(in. Development; fr. Développement; al. Entwicklung, it. Sviluppo, Svolgimento).
Movimento em direção ao melhor. Embora essa noção tenha precedentes no conceito aristotélico de movimento como passagem da potência ao ato ou explicação do que está implícito (Cícero, Top., 9), seu significado otimista é peculiar à filosofia do séc. XIX e está estreitamente ligado ao conceito de progresso. Seu sinônimo mais próximo é evolução, mas este último termo é mais frequentemente usado para indicar o desenvolvimento biológico ou um desenvolvimento cósmico, cujas raízes e analogias estão no desenvolvimento biológico. Sem referência a esse aspecto particular, esse termo foi usado por Hegel, que o transformou numa das categorias fundamentais de sua filosofia e o exemplificou sobretudo na história. Ao lado do caráter progressista do desenvolvimento, Hegel destacou outro caráter fundamental: o desenvolvimento pressupõe aquilo de que é desenvolvimento, isto é, o fim para o qual se move e o princípio ou a causa de si mesmo. “O espírito”, disse Hegel, “que tem como teatro, domínio e campo de realização a história do mundo, não vagueia nas oscilações extrínsecas do acaso, mas é em si determinante absoluto… O que quer é alcançar seu próprio conceito, mas ele mesmo o obscurece para si, tem orgulho e prazer nesse alhear-se de si mesmo” Philosophie der Geschichte, ed. Lasson, pp. 131-32). Nesse sentido, o Absoluto é desenvolvimento “O verdadeiro é o integral. Mas o integral é somente a substância que se completa através de seu desenvolvimento. Do Absoluto deve-se dizer que é essencialmente resultado, que só no fim é o que é na verdade; e justamente nisso consiste sua natureza, em ser efetividade, sujeito ou desenvolvimento de si mesmo” (Phänomen. des Geistes, Pref., II, 1). O que esse conceito tem de novo em relação ao conceito aristotélico do movimento é a aplicação ao mundo da história e a extensão a todos os aspectos da realidade. Mas o caráter finalista, providencialista e substancialista do desenvolvimento ilustrado por Hegel tem correspondência com a doutrina aristotélica do movimento, que também é finalista e providencialista, exigindo também que aquilo que se desenvolve seja pressuposto pelo próprio desenvolvimento: não é outro o significado da superioridade do ato sobre a potência, a que é dedicado um célebre estudo de Aristóteles (Met., IX, 8) (cf. ato). [Abbagnano]
Ainda que o sentido corrente da palavra não seja este, bem se poderia entender «desenvolvimento» como descobrimento, desocultação, nudificação, prae-s-entação. Porque, efectivamente, ele corre em sentido inverso ao envolvimento, ocultação, revestimento, au-s-entação. Desenvolver é retirar, um a um, todos os envolventes que envolvem um envolvido não mais envolvente, isto é, descobrir o descoberto que nada encobre, despir, do último ao primeiro, todos os vestidos que, um após outro, revestiram um corpo nu, que é vestimenta de nada (pois tão verdade é dizer que «o corpo veste a alma» quanto «a alma veste o corpo»), remover todos os ocultantes do que nada mais oculta (ou talvez, do que só oculta o nada). Pelo desenvolvimento, todo o ausente se «pre-senta»: o desenvolvido é, pura e simplesmente, presença. E pensar é isto mesmo: desenvolver. Se quiserdes um exemplo, ei-lo: pensar historicamente, pensar a historicidade do homem, consiste só em achar o mito envolvido pela história, aquele que a história [31] se comprazeu em envolver. No caso em que vêm recaindo as nossas reflexões, facilmente se verifica que a história «universal» só abriu seu caminho envolvendo, ocultando, relegando para o olvido (outra forma de envolvimento) aquele mito do Exílio Adâmico. Não me preocupa agora o mister de averiguar se o mesmo não acontecerá em todas as regiões do saber, em que reincida um pensar que se processe em desenvolvimento do envolvido, em descobrimento do encoberto, em desocultação do oculto, buscando, em suma, o ser do que parece ser, ou do que aparece como sendo o que não é. [EudoroMito:31-32]