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Descombes (1995:111-112) – o ator da ação

sexta-feira 12 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

  

Por sua vez, as nossas volições são de duas espécies; umas são ações da alma que se confinam na própria alma, como quando queremos amar Deus, ou de uma maneira geral aplicar o nosso pensamento a qualquer objeto não material; as outras são ações que se estendem ao nosso corpo, como quando, só porque temos vontade de passear, as pernas se movem e andamos. [DESCARTES  , René. As paixões da alma. Tr. Newton de Macedo. kttk editora, 2018 (epub), Parte I, Artigo 18]

tradução

Lemos, por exemplo, no Tratado das Paixões de Descartes, essa descrição de nossas vontades concernindo nosso corpo: são ações da alma "que terminam em nosso corpo, como quando disso apenas temos a vontade de andar, segue-se que nossas pernas se movem e que andamos" (I, 18). Disso apenas ... segue-se que ...: a decomposição filosófica de "nós caminhamos" para "nós temos vontade de andar" e "nossas pernas se movem" sugere fortemente que deve ser encontrado um elo entre o ter uma vontade e o fato que o movimento se produz. Mas se é necessário vincular, é que vontade e movimento do corpo são realidades diferentes. Nesse caso, é inevitável questionar se esta ligação não pode ser rompida e isto que nos garante que seja sempre dado. Uma dissociação é concebível, pelo menos em princípio, entre a realidade da vontade ("eu quero andar") e a realidade do evento físico ("as pernas se movem"). A ação, conduzida a isto que dela pode ser dado de maneira direta ao sujeito consciente de si, é, portanto, a vontade de fazer algo: que o agir siga ou não, isso depende do poder que convém reconhecer a um sujeito da vontade tal como nós.

Assim é colocada (na filosofia moderna, isto é, pós-cartesiana) a questão de saber em que título posso pretender à qualidade de ator.

Original

Nous lisons par exemple dans le Traité des passions de Descartes cette description de nos volontés concernant notre corps : ce sont des actions de l’âme « qui se terminent en notre corps, comme lorsque de cela seul que nous avons la volonté de nous promener, il suit que nos jambes se remuent et que nous marchons » (I, 18). De cela seul..., il suit que... : la décomposition philosophique de « nous marchons » en « nous avons la volonté de nous promener » et « nos jambes se remuent » suggère fortement qu’un lien doit être trouvé entre le fait d’avoir une volonté et le fait que le mouvement se produise. Mais s’il est besoin de lier, c’est que volonté et mouvement corporel sont des réalités différentes. Dans ce cas, il est [112] inévitable de se demander si ce lien ne pourrait pas être rompu et ce qui nous assure qu’il soit toujours donné. Une dissociation est concevable, au moins en principe, entre la réalité de la volonté (« je veux marcher ») et la réalité de l’événement physique (« les jambes se remuent »). L’action, ramenée à ce qui peut en être donné de façon directe au sujet conscient de soi, est donc la volonté de faire quelque chose : que l’agir suive ou non, cela dépend du pouvoir qu’il convient de reconnaître à un sujet de volonté tel que nous.

Ainsi se trouve posée (dans la philosophie moderne, c’est-à-dire postcartésienne) la question de savoir à quel titre je puis prétendre à la qualité d’acteur.


Ver online : Vincent Descombes


DESCOMBES, Vincent. "L’action", in KAMBOUCHNER, Denis. Notions de philosophie II. Paris, Gallimard, 1995