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humano

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

FILOSOFIA?
Buzzi   - Arcângelo Buzzi:
O ser? aparece em tudo quanto é. No aparecer? se desvela e se vela, se dá e se retrai.

O homem é o lugar onde aparece o ser. Ele se constitui na fluência ou vigência - vigência do ser: emerge, surge, vem à existência, enviado por uma profundidade que se esquiva ao discurso? direto.

Aquela profundidade inominável é a autoridade do homem. Está nele sem ser dele. Autoridade é o que o possibilita crescer, humanizar-se. Ele se humaniza, i. é, se constitui em sua identidade? e diferença que o distingue dos demais entes, na medida? em que estiver no acordo? com aquela profundidade. Estar num tal acordo, colocar-se numa tal correspondência, adequar-se àquela autoridade é o empenho do homem que aspira à verdade? e à justiça de seu ser.

Não é dado?, porém, ao homem ir diretamente à verdade e à justiça de si próprio. Tal empreendimento se faz através de um caminho? tortuoso, como o herói de Homero  , Ulisses, que chega a sua pátria, Ítaca, na trama de uma longa odisseia. A verdade e a justiça do humano? só se dão na odisseia de uma caminhada.

Qual é a odisseia do humano, i. é, como chega o homem a sua verdade e justiça, a sua identidade, à pátria de seu ser?

Deixando-se fazer existência, encarnando-se, assumindo um determinado modo? de ser: na a-patridade vem à pátria.

Como a alga, lançada à água, intercomunica com o ambiente?, lança raízes, constitui-se em ser-algo, assumindo um bem? particularizado modo de ser, assim o homem é lançado no mar da existência, é colhido por um modo de ser, assume um concreto modo de existir, aparece como uma soma? de determinações: ele é efetivamente isto? ou aquilo, é masculino ou feminino, pertence a tal grupo étnico, a tal classe social, a esta ou àquela cultura?, vive num lugar, numa época. Ele é uma interpretação do ser. Na interpretação lhe é dado perceber que nele o ser é e não-é!

O homem é a presença de todas as determinações de uma interpretação. Rejeitá-las seria negar a própria existência. Portanto, o homem é um arranjo existencial definido, articulado, situado. É uma circunstância, dizia Ortega y Gasset  . É possível você ser-homem sem as determinações do branco, do chinês, do africano, sem os olhos azuis do nórdico, sem a loucura? de um psicopata. Mas lhe é totalmente impossível ser-homem sem determinações, sem assumir as particularidades de um bem concreto modo de existir, sem interpretar o ser da existência que lhe é oferecido.

As ciências, como a biologia, a psicologia?, a sociologia?, a política, a economia?, tomam como objeto? de estudo? o homem determinado, circunstanciado, situado. Elas não podem fazer de outra maneira. Elas estudam o ser-humano num concreto modo de seu aparecer. Por isso se dizem ciências positivas. Não estudam o ser, mas o modo empírico de seu aparecer, o como apareceu e se instalou, as leis que governam tal establishment.

O ser-humano, que quando aparece só pode aparecer numa circunstância, é, porém, mais que a circunstância. Por isso Ortega y Gasset dizia: «eu e minhas circunstâncias». Embora colocado, posicionado num determinado modo, vivendo um concreto arranjo existencial, aprisionado a um conjunto de particularidades das quais não pode evadir-se, o ser-humano é mais que isto ou aquilo. Ou, se quisermos, o homem não é isto nem aquilo, embora sendo efetivamente isto ou aquilo.

O ser-humano não se deixa aprisionar por nenhuma determinação, não se fecha em nenhum modo concreto, não é círculo que se conclui perfeito? e acabado em sua própria figura?. O ser-humano é mais que o concreto definido, é abertura para um horizonte? sem determinações, embora no ato? de existir tome determinações. Mas as determinações assumidas não perfazem o ser-humano. são apenas provocações para ele vir-a-ser. Nesse sentido? Tomás de Aquino - Santo Tomás dizia: homo est omnia alia, não é aquilo que ele assumiu. Por conseguinte, todas as determinações empíricas do homem são inessenciais, são aparentes. «Aparentes» não significa «irreais». Pelo contrário. São anunciadoras da realidade?. A aparência, em que o ser humano está, vive no envio de uma profundidade que não-aparece diretamente.


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