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Descombes (2005:175-176) – conscientia e consciência de si

sexta-feira 12 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

  

tradução

Num atalho impressionante, Ortigues indica que é precisamente essa nova concepção de inteligibilidade — entendemos do que estamos falando se decidimos falar apenas daquilo que livremente colocamos "como objeto" — que permitiu a transferência da noção comum (isto é, latina) de consciência do domínio moral que até então era dela até o domínio teórico. Pois existe uma distância considerável entre a conscientia da teologia moral e a "consciência de si" das filosofias reflexivas. Como foi possível atravessar toda a distância que conduzia da conscientia, que seria traduzida em alemão pela palavra Gewissen até nosso conceito fenomenológico de consciência (Bewußtsein)? "A noção comum de consciência designa um poder de julgamento interno à ação" (p. 10). Mas, precisamente, a nova noção de consciência, carregada pela "filosofia da consciência", agora designa um poder cujo exercício consiste em operar "uma gênese racional do objeto" (p. 11). A consciência assim entendida não é mais uma experiência — como ainda era com Descartes   e Locke   —, é fundamentalmente um ato pelo qual o sujeito deve se dar o objeto de conhecimento a si mesmo (em virtude de um relacionamento consigo mesmo que lhe confere a identidade de sujeito). Tal "ato de consciência" supõe no sujeito que o realiza uma capacidade de apercepção, talvez em virtude de um "sentido íntimo" que permita o auto-afeto, talvez em virtude de um poder de pura auto-posição, mas não requer nenhuma competência linguística, nenhum domínio de uma língua, nenhuma participação em uma comunidade linguística.

Original

Dans un raccourci saisissant, Ortigues indique que c’est précisément cette nouvelle conception de l’intelligibilité – nous comprenons de quoi nous parlons si nous décidons de ne parler que de cela même que nous posons librement « comme objet » – qui a permis le transfert de la notion commune (c’est-à-dire latine) de conscience du domaine moral qui était jusque-là le sien jusqu’au domaine théorique. Car la distance est considérable entre la conscientia de la théologie morale et la « conscience de soi » des philosophies réflexives. Comment a-t-on pu franchir toute la distance menant de la conscientia qu’on traduirait en allemand par le mot Gewissen jusqu’à notre notion phénoménologique de conscience (Bewußtsein) ? « La notion commune de conscience désigne un pouvoir de jugement intérieur à l’action » (p. 10). Mais, justement, la nouvelle notion de conscience, celle que porte la « philosophie de la conscience », désigne désormais une puissance dont l’exercice consiste à opérer « une genèse rationnelle de l’objet » (p. 11). La conscience ainsi entendue n’est plus une expérience – ce qu’elle était encore chez Descartes et Locke –, elle est foncièrement un acte par lequel le sujet est censé se donner l’objet de connaissance à lui-même (en vertu d’un rapport à soi qui lui confère son identité de sujet). Un tel « acte de conscience » suppose chez le sujet qui l’accomplit une capacité d’aperception, peut-être en vertu d’un « sens intime » permettant une auto-affection, peut-être en vertu d’une puissance de pure auto-position, mais il ne requiert chez le sujet aucune compétence langagière, aucune maîtrise d’une langue, aucune participation à une communauté linguistique.


Ver online : Vincent Descombes


DESCOMBES, Vincent. “Edmond Ortigues et le tournant linguistique”, in L’Homme, nos 175-176 - Vérités de la fiction, 2005. Paris, Éditions EHESS, 2005