Página inicial > Modernidade > Søren Aabye Kierkegaard > Kierkegaard (Ou-Ou I:78-79) – desejo o riso ao meu lado

Kierkegaard (Ou-Ou I:78-79) – desejo o riso ao meu lado

quinta-feira 16 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Aconteceu-me uma coisa prodigiosa. Fui arrebatado ate ao sétimo céu. Estavam lá reunidos todos os deuses. Foi-me concedido por especial graça o favor de realizar um desejo. «Queres tu», disse-me Mercúrio [1], «queres tu ter juventude, ou beleza, ou poder, ou uma longa vida, ou a mais bela rapariga, ou uma outra magnificência das muitas que temos na arca da quinquilharia — escolhe lá, mas só uma coisa.» Fiquei baralhado por um instante, mas dirigi-me aos deuses em seguida: «Honoráveis contemporâneos, escolho uma única coisa — que possa sempre contar com o riso do meu lado.» Nem um único dos deuses respondeu uma palavra, ao invés, largaram todos a rir. Perante isto, concluí que o meu pedido fora cumprido, e achei que os deuses sabiam exprimir-se com requinte; porque teria sido deveras inapropriado responder com seriedade: «foi-te concedido».

[zotpress items="3829881:J49QMMM5" style="associacao-brasileira-de-normas-tecnicas"]


[1Na mitologia romana. Mercúrio corresponde a Hermes na mitologia grega. Deus romano do comércio, e da eloquência, dos viajantes, dos ladrões e dos rebanhos; corno veloz emissário de Júpiter, era facilmente identificável através do elmo e das sandálias aladas, bem como pela bolsa e pelo caduceu.