(aisthesis; lat. sensus; in. Sense; fr. Sens; al. Sinn; it. Senso).
1. Faculdade de sentir, de sofrer alterações por obra de objetos exteriores ou interiores. Essa foi a definição dada por Aristóteles (De an., II, 5, 4l6 b 33) que permaneceu na tradição filosófica. (Tomás de Aquino, Suma Teológica, I. q. 78, a. 3; Duns Scot, In Sent., I, d 3, q. 8; Wolff, Psychol. emp., § 67; Kant, Antr., I, § 7, etc). Nesta acepção, o sentido compreende tanto a capacidade de receber sensações quanto a consciência que se tem das sensações e, em geral, das próprias ações: capacidade que na filosofia moderna é chamada mais frequentemente de sentido interno ou reflexão (cf. Locke, Ensaio, II, I, 4; Kant, Crítica da Razão Pura, Estética, § 1), e às vezes de sentido íntimo (Maine De Biran, Journal Intime, I, pp. 13-14; CEuvres, ed. Tisserand, p. 15, etc.) ou consciência.
2. Sensação ou conjunto de sensações, como quando se diz “os sentido mostram que…”, ou então apetites sensíveis, em especial os desejos sexuais.
3. Órgãos dos sentido, aquilo que se chama mais propriamente de sensório, ou, na terminologia moderna, receptor.
4. O mesmo que significado. [Abbagnano]
É empregado em acepção subjetiva e objetiva. Tomada subjetivamente, dizemos, antes de mais nada, que há muitos sentidos (1) como potências do homem e do animal, destinados a captar imediata ou intuitivamente os fenômenos do mundo corpóreo. As faculdades sensoriais, embora sejam em si algo psíquico, estão essencialmente ligadas a órgãos corporais (conhecimento sensorial). Distinguimos sentidos externos, que das impressões recebidas pela primeira vez formam as sensações, e sentidos internos, que elaboram ulteriormente o material daquelas. Daqui deriva o termo sensibilidade, que designa o conjunto de todas as potências sensíveis, incluindo, além das de ordem cognoscitiva, também as de ordem apetitiva; estas denominam-se sensíveis, por dependerem totalmente dos sentidos. Filosoficamente reveste pouca importância que o termo “sensibilidade”, tomado em acepção mais restrita, designe somente tendências e apetites sensitivos, ou até só o domínio da vida sexual. — O significado do termo “sentido” até aqui descrito pode também aplicar-se, ampliado, à vida do espírito. Por seus sentidos, o homem é sensível às cores, aos sons, etc. Pelo que, quando alguém é aberto, receptivo a alguma coisa, tem fácil acesso a essa coisa, diz-se que tem o sentido (2) dessa coisa, p. ex., da música, do religioso. — Tais disposições têm como raiz o sentido do homem, entendido (3) como o meio espiritual que lhe dá acesso a tudo, o relaciona com tudo e é a fonte donde procedem seu pensar e querer.
Tomado objetivamente, o termo “sentido” (4) denota aquilo que no objeto corresponde ao sentido (3) existente no homem, o que, aparentado ao seu compreender intelectual, torna o ente acessível ou compreensível. Neste caso, o sentido dirige-se primariamente àquilo que é o fim da existência de alguma coisa: sentido teleológico (5). O estar dirigido ou orientado para um fim constitui o sentido de uma coisa, na medida em que no-la faz compreender em sua peculiaridade ou, pelo menos, em sua existência. Assim, falamos do sentido da vida, da história, do mal, de uma ação ou de um fenômeno (p. ex., a posição variável das folhas das plantas), de uma instituição (p. ex., das universidades). Ao caráter preponderantemente dinâmico do sentido teleológico associa-se outro mais estático: o sentido da forma. Dizemos que a estrutura da parte é dotada de sentido, quando ela serve ao todo, e dizemos o mesmo da estrutura do todo, quando corresponde ao fim deste (p. ex., a estrutura do olho). São, a um tempo, dinâmicas e estáticas as estruturas de sentido, descobertas pelas ciências do espírito na atuação e nas criações deste, estruturas compreensíveis do ponto de vista dos valores que as determinam teleologicamente em seu sentido. O sentido teleológico exige sempre que o fim seja alcançável e dotado de sentido; do contrário, seria absurdo tender para ele. — Manifesta-se aqui o significado mais profundo do termo “sentido”. Fim e valor recebem do ser a sua qualidade de possuir sentido; o ser o possui em si e por si, visto como por si próprio se justifica, tanto em ordem a ser compreendido quanto em ordem a ser apetecido: sentido metafísico (6). Ser e sentido coincidem, e em Deus esta coincidência é absoluta. O finitito participa desta identidade, na medida e modo de seu ser; senão tem seu sentido pleno em sisi mesmo, tal sentido convém a outro ente, ao qual está ordenado. Por conseguinte, dado que o ser possui sentido em si, este não lhe advém de um reino ideal do valor, que, como mundo próprio, se contrapusesse ao ser (neokantismo de Baden). Mesmo quando o homem com sua criação cultural incute sentido no ser, não faz mais do que continuar desdobrando o sentido já existente no ente.
Ligado ao sentido objetivo está o sentido semântico (7), ou seja, a referência indicadora própria de um sinal, relativamente ao significado ou à sua significação (p. ex., o sentido do aperto de mãos). Paradoxal é o que pretende conglobar vários sentidos contraditórios entre si. Absurdo designa qualquer oposição ao sentido. — Lötz. [Brugger]
Só em época relativamente recente se investigou o problema do sentido como uma questão separada; o usual era antes confundir o ser e o sentido e considerar que a menção de um implicava necessariamente a preferência ao outro. Assim, para a metafísica que poderíamos chamar tradicional, o que se considerava o ser era por sua vez o que possuía sentido, de tal modo que o ser e o sentido deste equivaliam aproximadamente à mesma coisa.
A investigação fenomenológica sobre o sentido permitiu, em contrapartida, não só pôr entre parêntesis a famosa identificação, mas inclusivamente considerar como relativamente separados os diferentes significados do termo sentido.
Rapidamente se admitiu que o sentido não pode sem mais confundir-se com o significado de um termo ou de uma proposição. se quiser, o sentido pode ser estudado também sob o aspecto do significado, mas sempre que este inclua não só a relação, mas também a coordenação do sinal com o objeto. Elaborou-se uma fenomenologia do sentido, segundo a qual este se dá sob vários aspectos: como sentido semântico, como sentido estrutural ou eidético, como sentido fundamentante ou lógico e como sentido de motivação. De tal modo que quando se fala de sentido será necessário saber a qual dos mencionados conceitos se refere, e qual é a relação que se estabelece entre um e outro e entre cada um e todos os restantes. Também a falta de sentido ou o trans-sentido se manifestam de modo diferente em cada um dos sentidos. O caraterístico desta investigação é, portanto, a determinação dos diferentes significados em que se pode empregar o sentido, incluindo o próprio significado como uma das suas formas. Outras investigações, em compensação, referem-se antes ao momento da unificação do sentido, quer sob um aspecto metafísico, quer sob o aspecto psicológico ou científico-espiritual. Alguns consideram, por exemplo, o sentido como uma peculiar direção que, por sua vez, constitui uma das dimensões essenciais do mundo do espírito nas suas duas formas: subjectiva e objetiva.
Quando o ponto de vista metafísico predomina sobre o gnoseológico, atende-se não só à unificação dos diversos significados do sentido, mas a insistir na questão da relação entre o sentido e o ser. Para alguns, ser e sentido são o mesmo; para outros, o sentido é mais amplo que o ser; para outros, o ser é mais amplo que o sentido. Esta questão foi a atacada sobretudo por Heidegger ao pôr o problema do sentido do ser. Sob o aspecto psicofisiológico, entende-se por sentido a faculdade de experimentar certas sensações, faculdade que se realiza mediante órgãos também chamados sentidos (os cinco sentidos). Tradicionalmente, classificaram-se os sentidos segundo os órgãos, mas, na realidade, há múltiplas faculdades de sentir, não só por combinação dos órgãos sensíveis, mas inclusivamente pela possibilidade do chamado sentido comum, ou sentido dos sentidos. Todos estes sentidos são chamados externos, diferentemente do chamado sentido interno ou íntimo, que tem um significado puramente psíquico e que equivale às vezes a consciência, conhecimento ou percepção da interioridade psíquica. [Ferrater]