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Edith Stein (1987:4-6) – O que é a fenomenologia - Dados históricos

quarta-feira 23 de março de 2022, por Cardoso de Castro

  

tradução do francês

Nos perguntemos inicialmente o que se deve entender por "fenomenologia", sem que seja questão de reter todas as significações que este termo recebeu nos sistemas filosóficos do passado. Quando se fala hoje em dia de fenomenologia, entende-se uma importante corrente filosófica de nossa época, que teve nascimento faz uns trinta anos - há dez ou quinze anos escreveria este ensaio sem hesitar: que foi criada por Edmund Husserl   quando publicou as Logische Untersuchungen, cuja primeira edição remonta aos anos 1900-1901. E teria me contentado em caracterizar a fenomenologia de Husserl. Mas, hoje em dia, a situação mudou: para um conjunto grande de pessoas interessadas em filosofia, o nome de Husserl está fortemente ofuscado por aqueles de Max Scheler   e Martin Hiedegger, que exerceram sobre este conjunto, mas também sobre filósofos de profissão, uma maior fascinação do que fizeram as pesquisas sóbrias e rigorosas de Husserl.

Só para constatar fatos históricos: o termo fenomenologia foi escolhido por Husserl para designar o método filosófico que conseguiu por em marcha por conta de um duro trabalho intelectual perseguido durante longos anos, e que foi apresentado pela primeira vez nas Logische Untersuchungen sob uma forma amplamente eficaz. Nos anos consagrados a esta obra - os doze anos que viveu em Halle como docente -, esteve em relação estreita com Max Scheler, que então estava em Iena. Scheler sempre insistiu sobre o fato que não foi discípulo de Husserl, que descobriu por ele mesmo o método fenomenológico, e que só houve encontro com Husserl nos resultados. disto estava certamente convencido com toda honestidade. Mas para quem conhece os dois homens - Husserl sempre mergulhado em seu pensar a ponto de não poder se distrair, falando dificilmente de outra coisa e recebendo ainda mais dificilmente as ideias de outro, e Scheler cujo trabalho era no fundo impressionista, que recebia do que ouvia e lia as mais fecundas impressões, e que as apropriava tão facilmente que nem notava mais e não sabia mais de onde provinham suas ideias -, a prioridade neste affaire não deixa dúvidas.

O círculo de discípulos que se reunia em Göttingen ao redor de Husserl depois que ela aí foi chamado recebeu igualmente fortes influência de Scheler; e é a esta influência que Husserl atribui o fato que a maior parte de seus discípulos de Göttingen não o seguiram em sua evolução ulterior. Heidegger  , vindo de uma outra escola, se aproximou dele em Freiburg desde 1918 e foi introduzido por ele ao método fenomenológico, que dominava admiravelmente. Mas sobre questões de princípio, sobre questões decisivas- às quais acordavam um e outro grande importância -. Heidegger, ele também, se separou de Husserl. Estes últimos anos, Heidegger desfrutou de uma grande audiência não somente junto aos filósofos de profissão, mas junto aos espíritos abertos e receptivos, audiência comparável àquela de Scheler durante a guerra e o após-guerra.

Se se quer falar hoje em dia da fenomenologia e de sua significação como concepção do mundo, não é possível negligenciar estes nomes (mesmo se se decidiu deixar de lado outros representantes importantes da investigação fenomenológica). Eu me encontro assim diante de uma tarefa, no fundo impossível de levar a contento, de caracterizar, em um estreito quadro, as três orientações que se ligam a estes nomes. Vou tentar ter sucesso esboçando a fenomenologia de Husserl, e nisto mostrando sobre que pontos os dois outros filósofos dela se distinguem.

Philibert Secretan

Demandons-nous d’abord ce qu’il faut entendre par « phénoménologie », sans qu’il soit question de retenir toutes les significations qu’a reçues ce terme dans les systèmes philosophiques du passé. Quand on parle aujourd’hui de phénoménologie, on entend un important courant philosophique de notre époque, qui prit naissance il y a une trentaine d’années — il y a dix ou quinze ans j’aurais écrit sans hésiter : qui fut créé par Edmund Husserl lorsqu’il publia les Logische Untersuchungen, dont la première édition remonte à 1900-1901. Et je me serais contentée de caractériser la phénoménologie de Husserl. Mais, aujourd’hui, la situation a changé : pour un large milieu de personnes intéressées à la philosophie, le nom de Husserl [5] est fortement estompé au profit de ceux de Max Scheler et de Martin Heidegger, qui ont exercé sur ces milieux, mais aussi sur des philosophes de métier, une bien plus grande fascination que ne le firent les recherches sobres et rigoureuses de Husserl.

Pour ne constater que les faits historiques : le terme phénoménologie fut choisi par Husserl pour désigner la méthode philosophique qu’il réussit à mettre en œuvre à la faveur d’un dur travail intellectuel poursuivi durant de longues années, et qui fut présentée pour la première fois dans les Logische Untersuchungen sous une forme amplement efficace. Dans les années consacrées à cette œuvre — les douze années où il vécut à Halle comme privat-docent —, il était en relation étroite avec Max Scheler, qui était alors à Jena. Scheler a toujours insisté sur le fait qu’il n’avait pas été l’élève de Husserl, qu’il avait trouvé de lui-même la méthode phénoménologique, et qu’il n’y avait de rencontre avec Husserl que dans les résultats. Il en était certainement convaincu en toute honnêteté. Mais pour qui connaît les deux hommes — Husserl toujours plongé dans ses pensées au point de ne pouvoir s’en distraire, parlant difficilement d’autre chose et recevant plus difficilement encore les idées d’autrui, et Scheler dont tout le travail était au fond impressionniste, qui recevait de ce qu’il entendait et lisait les plus fécondes impressions, et qui se les appropriait si aisément qu’il ne remarquait plus et ne savait non plus d’où provenaient ses idées —, la priorité en cette affaire ne fait pas le moindre doute.

Le cercle des disciples qui se rassembla à Göttingen autour de Husserl après qu’il y fut appelé a également reçu de fortes influences de Scheler ; et c’est à cette influence que Husserl attribue le fait que la plupart de ses élèves de Göttingen ne l’ont pas suivi dans son évolution ultérieure. Heidegger, venant d’une autre école, s’était rapproché de lui à Freiburg dès 1918 et fut introduit par lui à la méthode phénoménologique, qu’il maîtrise admirablement. Mais sur des questions de principes, sur des questions décisives — auxquelles ils accordaient l’un et l’autre une grande importance —, Heidegger s’est, lui aussi, séparé de Husserl. Ces dernières années, Heidegger a joui d’une grande audience non seulement auprès des philosophes de métier, mais auprès des esprits ouverts et réceptifs, audience comparable à celle de Scheler durant la guerre et l’après-guerre.

[6] Si l’on veut parler aujourd’hui de la phénoménologie et de sa signification comme conception du monde, il n’est pas possible de négliger des ceux noms (même si l’on est décidé de laisser de côté d’autres représentants importants de la recherche phénoménologique). Je me trouve ainsi devant la tâche, au fond impossible à mener à bien, de caractériser, dans un cadre étroit, les trois orientations qui se lient à ces noms. Je vais tenter de m’en tirer en esquissant la phénoménologie de Husserl, et en montrant sur quels points les deux autres philosophes s’en distinguent.


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