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Barbuy: Filosofia aristotélica

quinta-feira 7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro

  

Segundo Aristóteles a Filosofia é a ciência do Ser enquanto ser, a ciência da substância, a ciência do universal, a ciência das ciências. A filosofia, segundo Aristóteles, não se confunde com nenhuma das ciências particulares, as quais recortam uma certa parte do ser e só se preocupam com os atributos dessa parte (Met. L. IV. G,E). A filosofia é a ciência da essência ou do que a cousa realmente é; não é o superficial conhecimento da quantidade, ou da qualidade, da atividade ou passividade, que são apenas acidentes de que podem tratar as ciências particulares (Met. B. 2, 15). A filosofia aristotélica tem por objeto a realidade total. E a realidade total não é a soma das realidades parciais, tal como a filosofia não é a soma das ciências particulares. Se a totalidade do real fosse uma justaposição de partes, teriam razão os positivistas e materialistas em considerar a filosofia como uma “spécialité de la généralité”, isto é, como soma e generalização dos resultados das ciências particulares, ou ainda, como síntese dos resultados gerais das ciências quantitativas; teriam razão esses manuais de filosofia que começam por negar a existência da filosofia, negando-lhe um objeto próprio e um sentido próprio e fazendo em suma da filosofia uma espécie de almanaque das ciências. — Mas, ao contrário, a totalidade do real não é uma justaposição de partes; a totalidade do real é a sua radicalidade; é a unidade profunda que dá sentido às partes.

A filosofia segundo Aristóteles tem por objeto a substância, indo além dos acidentes que estudam as ciências secundárias. Havendo inserido nos seres concretos aquela realidade que Platão punha no reino das Ideias, a filosofia aristotélica estabeleceu a substância como significando o sujeito ao qual compete existir por si e não por outrem; a filosofia se tornou então a verdadeira ciência do concreto, pois o seu objeto é a substância como existente por si, que é o que faz com que o concreto seja concreto. A substância é o fundamento intrínseco da única realidade verdadeira, que é o indivíduo; é o que faz com que o indivíduo seja indivíduo (individuum, que não pode ser dividido). Como fundamento, a substância é também suporte, hypo-heimenos, no sentido de sub-stans, o que torna possíveis os acidentes, como diz também supporte, de sub-portare, que sus-tenta os acidentes. A substância é, portanto, o que é por si e o que sub-está aos acidentes. Ora bem, a Filosofia é a única ciência que tem por objeto a substância; as demais ciências são ciências do superficial, do que está à superfície ou do que é acidental.

O que é a substância do lado da cousa concreta, individual, é também a essência do lado do sujeito. A essência é geral e lógica. A substância é individual e concreta. A essência é a tradução lógica da verdade metafísica da substância. A filosofia é pois uma sabedoria do fundamento ou da essência e da realidade última dos seres. E porisso mesmo a palavra philosophia encerra o termo Sophia, que significa Sabedoria. Não é ciência no sentido vulgar. Sabedoria não é saber.