5. Quando se verifica que a ideia do progresso indefinido, do devenir incessante, constituiu o fulcro de onde emanaram atividade e pensamento contemporâneos, justo será perguntar em que espécie de progresso se tem acreditado tão fanaticamente: se no moral ou no econômico; no espiritual ou no material; no afetivo ou no intelectual. O progressismo, porém, não saberia dar uma resposta: a ideia de progresso nunca foi formulada claramente, tendo agido antes com a força de um mito. As teorias do (…)
Página inicial > Palavras-chave > Em outros sites... > Barbuy / Heraldo Barbuy
Barbuy / Heraldo Barbuy
HERALDO BARBUY (1913-1979)
Notável pensador brasileiro, nascido em São Paulo em 1913. Jornalista, orador e conferencista, formou-se em Filosofia e foi professor em diversas Faculdades e do Instituto Brasileiro de Filosofia. (FONTE: RAIMUNDO DE MENEZES, DICIONÁRIO LITERÁRIO BRASILEIRO, LTC, 2a ED.,1978)
Ex-professor do seminário católico, colaborador assíduo no jornal O Estado de S. Paulo, onde seus artigos semanais eram lidos e comentados com avidez por um público numeroso; membro da extinta e memorável revista Planalto; autor, aos vinte e três anos, de um romance de costumes oitocentistas em São Paulo, Beco da Cachaça, e de outros livros como o candente poema em prosa Zaratustra Morreu, A Vida Espetacular de Mirabeau, Origens da Crise Contemporânea. Tratava-se, portanto, de um intelectual florescente na força da idade, jornalista e escritor que se contentava no entanto na posição de professor do curso secundário, lecionando para adolescentes de quinze e dezesseis anos. Pouco depois ingressaria na Universidade de São Paulo, iniciando carreira universitária que culminaria na conquista da cátedra de Sociologia Econômica, da qual se aposentou nos derradeiros meses de vida. (Adaptado de apresentação de Barbuy feita por Gilberto de Mello Kujawaski)
VEJA HERALDO BARBUY E "O BECO DA CACHAÇA"
Matérias
-
Barbuy: Progresso (5) - devenir incessante
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro -
Barbuy: senso comum (5) - ciência
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro5. A tentativa de tudo explicar por meio de discursos racionais e métodos matemáticos parte da ignorância de que, se umas verdades foram expressas em mitos, outras em poesia, outras em música, isto se deve a que tais verdades não podiam [146] ser expressas absolutamente de outra maneira: ao contrário, o naturalismo científico, com sua visão linear da história, com seu progressismo, pretendeu que todo o passado só existiu para vir a dar como resultado a grandeza do presente, com suas (…)
-
Barbuy: senso comum (6) - Renascença
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro6. Se a ciência não trouxesse a marca da sua esterilidade, se tivesse de algum modo enriquecido o espírito humano, a miséria e a vulgaridade da vida não seriam tão fundas nesta época de apanágio científico. Se a oposição entre a ciência e a vida é tão grande, é porque a ciência constitui a negação de tudo quanto dá um sentido, revela e afirma o valor da vida; seu progresso, desde a chamada Idade Moderna, foi paralelo à perda dos valores que haviam plasmado o universo do Cristianismo, quando (…)
-
Barbuy: Da negação verbal do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroAs preocupações do pensamento posterior a Kant foram de ordem fenomênica, não de ordem ontológica. Desde que o fenomenismo, com a exclusão teórica do ser substancial se instaura no seio mesmo da filosofia contemporânea, marcada pelo subjetivismo, não tarda que o sujeito do conhecimento se negue verbalmente pelo seu próprio objeto, sendo assim o fenomenismo subjetivo sucedido pelo fenomenismo pseudo-objetivo.
O espírito científico-naturalista, o qual é tanto uma negação da inteligência (…) -
Barbuy: Progresso (2) - racionalismo progressista
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro2. Progressista foi o modo de pensar dos idealistas e dos materialistas, confinados ao racionalismo, ou seja, ao culto da análise matemática e à sua generalização, com o completo desprezo da Inteligência, no seu mais amplo sentido. O intelectualismo não se confunde com o racionalismo, tanto quanto a generalização dos métodos matemáticos não se confunde com o uso das plenas faculdades intelectuais humanas, com os seus imutáveis princípios de contradição e identidade, que nos fazem transpor os (…)
-
Barbuy: Kierkegaard (1) - Desespero
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroA teoria do desespero em Kierkegaard demonstra que o drama do espírito humano não tem apenas raízes psicológicas, mas radica também no próprio ser do homem; o desespero é ôntico, é uma categoria do espírito, como o pecado, e não pode ser examinado só como sintoma de neuroses colhidas na infância individual. O desespero que resulta, segundo Kierkegaard, do querer ser si mesmo ou do não querer ser si mesmo, vem de uma discordância interna da síntese que o homem é: síntese de finito e de (…)
-
Barbuy: Progresso (4) - progressismo, sociologismo, materialismo
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro4. O progressismo dissolveu inteiramente a personalidade humana no todo social; pois, para que o progresso horizontal indefinido fosse possível era preciso que a sociedade e não o indivíduo fosse uma entidade real; que a sociedade e não o indivíduo tivesse um destino. E no mesmo passo em que o sociologismo explicava inteiramente o individual pelo social, o materialismo completou a obra explicando o social pelo geográfico e pelo econômico; neste processo de dissolução [107] dos valores (…)
-
Barbuy: Physis e Natureza
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroSabe-se que as origens da filosofia se encontram na meditação sobre o mistério e a essência da Natureza. Os pré-socráticos têm sido habitualmente mal compreendidos e por vezes considerados materialistas ou cientistas embrionários que apenas anunciaram os grandes progressos da ciência que veio depois deles. Basta contudo ler os fragmentos dos pré-socráticos para que o sentido do seu pensamento apareça totalmente diverso do que é apresentado pelos autores comuns. Vê-se que nos pré-socráticos (…)
-
Barbuy: o tema do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroO autor do presente trabalho diante do dilema de escolher e desenvolver com relativa perfeição um tema secundário — ou escolher e desenvolver de modo imperfeito e incompleto o tema central de todo pensamento filosófico, — o tema do ser — não hesitou em optar por esta última solução, certo de que a intuição e o problema do ser constituem o núcleo vital de toda filosofia, através do qual, como do centro de uma circunferência, podem dominar-se simultaneamente todos os pontos da periferia.
Não (…) -
Barbuy: Progresso (6) - progressismo e fatos históricos
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro6. Se para o que se refere à origem e ao progresso do mundo cósmico, o monismo não é senão uma forma do panteísmo, isto é, uma teoria de que não se pode destacar uma causa substancial causante, a situação absolutamente não é outra, quando a ideia de progresso se exerce no exclusivo domínio da história, que é o seu terreno habitual. Não se distinguindo essencialmente entre matéria e forma, entre causa eficiente e causa final, torna-se indiferente indicar como fonte do desenvolvimento a (…)
-
Barbuy: Progresso (9) - Paraíso Perdido
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro9. Em quase todos os povos antigos a legendária reminiscência de um Paraíso Perdido se associou a uma inconsciente noção regressiva da história. Esta noção é implícita ao culto dos antepassados, à crença de que o fundador da cidade era um herói semi-divino, do qual se descendia, declinando. As virtudes do passado assomavam como valores perdidos pelo presente e a tradição, em vez da revolução, adquiria um sentido social predominante. A reminiscência de um passado feliz e distante se encontra (…)
-
Barbuy: senso comum (8) - cosmologia
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro8. A luta entre o heliocentrismo e o geocentrismo não se desenrolou no plano da física, mas no da Metafísica. Não foi por um progresso da ciência que se viu que a terra girava em torno do sol; foi pela morte da Metafísica que a terra deixou de ser a habitação do espírito humano convertendo-se numa simples massa que gira em torno do sol. Copérnico mesmo declara ter encontrado o fundo de sua opinião já expressa desde a antiguidade por Nicetas de Siracusa que, segundo Cícero, acreditava no (…)
-
Barbuy: Kierkegaard (2) - Formas do Desespero
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroI — O ego é primeiramente uma síntese consciente de infinito e de finito, que se relaciona consigo mesma e cujo fim é tornar-se ela mesma, o que só pode fazer relacionando-se com Deus, que a colocou como síntese. Salvar-se é tornar-se si mesmo em suas relações com Deus. Este tornar-se si mesmo é certamente um vir-a-ser concreto, que não se pode cumprir nem só num, nem só noutro dos termos da antítese, senão se estabelece a desarmonia, o desespero, pela negação do finito, ou do infinito. O (…)
-
Barbuy: Três concepções do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroOra o ser pode afirmar-se de dois modos e negar-se de um modo. O ser pode afirmar-se univocamente. O ser pode afirmar-se analogicamente. E o ser pode negar-se equivocamente. O unívoco, o equívoco, o análogo, tais são os três aspectos debaixo de um ou outro dos quais podemos considerar o que é, do ponto de vista lógico.
Se dissermos que o ser é unívoco, colocar-nos-emos no ponto de vista lógico, sem atentar para a inteligibilidade análoga do real e afirmaremos que a palavra ser designa (…) -
Barbuy: Do ser e do sentido da vida
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroAlém de todas as contradições em que incorre a negação verbal do ser, contradições de ordem lógica, gnoseológica, psicológica e ontológica, — o racionalismo, ou seja, a visão “científico-naturalista” do mundo tem o peculiar característico de eliminar o valor e o sentido da vida.
Claro está que a vida só pode ter um valor e um sentido, dada a objetividade do real e a transcendentalidade do ser, dentro duma ontologia realista, a qual nos faça do ponto de vista intelectual, volitivo e (…) -
Barbuy: senso comum (4) - realidade
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro4. A negação do existencial nos idealismos derivados de Kant — em particular no de Hegel — criou a necessidade artificial de uma reconstrução do mundo pelo próprio homem, agora abandonado a si mesmo, mas tomado da consciência idealista de que a realidade decorre dele mesmo e será tal qual sua razão a construir e sua vontade a plasmar: esta é [145] uma dimensão do criticismo kantiano, que atribui ao homem a tarefa de plasmar e replasmar o mundo, num desesperado esforço de retorno ao concreto; (…)
-
Barbuy: Progresso (1) - mito do século XVIII a nossos dias
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro“Qu’est ce donc que nous crie cette avidité et cette impuissance, sinon qu’il y a eu autrefois dans l’homme un véritable bonheur, dont il ne lui reste maintenant que la marque et la trace toute vide, et qu’il essaye inutilement de remplir de tout ce qui l’environne, recherchant de choses absentes le secours qu’il n’obtient pas des présentes, mais qui en sont toutes incapables, parce que le gouffre infini ne peut être rempli que par un objet infini et immuable, c’est-à-dire que par Dieu (…)
-
Barbuy: Progresso (3) - razão e progressismo
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro3. O mito do progresso coletivo e horizontal que subverteu a noção religiosa do aperfeiçoamento definido e vertical, pode ter a sua origem lá onde se encontram as raízes da situação contemporânea, ou seja no racionalismo e no protestantismo, cuja tradução econômica é o capitalismo, com o último dos seus derivados que é o socialismo. Por outro lado, a revolução copernicana que desacreditou a física de Aristóteles, [103] não sugeriu apenas a noção da superioridade científica do presente sobre (…)
-
Barbuy: senso comum (12) - monotonia
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro12. A monotonia nasce da planificação científica do tempo, da insensibilidade para o ritmo e a duração. Ela explica a soturna resignação das massas urbanas, a passividade das filas uniformes, engendra o coletivismo e esclarece a [168] ruptura intermitente de violências irreprimíveis: a monotonia explica as guerras internacionais, como explosões inevitáveis; tal a necessidade incoercível de quebrar a monotonia, para saltar fora do círculo de ferro da igualdade de todos os momentos. É estreita (…)
-
Barbuy: senso comum (1) - senso interno
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro1. Poder-se-ia indiferentemente falar em crise do senso comum ou crise da intuição originária. O que se desejaria entender pela expressão “senso comum” não é outra cousa senão a intuição profunda da realidade concreta, uma faculdade que não é comum no sentido de que pertença necessariamente a todos e sim no sentido de ser distinta e comum a todas as faculdades que nos ligam à realidade, dominando-as e unificando-as numa síntese, a que tanto se pode denominar sabedoria da vida, como visão da (…)