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Barbuy: Filosofia não é Ciência

quinta-feira 7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

  

Variam as acepções da Filosofia e varia também o seu nome. Mas, como quer que a Filosofia seja tomada, ela não se confunde com nenhuma outra ciência, com nenhum outro campo de preocupações. O âmbito em que se move, se distingue, pela sua natureza, de todos os outros. A Philosophia pode ser tomada num sentido estrito, designando uma ciência do Ser ou uma ciência das essências como a definiu Platão. Ou ainda, uma ciência da essência e da existência de todos os seres, como a compreendem Aristóteles e os filósofos realistas tradicionais. Em sentido lato, a Filosofia pode ser entendida como Sabedoria da Vida ou como conjunto de pressupostos e regras da vida sábia. Ou ainda, como visão, imagem ou perspectiva do Mundo, o que se exprime na palavra alemã Weltanschauung. Em todos os seus sentidos a Filosofia constitui um reino que as demais ciências não atingem, nem podem, por natureza, atingir.

Variam desde a Antiguidade os nomes da Filosofia: Platão denomina Dialética este caminho da Sabedoria, como sendo uma ciência que tem o mesmo nome do método que usa (Dialética), para chegar à Verdade, que é o seu objeto. Aristóteles denomina esta ciência pré-eminente de Teologia ou Filosofia Primeira. Andrônico de Rhodes, ordenando as obras de Aristóteles colocou, depois dos livros Físicos, os livros que tratam do objeto da Filosofia propriamente dita, que vêm depois da Física e que por isso se denominam Meta-Físicos; de onde, a Filosofia recebeu a denominação tradicional de Metafísica.

Dialética, Teologia, Filosofia Primeira, Metafísica, foram as denominações clássicas da Filosofia. Na época moderna, e refletindo o seu espírito, Clauberg deu à Filosofia o nome de Ontologia. A Metafísica, porém, se distingue, pelo seu espírito, da Ontologia e não se deve tomar uma denominação pela outra. Ontologia é uma denominação moderna da Filosofia, orientada para o racionalismo e para a subjetividade e não é sinônimo exato de Metafísica. Foi a tentativa de reconciliação entre empirismo e racionalismo, processada por Leibniz  , que deu a classificação das ciências de Wolff, onde a Ontologia aparece como parte da Metafísica. Qualquer que seja porém a perspectiva em que se coloque a Filosofia, jamais o seu objeto se identificou com o de qualquer outra ciência.

Antes de tudo, como ciência da essência e da existência de todos os seres, a filosofia não é uma ciência do particular, mas uma ciência da realidade trans-física, ou meta-physica, isto é, da realidade total e profunda. A filosofia não é, como a julgaram os positivistas e como a julgam ainda hoje muitos cientistas, uma soma das ciências particulares ou uma generalização dos resultados das ciência particulares e sim e sempre uma ciência que tem por objeto o que as outras ciências não atingem e que é a essência e a existência dos diferentes seres. A filosofia não é a soma das ciências particulares, as quais tratam de aspectos particulares dos seres, porque a filosofia não tem por objeto o resultado, mas antes o fundamento dos aspectos particulares dos seres. A filosofia não se preocupa com os aspectos particulares dos seres, mas com o fundamento desses aspectos que é a essência ou a substância dos seres. Não é pois a filosofia uma ciência qualquer, uma ciência no sentido atual da palavra. A generalizada corrupção do uso da palavra ciência torna lícito dizer que a Filosofia está fora de todas as ciências; que a filosofia não é ciência, mas sabedoria.