(in. Plan; fr. Projet; al. Projekt, Entwurf; it. Progetto).
Em geral, a antecipação de possibilidades: qualquer previsão, predição, predisposição, plano, ordenação, predeterminação, etc, bem como o modo de ser ou de agir próprio de quem recorre a possibilidades. Neste sentido, na filosofia existencialista, o projeto é a maneira de ser constitutiva do homem ou, como diz Heidegger (que introduziu a noção), sua “constituição ontológica existencial” (Sein und Zeit, § 31). Heidegger insistiu também na tese de que todo projetar-se, por antecipar possibilidades de fato, incide sempre no fato e não vai além: de tal modo que a máxima do homem que se projeta é “Sê o que és” (Ibid.). Em outro trecho Heidegger disse que o projeto do mundo, em que consiste a existência humana, é antecipadamente dominado pela facticidade, que ele procura transcender, mas acaba reduzindo-se e nivelando-se com a facticidade (Vom Wesen des Grundes, 1929, 3; trad. it., pp. 67 ss.). Sartre substancialmente repetiu esses conceitos de Heidegger, mas ressaltou a gratuidade perfeita dos “projeto do mundo”, em que consiste a existência. Chamou de “fundamental” ou “inicial” o projeto constitutivo da existência humana no mundo e considerou-o contínua e arbitrariamente modificável: “A angústia que, ao ser revelada, manifesta-nos à consciência a nossa liberdade, é testemunho da perpétua possibilidade de modificar nosso projeto inicial L’être et le néant, 1943, p. 542).
Apesar de característica da filosofia existencialista, a noção de projeto passou a fazer parte da terminologia filosófica e científica contemporânea. Mostrou ser útil para expressar aspectos importantes das situações humanas tanto das mais gerais, analisadas pela filosofia, como das específicas, que constituem o objeto das ciências antropológicas: psicologia, sociologia, etc. V. Estrutura e Modelo. [Abbagnano]
O Projeto instituidor de homem e mundo (entrelaçados simbolicamente, se no entrelaçamento também se enlaça o Projeto, ou se referência de um a outro se faz só por referência de um e outro ao mesmo Projeto), possa ou não possa ele passar por nós com o nome de Cultura — Cultura envolvida e ocultada por suas manifestações, tal como homem e mundo envolvem e ocultam o Projeto que os instaura —, é abertura por onde irrompe um impensado vindo à presença de todo o pensar que se encontra em regime de disponibilidade. [EudoroMito:32]
Seriam homem e mundo duas partes de um símbolo? Que o sejam ou não, é o que só podemos pensar, chegando aos limites do pensável, liminar do impensado: aí se nos defronta o Projeto, «todo» maior do que a soma de suas partes, homem e mundo co-projetados. Um e outro estão virtualmente contidos no Projeto [32] instaurador de «mundo que está para o homem» e de «homem que está para o mundo». Não é fácil penetrar na intimidade do Projeto; talvez menos ainda o aceitar que ele efetivamente existe, que não é mera ficção de um pensamento que a todo o custo quer passar além do limite dele, pensando o que ficou nos interstícios do já pensado. É mais confortante não correr o risco de errar, contando com ele, enquanto se pensa só em «mundo» e «homem» e nas relações do mundo com o homem e do homem com o mundo, encalçando os passos de quem já percorreu todas as trilhas de uma história «universal» da Cultura. [EudoroMito:32-33]