Chamo "falácia axiológica" a derivação da tese de que o "valer" e os "valores" teriam alguma espécie de "ser", seriam simulacros passíveis de compreensão, "entes", embora jamais por excelência(!), dotados de algum estatuto ontológico positivo, seja de que tipo for (em minha terminologia, a tese de que poderiam integrar a Experiência), tese comumente derivada a partir do pressuposto (não nos meus termos, obviamente) de que a Mente, o Pensamento e a Linguagem projetam fora do Ser, na (…)
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FernandesFC / FernandesSH / Sérgio L. de C. Fernandes / SFernandes
SÉRGIO LUIZ DE CASTILHO FERNANDES (1943-2018)
HOMENAGEM DE LEANDRO CHEVITARESE
Sérgio L. de C. Fernandes, Ph.D., professor de Filosofia da PUC-Rio e professor-titular de Filosofia da UERJ (aposentado). Depois de publicar um livro sobre Teoria do Conhecimento nos Estados Unidos (sua tese de doutorado sobre Kant na Inglaterra), e outro no Brasil, "Filosofia e Consciência", além de artigos, dedica-se ultimamente à antropologia filosófica e à filosofia da religião, onde já se notam os resultados desta pesquisa em seu último livro "Ser Humano - Um Ensaio em Antropologia Filosófica".
Destaques:
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995 [FernandesFC]
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj [FernandesSH]
Matérias
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Fernandes (SH:283-286) – Falácia Axiológica
14 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro -
Fernandes (SH:12-15) – Antropologia Filosófica
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBem... nossas investigações acerca dessas teses poderíam chamar-se de “Antropologia”. Mas há uma “antropologia física”, que é uma ciência biológica; outra “cultural”, que é uma ciência... digamos, “social”. Há quem pense que haja antropologias “religiosas”. E, finalmente, ainda há uma outra, cujo estatuto acadêmico é tido — injustamente! —, em certos departamentos de Filosofia, como altamente dúbio, que se chamaria “Antropologia Filosófica”, e que vem a ser precisamente a área de (…)
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Fernandes (SH:36-40) – Ser - Existência - Experiência
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroPor meio de uma Ontologia da Experiência (como em Ontologia, na minha concepção, não há dinâmica alguma, dei ao primeiro Capítulo o título de “Estrutura da Experiência” ), exponho a tese de que, em nossa “verdadeira natureza”, em nosso ser-em-si, somos experiências, não as “temos”. É o instrumento constituído pela mente, pelo pensamento e pela linguagem, que entretém a concepção de que seríamos não as Experiências em si mesmas, mas seus “experienciadores”. Acontece, como já disse, que não (…)
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Fernandes (FC:156-161) – identificação – consciência-inconsciência
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroOra, o falso sempre é dualidade — dizemos que ele “gera” dualidade apenas porque estamos num jogo de luz. Essa falsidade se chama “Identificação”, e esta é a primeira dualidade: de um [156] lado, “isso que se identifica”; de outro, “aquilo com que isso se identifica”. Mas não havia, no nosso jogo, no sentido próprio de “havia”, um “eu”: nosso objeto de investigação, desde o início, foi a consciência. Sendo o pensamento e a palavra já artifícios, estamos movimentando uma estrutura simbólica, (…)
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Fernandes (FC:204-208) – A invenção recente da consciência
9 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroGostaria de mostrar ao leitor de que maneira a consciência pode ser compreendida como parte do que chamamos de “natureza”; em outras palavras, tentarei eu mesmo compreender a “natureza” da consciência, ou seja, a relação entre a Aparência da consciência e suas “projeções” ou hipóteses, como uma “Realidade” no Universo. É a Realidade uma “parte”, ou “aspecto” da mente humana, ou esta uma “parte”, ou “aspecto”, daquela? Pelo que vimos no Segundo Capítulo, esta questão não pode ter uma resposta (…)
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Fernandes (FC:25-29) – as ideias fundamentais da Ética
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroPassemos, portanto, do "departamento" de Epistemologia ao "departamento" de Ética. A ideia do "dever ser" é, na cultura humana, a marca do desastre, a chaga aberta na Consciência pela inconsciência, o sintoma do desequilíbrio, da desarmonia e do conflito, o lugar hipersensível da dor e do sofrimento, a principal estrutura de sujeição, a rede obscurecedora da atenção, o sulco por onde nossas melhores energias são drenadas, o primeiro de todos os pontos de identificação, o resultado mesmo (…)
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Fernandes (SH:9-12) – Ser Humano
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroEm que consistiria, para qualquer coisa (organismos individuais da nossa espécie, robôs, etc.), ser ou não ser humana — “verdadeiramente” humana — pode parecer óbvio para todos nós, pelo menos em nossos estados de espírito menos reflexivos, mas basta pensar mais um pouco a respeito do assunto e a questão se revela enigmática. Na verdade, permanece um enigma, após milênios do que se conhece como história ou civilização. É o que se chama, entre pesquisadores, filosóficos ou científicos, de um (…)
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Fernandes (FC:149-153) – consciência
10 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNo entanto, o que se trata agora de compreender é nossa incompreensão mesma. No Capítulo precedente, terminamos num jogo de luz. A primeira condição desse “Jogo”, ou “Ontologia”, é, no símile adotado, Luz difusa, sem fonte discernível. Não sugiro que essa Luz seja o Ser Primevo, o Plenum Ôntico, a Consciência Absoluta, ou Deus. Não se trata de um exercício de cosmogonia. Trata-se, antes, de uma estrutura, se quiser o leitor, como nos mitos: muitas coisas, muitos símbolos vão “ocupar o lugar” (…)
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Fernandes (FC:82-83) – conhecimento da Natureza “regido” por projeções antropomórficas
24 de abril, por Cardoso de CastroA expressão meramente extensional do universal legaliforme deixa aberta a possibilidade de que, embora não haja exceção, tudo não passe de coincidências, de acidentes, por mais incrível que seja para nós essa visão das coisas. Por outro lado, o sentido de uma pretendida expressão intensional do universal (no sentido nômico, ou “essencial” de necessidade extra-lógica) é para nós inescrutável, como já veremos a propósito da noção de “essência”. Mas é isso que ocorre quando nos “pensamos” como (…)
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Fernandes (SH:49-51) – a ideia de "ser em si"
24 de abril, por Cardoso de CastroA ideia de “Ser enquanto Ser”, ou de “Ser em si”, tem sido identificada tradicionalmente, na Filosofia ocidental, sobretudo com três noções, todas elas dependentes, ainda que de maneiras obscuras e insidiosas, da noção incoerente (não que eu tenha a coerência em alta conta!) de “sujeito imutável da mudança” [sic]: são elas as noções de substância, essência e existência. Essas identificações, afirmo, constituem um tremendo equívoco, têm levado a metafísica a uma série de desastres e tenho (…)
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Fernandes (FC:81-82) – eventos, causas e efeitos
24 de abril, por Cardoso de Castro[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 81-82]
Não sendo possível conceber o Ser de um ente determinado, seja como constituído de suas qualidades (a cebola sem caroço), seja como constituído de uma substância-substratum (o caroço sem a cebola), o caminho intermediário seria experimentar concebê-lo como constituído somente de algumas qualidades privilegiadas, mas não todas. Mas isto seria (…) -
Fernandes (FC:79-81) – indivíduos e conceitos
24 de abril, por Cardoso de Castro[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 79-81]
Mas se as coisas individuais não são o que estamos habituados a pensar que são, nossa investigação deve prosseguir. Desta vez, sem nos deixarmos guiar por outrem, experimentemos. Em que consiste o Ser de um ente qualquer? Não comecemos por exemplos complicados, como os universais. Tome este livro, que você lê. A resposta óbvia parece ser que ele é (…) -
Fernandes (FC:41-42) – conhecer não é acrescentar, mas retirar
24 de abril, por Cardoso de CastroA Filosofia pode, portanto, libertar-nos, tanto do “dever ser”, essa marca da escravidão, quanto da “intenção”, essa artífice dos métodos. Assim como, talvez, a Estética não se possa disciplinar como uma teoria do Belo, mas, com mais pertinência, como uma investigação da singularidade irredutível da sensação-como-modo-de-conhecer, também a Ética não se poderá disciplinar como uma teoria do Bem ou do Dever Ser, mas, com mais pertinência, como uma investigação que aponta para além do bem e do (…)
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Fernandes (FC:12) – símbolos
24 de abril, por Cardoso de CastroAntes de prosseguir, lembro ao leitor que há símbolos e “símbolos”: alguns se instalam no imaginário como estereótipos ideológicos e, como tal, assujeitadores; estão ali para serem desmascarados. Outros estão ali como mistérios insondáveis, tremendos, não como máscaras, pois os mistérios nada encobrem, de modo que pretender desmascará-los é como tentar transportar todo o oceano para um pequeno balde que temos nas mãos; estes símbolos, na verdade, só estão no imaginário para quem, tolamente, (…)
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Fernandes (FC:90-92) – A incomensurabilidade dos paradigmas
24 de abril, por Cardoso de CastroMas é preciso agora — ossos do ofício! — desincumbirmo-nos das “essências reais”, e investigar a natureza da Existência. Um pouco mais de ginástica. Tome alguma coisa; abstraia-lhe a existência: o que restaria seria sua essência. Defina alguma coisa; entenda a definição: seu significado seria a essência. Tome agora outra vez alguma coisa, mas, ao invés de abstrair-lhe a existência, inclua-a no gênero, ou na espécie a que pertence: você a teria incluído no que seria a sua essência. Lembre-se (…)
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Fernandes – O Lugar da Ciência
24 de abril, por Cardoso de CastroPara começar, alguns fatos básicos.
Além de biológica, aquilo que costumamos chamar de “mente” é, em larga medida, social, trans-individual e até “ecológica”. Basta nos lembrarmos de como “o cérebro”, como sistema, ou “o meio ambiente”, como sistema, se inter-monitoram. Além disso, quaisquer sub-sistemas monitoradores, cerebrais ou ambientais, estão de tal maneira intimamente acoplados um ao outro que seria difícil determinar de modo não arbitrário a fronteira entre cérebro e meio (…) -
Fernandes (SH:45-47) – Absurdo do "conhecimento criador" ou do "só conheço o que crio"
24 de abril, por Cardoso de CastroHá um sentido vulgar de "experiência" (aqui, sempre com "e" minúsculo), que, apesar de confuso ao extremo, é moeda corrente e até mesmo tido em alta conta por epistemólogos, como se correspondesse a uma noção fundamental (para cientificistas, entenda-se "útil"). Trata-se de um sentido intimamente relacionado ao de "conhecer" (sobretudo no sentido de "apreensão cognitiva"), "explicar", etc. O próprio Kant fez desse sentido de "experiência" a chave mestra de (quase) todos os seus argumentos. (…)
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Fernandes (FC:84-89) – Ontocentrismo e antropocentrismo em Metafísica
24 de abril, por Cardoso de CastroHá dois sentidos em direção aos quais podemos buscar o Ser, dando origem a duas metafísicas radicalmente distintas, que divergem em direções opostas. Se pretendemos conhecer a nós mesmos à luz do Ser, temos a metafísica ontocêntrica. Se pretendemos conhecer o Ser à luz da nossa consciência, temos a metafísica antropocêntrica. Na primeira, a Antropologia Filosófica é um capítulo da Ontologia; na segunda, a Ontologia é um desenvolvimento da Antropologia Filosófica. Na metafísica ontocêntrica (…)
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Fernandes (SH:68-70) – Intencionalidade ou intensionalidade
24 de abril, por Cardoso de CastroOs medievais, depois Brentano, Husserl, etc., ao se referirem a uma suposta “intencionalidade”, deviam estar querendo referir-se à visão ou ponto de vista de um sujeito, não a propriedades metafísicas como a transparência da consciência, ou a enigmáticas capacidades mentais, como a de tomar algo como objeto. O que é, afinal, que eles poderiam estar querendo dizer? Certamente não pensavam em algo cientificamente tão depurado quanto a (realmente enigmática) ideia de “relação semântica” ou (…)
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Fernandes (SH:291-293) – O "dever-ser" é o que não é
24 de abril, por Cardoso de CastroO que nos resta é apenas investigar, do ponto de vista (cego) da Mente, do Pensamento e da Linguagem, ou seja, cavalgando o Instrumento, a própria noção de "valor", suas espécies, as relações entre elas, etc. O que teriam os valores, por exemplo, a ver com a razão e o intelecto? A venerável tradição chamada "tradição intelectualista", que foi inaugurada no Ocidente por Sócrates, mas no Oriente o foi certamente com o Vedanta, e à qual voltaremos na próxima Seção, relaciona o Bem com a Verdade (…)