HEGEL (Georg Wilhelm Friedrich), filósofo alemão (Stuttgart 1770 — Berlim 1831). Estudando na universidade protestante de Tubingen, teve por colegas Hölderlin e Schelling, cujos entusiasmos românticos partilhou. Inicialmente preceptor (de 1793 a 1796), ensina na universidade de Francfort a partir de 1797, e mais tarde em Iena desde 1800. Escreve então um importante artigo sobre a Diferença dos sistemas de Fichte e de Schelling (1801) e a Fenomenologia do espírito, terminada rapidamente na noite da batalha de Iena (1806). De 1812 a 1816 escreve sua Grande lógica (Wissenschaft der Logik). De 1818 à sua morte, ocupará a cátedra de filosofia de Berlim, substituindo Fichte. Suas primeiras reflexões são extremamente concretas: focalizam-se no espírito do judaísmo e do cristianismo e revelam preocupações religiosas e históricas. O que lhe interessa é descobrir o espírito de uma religião ou de um povo, é forjar conceitos novos, aptos a traduzir a vida histórica do homem e sua existência num povo ou numa história. Essa reflexão sobre a vida constitui a matéria da Fenomenologia, que descreve a história da consciência desde a participação sensível no mundo, “no aqui e agora”, até o saber absoluto, passando por todas as experiências que a alma humana pode conhecer. Essa obra, escrita numa linguagem abstrata, é uma introdução à Grande lógica: esta realiza o próprio Absoluto e o identifica ao saber da filosofia. Hegel teve considerável influência. Sua filosofia suscitou duas interpretações: a primeira baseia-se na Lógica e considera o saber absoluto como o fim último de toda a história humana; Hegel apresenta-se então como um pensador especulativo, de inspiração religiosa. A segunda baseia-se na Fenomenologia e considera como problema fundamental a realização da humanidade em nós e da humanidade na história. Desse ponto de vista, a profunda originalidade de Hegel é de ter sido o primeiro a refletir nas realidades sociais e espirituais, dessa maneira tornando possível Feuerbach e Karl Marx. As primeiras obras de Hegel são extremamente concretas e sugestivas (Vida de Abraão, Vida de Jesus). A Fenomenologia do espírito e a Lógica requerem, em compensação, uma formação filosófica especial. [Larousse]
George Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Influído de início pelos românticos e Schelling, destes se separou posteriormente, fundando um sistema próprio, que teve grande influência posterior na filosofia (hegelianismo). Para Hegel, o Absoluto do idealismo transcendental “é a ingenuidade do vazio no conhecimento”, e que não favorece a explicação da heterogeneidade. Embora considerado idealista, é, na verdade, um real-idealista, pois revela em sua obra uma preocupação constante pelo concreto, de onde parte para alcançar um saber absoluto. O saber, enquanto permanece no empírico, no transeunte, no contingente, é um saber imperfeito, insuficiente e até deficiente. O pensamento sobre o objeto supera o próprio objeto; é um saber mais alto. É o conceito que sintetiza a oposição que há entre o sujeito e o objeto. É mister superar as oposições e o espírito consegue realizá-lo pela penetração decidida na religião, onde ele conhece o seu triunfo. Só aí o espírito pode alcançar a Ideia Absoluta, e o procedimento para alcançá-la é dialético, através de afirmações e negações (teses e antíteses), até atingir a síntese superior. Em sua famosa Lógica, expõe seu método, que seria impossível sintetizar aqui. O Ser Absoluto é o tema principal de sua Filosofia da Natureza. A ideia absoluta em si e para si é o tema de sua Filosofia do Espírito. A tese, a antítese e a síntese são os momentos distintos da Ideia Absoluta, os quais são afirmados, negados e superados pela sua dialética. A superação é ao mesmo tempo conservação e superação (Aufhebung) do afirmado, por que contém este, e a negação da negação. A dialética é a expressão, assim, da própria realidade e não apenas um modo de pensar.
Teorizando a ideia de Ser, afirma, na Lógica, que é a mais universal e também a mais indeterminada. Negado todo conteúdo ao Ser, tornado abstração, converte-se em nada. Esquece, porém, Hegel que há uma diferença importante: o nada, enquanto tal, é nada, e o ser é alguma coisa, o que impede a total identificação entre ambos. A negação do ser é superada, porém, pela sua negação, que é o devir (o vir-a-ser). O devir é negado por sua vez pela qualidade; a negação da qualidade nega a quantidade, e a superação de ambos se dá pela medida, que é a antítese. A filosofia de Hegel teve um grande papel. A atualização da sua parte realista favoreceu a formação das doutrinas hegelianas de esquerda, de onde o marxismo vai buscar seus fundamentos, e da atualização do aspecto ideal surgiram as tendências direitistas. Entre os hegelianos mais famosos podemos salientar, na esquerda: Feuerbach, Max Stirner, Marx e, na direita, os irmãos Meyer, etc. Outros hegelianos famosos foram Rosenkranz, Biedermann, Zeller, Kuno, Fisher, Erdmann, Fries, Beneke, Victor Cousin, Spaventa, Prahtl, e outros. [MFS]
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) é o mais importante de todos os idealistas pós-kantianos e uma das figuras primordiais da história da filosofia. Seu sistema é a construção intelectual mais completa e profunda da época moderna, e no mesmo, tudo, a verdade e o erro, alcançam dimensões de radicalidade e genialidade incomparáveis. Todo o idealismo alemão está maduro em Hegel, que é, a rigor, a conclusão da Idade Moderna. A filosofia do século XIX, ou foi consequência mais ou menos direta do hegelianismo, ou simplesmente impulso de adquirir um novo ponto de vista, a partir do qual foi possível a filosofia atual. Por isto, hoje, a metafísica deve, em primeiro lugar, defrontar-se com a gigantesca especulação hegeliana e tomar posição filosófica ante a mesma.
O pensamento de Hegel é de um sistematismo fechado e de extrema abstração; isto dá a suas obras uma máxima dificuldade de leitura, que aumenta ainda mais ao tentar-se isolar trechos em vista de uma seleção que, forçosamente, rompe a coerência rigorosa do sistema. [Marías]
Se Fichte foi um homem da ação moral, se Schelling foi um delicado artista, Hegel é o protótipo do intelectual puro, o protótipo do homem lógico, do pensador racional, frio. Quando era estudante, seus colegas o chamavam “o velho”. Porque realmente era velho antes do tempo e toda sua vida foi “o velho”.
Vamos ver impor-se na sua filosofia esse sentido absolutamente racional, porque, para Hegel, o absoluto — que é sempre o ponto de partida — é a razão. Isso é o absoluto. À pergunta metafísica: que é o que existe? responde: existe a razão. Tudo o mais são fenômenos da razão, manifestações da razão. Mas, que razão? Sem dúvida, não a razão estática, a, razão inerte, a razão como uma espécie de faculdade captadora de conceitos, sempre igual em si mesma, dentro de nós. Nada disto. Ao contrário, a razão é concebida por Hegel como uma potência dinâmica cheia de possibilidades que se vão desenvolvendo no tempo; a razão é concebida como um movimento; a razão é concebida não tanto como razão quanto como raciocínio.
Pensemos um momento no que significa “raciocinar”, no que quer dizer “pensar”. Raciocinar, pensar, consiste em propor uma explicação, em excogitar um conceito, em formular mentalmente uma tese, uma afirmação; mas, a partir deste instante, começa-se a encontrar defeitos nessa afirmação, a pôr-lhe objeções, a opor-se a ela. Mediante o quê? Mediante outra afirmação igualmente racional, porém antitética da anterior, contraditória da anterior.
Essa antítese da primeira tese apresenta à razão um problema insuportável; é mister que a razão faça um esforço para achar um terceiro ponto de vista dentro do qual esta tese e aquela antítese caibam em unidade, e assim, continuamente, vai tirando de si a razão, por meio do raciocínio, um número infinitamente vasto de possibilidades racionais insuspeitadas. A razão, pois, é o germe da realidade. O real é racional e o racional é real, porque não há posição real que não tenha sua justificação racional, como não há também posição racional que não esteja, ou haja estado, ou haja de estar no futuro, realizada.
Por conseguinte, dessa razão que é o absoluto, mediante um estudo de seus trâmites internos — que Hegel chama lógica, dando à palavra um sentido até então não habitual — mediante o estudo da lógica, ou seja dos trâmites que a razão requer ao desenvolver-se, ao explicitar-se ela mesma, a razão vai realizando suas razões, vai realizando suas teses, logo as antíteses, logo outra tese superior, e assim a razão mesma vai criando seu próprio fenômeno, vai-se manifestando nas formas materiais, nas formas matemáticas, que são o mais elementar da razão; nas formas causais, que são o mais elementar da física; nas formas finais, que são as formas dos seres viventes, e logo nas formas intelectuais, psicológicas, no homem, na história.
Assim, tudo quanto é, tudo quanto foi, tudo quanto será, não é senão a fenomenalização, a realização sucessiva e progressiva dos germes racionais, que estão todos na razão absoluta. [Morente]