência da cultura. Dentro do pavlovismo é impossível compreender a multiplicidade das línguas e a individualidade de cada linguagem; é impossível compreender as manifestações multiformes da cultura e as diferentes visões do mundo. E é principalmente impossível compreender que a palavra em si não é nada, que o seu sentido, o seu destino, a sua biografia vêm dos recessos íntimos e impenetráveis das vivências culturais. O pavlovismo exprime tão bem a civilização, que para ele não há cultura; só há sinalização; só há sinais bio-verbais; mas esses sinais não são sinais de nada, porque não há nada além dos sinais no pavlovismo.

12. Segundo o pavlovismo, os sistemas de sinalização para o homem são dois: o primeiro, constituído pelos objetos que nos cercam, pelas suas imagens sensoriais, pelas emoções, pelo nosso corpo, que é fonte permanente de sinais. E o segundo, constituído pela linguagem, as palavras, as formas gramaticais que designam os objetos do primeiro sistema e suas relações objetivas. A colaboração entre os dois sistemas, sua interpenetração, suas relações íntimas, suas conexões são estreitas. A base porém é o primeiro sistema, são os objetos externos convertidos em sinais diretos. Sobre este mundo objetivo e material de sinais é que se erige o segundo sistema. No homem, para quem cada objeto tem nome e número, o primeiro sistema não se encontra em estado puro. O segundo sistema prevalece no homem e representa o sistema regulador da conduta humana. — Na ontogênese, o segundo sistema é muito mais recente e mais frágil que o primeiro; é ele que configura a “intelectualidade” humana, a representação da realidade e a generalização: mas tudo isto só é possível graças à palavra. A palavra é a representação do segundo sistema. E o segundo sistema é o que permite a ciência, o progresso, a ação do homem sobre a natureza. “A própria máquina cibernética nada mais faz do que devolver ao homem o que o homem nela pôs”, diz um pavloviano humanista. — O segundo sistema é fonte de invenção, de criação, de domínio. [235] A consciência cresce na medida em que se desenvolve o segundo sistema. E neste ponto, a psicologia pavloviana toma o sistema de sinalizações verbais de definições e de enunciados, como o reino da consciência e da cultura. O primeiro sistema, o das experiências diretas e vividas dos objetos, forma o inconsciente.

É dentro deste âmbito que se estabelecem os tipos nervosos próprios do homem; o tipo artístico, no qual a importância do primeiro sistema é excessiva; o contato direto com as realidades objetivas individuais, a emoção, a glorificação das imagens sensoriais, são característicos próprios do tipo artístico. No tipo intelectual, no qual dominam as definições, as generalizações, a ciência em suma, predomina largamente o segundo sistema de sinalização. No tipo intermediário ambos os sistemas se apresentam equilibrados e harmoniosos. Esses três tipos humanos se escalonam sobre os quatro tipo comuns a homens e animais. Porque, assim como os reflexos condicionados supõem os incondicionados, assim também os tipos humanos supõem os tipos animais.

Como é claro, a noção pavloviana de sinal e de tipo nervoso não visa apenas definir a cultura como conjunto de sinais biológicos e de suas traduções verbais. Visa também fins práticos e particularmente psiquiátricos: os tipos indicam maior ou menor resistência à neurose; a neurose é como a ruptura do equilíbrio e da harmonia entre a pergunta e a resposta, entre o estímulo e a reação. Segundo Pavlov o tipo colérico e o melancólico estão mais sujeitos a estados psicopatológicos do que o tipo sanguíneo e o fleugmático; todavia, em certas condições, nenhum tipo é bastante resistente para contornar a neurose.

Como filosofia da civilização, o pavlovismo sabe que a neurose é o preço da mecanização da vida nos grandes centros urbanos. Como contribuição indiscutivelmente valiosa para o diagnóstico da era industrial e da existência coletivizada, o pavlovismo estabelece que a neurose resulta de certas condições objetivas e que sua origem está na ação do meio sobre o organismo. — Mas, o que o pavlovismo não considera é que nem toda neurose é produto orgânico; é um exagero oposto ao daqueles psicólogos que atribuem exclusivamente ao inconsciente a função da patogênese nervosa. — Se, de acordo com [236] o pavlovismo, a origem da neurose está sempre nas condições objetivas, o tipo nervoso do paciente entra apenas como ingrediente que facilita ou dificulta a ação patogênica do meio. E esta ação patogênica do meio se define tecnicamente pelo modo segundo o qual os reflexos se formam (positivos ou negativos). Em princípio a neurastenia corresponde ao tipo intermediário; a histeria ao tipo artístico; a psicastenia ao tipo intelectual. Esta correspondência porém não é rigorosa: inúmeras experiências foram feitas sobre cães nos quais se provocaram neuroses artificiais; em certos animais, nos quais predominava o processo nervoso da inibição, manifestaram-se neuroses de excitação e inversamente. (Mas, a aplicação no ser humano dos resultados de tais experiências encontra uma dificuldade fundamental: e é que nos cães sabia-se o que é que provocava o estado angustioso; ao passo que no homem é justamente o que se procura saber.)

Segundo Pavlov, o tipo nervoso não é fixo: pode mudar segundo o meio, pois o organismo vivo é considerado exclusivamente produto do meio; assim, a mudança das condições de vida pode mudar parcial ou totalmente o tipo nervoso. O meio interno e externo conforma o tipo nervoso, de sorte que este tipo, no pavlovismo, deve ser determinado a partir dos seus reflexos, que são reflexos dos sinais do meio.

A importância patogênica da fadiga foi posta em grande relevo pelo pavlovismo, que por isso mesmo introduziu a terapêutica do sono. A neurose está associada à fadiga. Sinais contrários, aplicados com insistência e simultaneamente, exaurem o paciente a tal ponto, que se consegue facilmente por este processo provocar neuroses experimentais.

O campo da psiquiatria é um dos mais desenvolvidos no pavlovismo. E o resultado espetacular de seus métodos, atestado pelos que entendem do assunto, vem de que o pavlovismo se desenvolve em perfeita coincidência com as condições da civilização urbana e mecânica. Contestável e contestado como teoria, falso na explicação do mundo e da vida, o pavlovismo é por outro lado um conjunto de palavras, de sinais, que traduzem reflexologicamente a realidade fragmentada e mecânica de uma civilização que perde dia a dia os suportes da cultura. O pavlovismo desconhece a cultura, mas traduz a civilização. A civilização é a técnica, a ciência, o progresso: a palavra, [237] não como símbolo da plenitude, mas como representação do mecânico, do quantitativo, do biológico.

Como portador da palavra biológica, o pavlovismo não se reconhece a si mesmo no reino multiforme da cultura; não sabe porque é que o sentido das palavras se renova; porque é que as palavras nascem, vivem e morrem independentemente do meio físico. Porque já houve palavras que foram criadoras e hoje são estéreis. Segundo Pavlov a palavra é sinal do meio. Mas os pavlovistas hão de concordar com que são as palavras que explicam o meio e não o meio as palavras. O meio é afinal em grande parte projetado pela cultura; a cultura seleciona certos aspectos que denomina meio; e este meio, se não é o meio físico em si, é o meio real do ser vivo, é o meio sentimental, projetado, vivido; é o meio criado pela palavra; é a palavra que o meio não pode criar.

E o pavlovismo é a expressão de certa visão subjetiva do mundo, a qual projeta e seleciona os aspectos quantitativos, físico-químicos e biológicos da realidade, em função de certos fins, talvez inconscientes.


[1O que procuramos explicar no ensaio ‘Considerações sobre a Crise do senso Comum’ . Revista Brasileira de Filosofia, Out/Dez 1953, Vol III, fasc. 4.

[2E por isso é que a Igreja não tem a menor dúvida em autorizar o parto sem dor.