Página inicial > Barbuy, Heraldo > Barbuy: Progresso (4) - progressismo, sociologismo, materialismo

Barbuy: Progresso (4) - progressismo, sociologismo, materialismo

quinta-feira 7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

  

4. O progressismo dissolveu inteiramente a personalidade humana no todo social; pois, para que o progresso horizontal indefinido fosse possível era preciso que a sociedade e não o indivíduo fosse uma entidade real; que a sociedade e não o indivíduo tivesse um destino. E no mesmo passo em que o sociologismo explicava inteiramente o individual pelo social, o materialismo completou a obra explicando o social pelo geográfico e pelo econômico; neste processo de dissolução [107] dos valores metafísicos, o indivíduo apareceu como acidente da sociedade e depois a própria sociedade como acidente das relações de produção econômica. Mas o ridículo do materialismo, a que Bergson   já fez inteira justiça apesar do sutil progressismo do seu Élan Vital, se ostenta na sua plenitude quando se pensa que todas essas explicações quantitativas do homem eram formuladas à luz das leis que ele descobria num mundo que não era ele, sujeito, e sim o seu objeto. O sujeito do conhecimento explicando-se através de leis por ele descobertas no objeto exterior conhecido, tal o método positivista que só descobre uma realidade forjada pelo mais e pelo menos e onde o objeto de cada ciência se distingue dos demais pelo grau da sua complexidade, não pela distinção da sua natureza. Mas, destruída pelo monismo a correlação entre o sujeito e o objeto do conhecimento e a sua irredutibilidade, tudo se tornou possível, inclusive a negação da essencialidade, da originalidade, da insubstituibilidade de cada ser humano isolado, que não é a parte de um todo e sim e sempre um todo em si mesmo, incomunicável e idêntico a si próprio, substantia individua, rationalis naturae.