Antropologia Filosófica Ernst Cassirer Trad. Vicente Felix de Queiroz Editora Mestre Jou 1972
Parece ser universalmente admitido que a meta mais elevada da indagação filosófica é o conhecimento de si próprio. Em todos os conflitos travados entre as diferentes escolas filosóficas, este objetivo permaneceu invariável e inabalado: revelou-se o ponto de Arquimedes, o centro fixo e imutável, de todo pensamento. Nem mesmo os mais céticos pensadores negaram a possibilidade e a necessidade do (…)
Página inicial > Palavras-chave > Temas > cosmos etc
cosmos etc
kosmos / κόσμος / κοσμικός / kosmikos / cósmico / kosmos aisthetos / κόσμος αἰσθητός / mundo sensível / κόσμος νοητός / mundo inteligível / mundo das formas / mundo das ideias / ἀκοσμία / akosmia / desordem
gr. κόσμος, kosmos: ornamento, ordem, o universo visível, físico; kosmos aisthetos e kosmos noetos. Para Platão, só há mundo sensível, a noção de "mundo inteligível" não aparecendo senão muitos séculos depois dele. O mundo é a totalidade ordenada de todas as coisas sensíveis. Uma totalidade nomeada de diferentemente: "o todo" (to pan), o "universo"; o todo ordenado (kosmos); o céu (ouranos), esta região do universo que apresenta mais regularidade e mais permanência, que é a mais ordenada. [Luc Brisson ]
gr. κόσμος νοητός, kósmos noêtós: universo inteligível. Um dos problemas decorrentes da teoria platônica das Formas é o da sua localização. Platão é categórico em que os eide não existem em parte alguma (Synip. 211a; confrontar Aristóteles , Phys. III, 203a). Há, contudo, outros passos que indicam que eles têm de fato uma «localização» num sentido mais lato do termo (Rep. 508c, 507b; Fedro , 247c-e). A linguagem figurativa do Timeu força-o a ser mais explícito; a sua teoria da mimesis sugere um modelo do qual o universo visível (kosmos aisthetos) é uma imagem (eikon), Tim. 30c-d. Este é o universo inteligível que «contém» os principais grupos dos eide (loc. cit.; ver zoon). «Contém» é uma palavra difícil, pois não é de modo algum clara a forma como Platão viu os agrupamentos superiores dos eide (ver o principal texto paralelo, Soph. 253d; mas aqui o contexto é dialético).
É possível conceber o mundo em diferentes níveis de abstração, desde o mais imediato ao mais cósmico e abrangente. Entretanto na constituição fundamental de ser-no-mundo, a mundidade é imanente ao Dasein (ser-aí). Tanto assim é, que podemos afirmar que mundo e percepção estão intimamente ligados; de fato, mundo é percepção, e, neste sentido, percepção equivocada ou justa. Percepção em erro constitui o mundo na miséria, percepção justa é perdão do mundo, por conseguinte, salvação do mundo de injustiças, constituído pela percepção equivocada. O mundo é e se mantém no erro da percepção, determinado pela fonte que o constitui injusto, miserável, lugar de dor, etc. Na decisão e crença — sustentação do pensamento que afirma esta percepção equivocada permanece o mundo o que é assim determinado. Na cessão deste pensamento, pelo perdão da percepção equivocada, a separação na raiz da constituição do ego é posta à prova pelo perdão, mundo desaparece, erros desvanecem-se. Conclui-se que mundo é uma construção da percepção equivocada simbolizando o medo (a ausência do amor), uma resistência a Deus, e suposta alienação da Filiação [estrangeiridade — Unheimlichkeit].
Notions philosophiques
- Um mundo é:
- um todo independente
- um todo (não um ser simples): "os mundos e os outros compostos" (Epicuro ).
- um todo (não o todo: "Do Universo e dos Mundos" (Giordano Bruno , vide Frances Yates )
- independente (segundo Platão um vivente — Timeu — mas não um organismo
- a disposição das partes de um todo: "Kosmos não designa um existente qualquer (...) designa o estado, quer dizer o modo segundo o qual existe estes existentes" (Heidegger , Questões I).
- um todo independente
- O mundo é:
- a totalidade dos entes por oposição a:
- : "Além do mundo ou agregado de coisas existe alguma Unidade" (Leibniz ).
- natureza: o mundo é o encadeamento dos fatos, a natureza o sistema de leis (Cournot).
- o termo é sinônimo de universo: "Chama-se mundo ou universo a série de entes finitos tanto simultâneos como sucessivos encadeados uns nos outros" (Wolff).
- "A síntese só para em um todo que não é mais uma parte quer dizer um mundo" (Kant ).
- Mas como a série que não pode ser terminada dos estados do universo pode ser remetida a um todo"?
- a totalidade absoluta, por oposição ao universo:
- Renouvier aplica "o nome mundo (...) a mais vasta das sínteses, que compreende aquilo que se denomina vulgarmente mundo, e também (...) Deus" (Lógica).
- a totalidade dos homens, por oposição ao universo material: "Denomina-se mundo não somente este universo que Deus fez (...) mas os habitantes do mundo" (Agostinho de Hipona , Sobre a Epístola de João).
- aqueles que amam o universo e não Deus: "Todos aqueles que amam o mundo são chamados mundo" (Agostinho de Hipona, ibid.).
- aquilo que interessa aos homens: "o conceptus cosmicus designa aqui isto que interessa necessariamente cada um (Kant, Crítica da Razão Pura).
- "O mundo designa enfim o conceito ontológico-existencial de mundanidade" por oposição aos conceitos ôntico e existenciário (Heidegger, Ser e Tempo): "Isto para qual a realidade humana como tal transcende, chamamos mundo")
- a totalidade dos entes por oposição a:
[Excertos de "Les Notions philosophiques ". PUF, 1990]
Jean-François Duval
«A noção de mundo deve significar algo outro que a totalidade do que existe e que se encontra sempre a sua disposição no mundo». «Algo outro». Fora dos mapas. Fora dos eventos referidos pelas datas históricas ou análises sociológicas. Fora das relações econômicas ou das relações políticas. Fora. «Algo outro». O Mundo. O «mesmo» Mundo, cuja identidade desejada rompe com a pluralidade das coisas disponíveis. O «mesmo» Mundo que faz romper as amarras de com o mundo balizado e calculado daqueles que sabem se orientar. O «mesmo» Mundo que não é mais do que um ponto de fuga, uma perspectiva, o polo de um desejo incapaz de se formular de outro modo que como desejo, vetor, transcendência, trans-ascendência. Sem fim. Espiral. [Heidegger et le Zen]
Fraile
El mundo sensible (κόσμος αἰσθητός, kosmos aisthetos).—El mundo sensible resulta de la unión de la parte inferior del Alma universal (segunda alma) con la materia. De las múltiples diferencias que la materia añade al Alma universal resulta la diversidad de los seres corpóreos. No obstante, el mundo es un viviente único, pues todos los seres están informados por una misma Alma. «El Alma universal es la que ha producido, insuflándoles su espíritu de vida, todos los animales que hay sobre la tierra, en el aire y en la mar, así como los astros divinos y el cielo inmenso. Ella es la que ha dado al cielo su forma y la que preside sus revoluciones periódicas. Y todo esto sin mezclarse a los seres a quienes ella comunica la forma, el movimiento y la vida. Ella les es, en efecto, muy superior por su augusta naturaleza, mientras que éstos nacen y mueren según que ella les da o les retira la vida». «Así el Alma, descendiendo en el mundo, ha sacado este gran cuerpo de la inercia en que yacía y le ha dado el movimiento, la vida y la inmortalidad. El cielo, movido eternamente por una potencia inteligente, ha llegado a ser un ser lleno de vida y de felicidad. La presencia del Alma hace un todo admirable de aquello que antes no era más que un cadáver inerte, agua y tierra, o más bien tinieblas de la materia y del no-ser, objeto de horror para los dioses, como ha dicho un poeta».
Por la unión del Alma universal con la materia, el mundo sensible se convierte en un reflejo del mundo inteligible y resulta una armonía universal entre todos los seres pertenecientes a él. [Guillermo Fraile , História da Filosofía]