FRANZ VON BAADER — REFERÊNCIAS E DESTAQUES
Retirados da obra de Ramón Betanzos, FRANZ VON BAADER’S PHILOSOPHY OF LOVE
A filosofia deve almejar primeiro que tudo “buscar e provar os meios e condições sob as quais um homem pode alcançar o livre uso de sua capacidade para aprender”. Sendo o princípio cardinal na epistemologia e metafísica de Baader: “Ao invés de dizer com Descartes: Eu penso, logo Eu sou, um homem deveria dizer: Esou pensamento, portanto Eu penso, ou Eu sou querido (amado), portanto Eu sou”.
O lema de Baader, cogitor (a Deo), ergo cogito, ergo sum, foi um contraponto visando não somente o subjetivismo do cogito cartesiano mas também a filosofia crítica de Kant e a metafísica do Ego de Fichte; seu lema insiste em um primeiro princípio objetivo, um fundamento para todo o conhecer, amor e fazer do homem. Somente porque eu sou conhecido, amado e iluminado por Deus posso conhecer, amar e ou iluminar. Baader está insistindo na identidade entre fundamento de existência e fundamento de conhecimento. Localizar mesmo que seja no homem, em última instância, é deificá-lo. “A mente finita, com sua visão parcial, não pode ver exceto sendo arrebatada por um olho central ou universal” (vide consciência universal). Na visão de Baader, conhece-se a si mesmo na proporção de como conhece-se Deus; o mesmo vale para o amor. O cogito de Descartes põe o que é realmente “pensamento secundário” ou pensamento derivado (Nachdenken) em lugar do “pensamento original” ou pensamento primordial (Urdenken) e, por conseguinte, abre o caminho para o ateísmo. Baader insiste que a participação no conhecimento e amor divinos não faz um homem uma “parte” de Deus em absoluto. O princípio de Baader tenta reunir ontologia e epistemologia, para superar o solipsismo e o subjetivismo assim como a absoluta autonomia humana e a deificação da razão.
Conhecimento e existência são inseparáveis um do outro. Falar como se conhecimento fosse uma atividade puramente humana sem um fundamento em Deus é falar como se existência também fosse auto-dada pelo homem e não fundamentada em Deus. Assim, Baader vê conhecer como Mitwissen ou Gewissen ou conscientia, i.é., conhecer em união com, e em imitação do, conhecimento de Deus.
Um princípio maior da revelação trata do modo da presença de Deus em uma região ou em uma pessoa;isto é afetado, por sua vez, pelo status dessa região ou pessoa vis-à-vis tempo e eternidade. Céu, a “boa eternidade”, tem três dimensões temporais — passado, presente e futuro; terra (tempo) só tem duas — passado e futuro, mas nenhum presente; inferno, a “má eternidade”, só tem uma — o passado. O relacionamento de Deus a cada região é expresso em uma das distinções favoritas de Baader: Inwohnung (morar-em), Beiwohnung (“morar-por”), e Durchwohnung (“morar-através”). Analogias com a distinção entre princípio, órgão e instrumento são sugeridos. A presença de Deus através de Inwohnung é presença como amor, a espécie mais apropriada à Deus que é amor; sua presença através de Beiwohnung se dá quando um agente inteligente coopera livremente com Deus e age como órgão de Deus; sua presença através de Durchwohnung é presença somente através de poder: Deus trata com a natureza inanimada — e em última instância com agentes livres que resistem a ele — através de seu poder: i.é. ele os trata como instrumentos.
Essas distinções lançam luz sobre muitas afirmações de Baader: por exemplo, “uma boa pessoa e uma má farão coisas diferentes, mas ambas farão o que Deus quer”; e “Deus faz pessoas boas ou más, como intenciona, pois fazer é determinado pela vontade”. Baader diz, com efeito, que Deus se oferece em amor para todos, mas amor não pode ser forçado em ninguém; embora amor possa ser recusado, a presença de Deus através de poder não pode, pois nada pode existir aparte dele. Em uma veia análoga, Baader cita Angelus Silesius: “Deus é mestre para o servo, é Pai para seu filho, e é noivo quando encontra sua noiva, Sophia”.
O fato da revelação não justifica panteísmo, pois a unidade da essência de Deus é indissolúvel e não-transferível. Para Baader, Deus não é alguma espécie de princípio abstrato mas ao invés um ente pessoal; e a marca de personalidade é incomunicabilidade. Deus não é “uma parte do mundo” nem é o mundo uma “parte de Deus”. Deus é tanto acima do mundo quanto dentro do mundo. Em outras palavras, ele é tanto transcendente e imanente. Deus tem “externalidade” com relação a ele, mas esta é imanente nele: “Isso é precisamente o grande mérito de Boehme — que ele concebe esta interioridade e exterioridade de Deus de maneira imanente e não concebe imediatamente a externalidade da existência de Deus como existência criatural, como os panteístas fazem, para quem Deus, assim que quer ser ou deve ser um ente existente realmente, imediatamente abandona a si mesmo e entra ou cai na criação. O Deus destes filósofos é um centauro ou um ente híbrido, consistindo de uma centro que é divino e uma periferia que criatural ou não-divina…”.
O que é “externo” a respeito de Deus é antecedente a e independente de qualquer referência ao mundo.
Na medida que a criatura conformou-se a si mesma à divina auto-fundação, ela está unida a Deus e feita uma participante em seu amor, Deus é amor. A filosofia do amor, portanto, deve ser a doutrina central.
Deus est sphaera, cujus centrum ubique, circunferentia nusquam. Uma mas mais comuns e falsas interpretações desta expressão tem sua raiz na consideração superficial da figura geométrica (do círculo ou da esfera), de acordo com a qual imagina-se Deus (o ponto no meio) como cercado por (fechado por) o mundo (criação), assim como o primeiro, como centro, e o segundo, como periferia, fossem simplesmente dois elementos constituintes de um e mesmo X. Dificilmente se poderia dizer algo sobre a natureza de tal coisa, tal je ne sai [sic] quoi ou indiferença espinozística, posto que não seria nem Deus nem criatura. Em tal caso, não poderia haver questão de um Deus super-mundano ou livre-de-mundo; de fato, Deus realmente consistiria de algo que é feito centro simplesmente pelo mundo e pela criação, enquanto é Deus que toma este último em seu próprio centro, porque todas as coisas são imanentes em Deus…