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fim

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O que diremos agora relativamente ao ser?-para-o-fim?? É óbvio que a crítica feita à noção realista e objetivante de uma gênese e começo das coisas? é válida também no que se refere ao fim do mundo?. O fim não deve ser compreendido como o desenlace objetivo? de uma sucessão de eventos, como se assistíssemos ao cair do pano sobre uma peça acabada. Não, o ser-para-o-fim, o sentimento? apocalíptico da existência manifesta-se como a tomada de consciência do colapso de uma cultura?. O fim do mundo é o fim de um mundo, a ruína do existente, traçado num projeto? histórico e, segundo as considerações anteriores, somente assim poder?á ser compreendido. O impulso poderoso que mantinha viva uma tábua de valores e que se subordinava, por outro lado, aos seus imperativos e finalidades vai pouco a pouco se debilitando e extinguindo. Os tempos que acompanham a agonia de um sistema? cultural são assinalados por uma grande confusão [225] de valores, opiniões e pontos de vista. Nada? mais parece ter uma legitimidade indiscutível e universal; são os tempos de preamar do niilismo?. O significado do fenômeno niilista consiste precisamente na vertiginosa irrupção do nada, triunfando sobre as determinações e formas de existências até então vigentes. Tudo parece válido e nada realmente o é. O nada passa a desempenhar o papel da força atuante. Assistimos em todos os campos a um desenvolvimento? extraordinário das atividades críticas e meramente cerebrais. As linhas simples? da ação tornam-se tortuosas e indefinidas. A certeza? é substituída pela perplexidade e o homem não sabe mais a que se ater. O sentimento predominante é o de que as possibilidades da vida? já foram esgotadas, de que as coisas maiores já foram realizadas no passado, só restando aos homens uma atividade? de epígonos e repetidores. A descrença, a falta de fé num princípio transcendente, o ateísmo filosófico e prático, tomam conta dos espíritos. A consciência humana se contrai e apequena, percebendo e notificando apenas a mera presença das coisas e dos acontecimentos. Perceber e trabalhar as coisas, construir as únicas metas deixadas aos homens.

Se quisermos assinalar com um só traço o fenômeno niilístico do fim de uma cultura, podemos dizer que consiste no crepúsculo dos deuses?. O fim de uma cultura dignifica o afastamento das forças divinas da conexão histórico-cultural. O sentido? e a orientação que o sobre-humano? emprestava ao humano, o entusiasmo?, em seu sentido etimológico, de plenitude divina, passam a faltar. Em 1828, numa carta a Eckermann, dizia Goethe  ; “Vejo aproximarem-se os tempos em que Deus? não encontrará mais nenhuma alegria? na humanidade, tendo que aniquilar tudo, para uma nova criação”.

Como podemos diagnosticar esses estranhos fenômenos que acompanham o declínio de uma cultura? Existem sinais, sintomas visíveis dessa mudança essencial dos acontecimentos?

Sabemos como, na teologia? cristã, o Juízo Final que marca o término da forma? terrestre de existência é precedido por um conjunto [226] de sinais anunciadores. Parece-nos que essa ideia? é cheia de um grande sentido, mesmo no terreno especulativo-filosófico. [VFSTM  :225-227]


LÉXICO: fim