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Fernandes (FC:94-96) – Distinção entre aparência e realidade

quarta-feira 24 de abril de 2024, por Cardoso de Castro

  

Quem quer, ou a quem interessa, distinguir Aparência de Realidade? Essa distinção é político-administrativa, antropológico-cultural, psico-social, sócio-biológica. Essa distinção é consensual. Não há uma “verdade” transfenomenal absoluta sobre o que é Aparência e sobre o que é Realidade. Essa “verdade” é epistêmica, não alética. Não costumamos pensar do objeto X que ele é indefinidamente identificável: Papai Noel é velho, bondoso, etc., mas ... não nos interessa saber de quem ele é primo, se era mal-criado quando criança, se usa roupa de baixo, etc. Tais limites das determinações intensionais são antropológico-culturais. Em outra cultura, poderíamos estar interessados naquelas coisas. Compare com um objeto que costumamos pensar que existe, ou seja, que é parte da Realidade, e ele logo nos parecerá “inesgotável” nas suas determinações. Mas todos os objetos podem ser considerados indefinidamente identificáveis, ou seja, existentes, dependendo da situação (Wittgenstein   diria, suponho, do jogo de linguagem, ou da forma de vida). Não há realidade absoluta, toda realidade é relativa. O que é realidade para uns, pode ser Aparência para outros, e vice-versa. Portanto, não há descrição “pré-teorética” neutra de essências. Contudo, embora a fronteira entre Realidade e Aparência seja relativa e móvel, que haja fronteira em si, ou como tal, é inescapável: nisto consiste sua dimensão alética. Mas esta dimensão, por sua vez, radica, não numa suposta auto-transparência cartesiana da consciência para um Ego, mas na opacidade gerada pela Identificação, como veremos no próximo Capítulo. A fonte da intencionalidade e da distinção entre Aparência e Realidade não é o Ego, mas a Identificação. Pois o Ego é produto da Identificação, não o inverso. Não é o Ego que identifica: ele é o “identificado”.

Quem quer, ou a quem interessa, distinguir Aparência de Realidade? Essa distinção é político-administrativa, antropológico-cultural, psico-social, sócio-biológica. Essa distinção é consensual. Não há uma “verdade” transfenomenal absoluta sobre o que é Aparência e sobre o que é Realidade. Essa “verdade” é epistêmica, não alética. Não costumamos pensar do objeto X que ele é indefinidamente identificável: Papai Noel é velho, bondoso, etc., mas ... não nos interessa saber de quem ele é primo, se era mal-criado quando criança, se usa roupa de baixo, etc. Tais limites das determinações intensionais são antropológico-culturais. Em outra cultura, poderíamos estar interessados naquelas coisas. Compare com um objeto que costumamos pensar que existe, ou seja, que é parte da Realidade, e ele logo nos parecerá “inesgotável” nas suas determinações. Mas todos os objetos podem ser considerados indefinidamente identificáveis, ou seja, existentes, dependendo da situação (Wittgenstein diria, suponho, do jogo de linguagem, ou da forma de vida). Não há realidade absoluta, toda realidade é relativa. O que é realidade para uns, pode ser Aparência para outros, e vice-versa. Portanto, não há descrição “pré-teorética” neutra de essências. Contudo, embora a fronteira entre Realidade e Aparência seja relativa e móvel, que haja fronteira em si, ou como tal, é inescapável: nisto consiste sua dimensão alética. Mas esta dimensão, por sua vez, radica, não numa suposta auto-transparência cartesiana da consciência para um Ego, mas na opacidade gerada pela Identificação, como veremos no próximo Capítulo. A fonte da intencionalidade e da distinção entre Aparência e Realidade não é o Ego, mas a Identificação. Pois o Ego é produto da Identificação, não o inverso. Não é o Ego que identifica: ele é o “identificado”.


Ver online : Sergio L. C. Fernandes


FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995.