Filosofia – Pensadores e Obras

Wittgenstein

Wittgenstein — Ludwig Josef Johann Wittgenstein nasceu em Viena em 1889, sendo apenas meses mais velho que Heidegger. De origem judaico-alemã (sua família era da Saxônia), foi educado num ambiente cultural de extremo refinamento — Johannes Brahms era um dos convidados habituais de sua casa — tendo tido uma formação bastante eclética. Em 1907 entrou na Technische Hochschule de Berlin-Charlottenburg, para se graduar em engenharia mas em 1908 abandonou-a para ir à Inglaterra, onde se matriculou no departamento de engenharia da Universidade de Manchester. Durante este período, seus interesses em engenharia fizeram-no projetar um motor a jato para aviões (em 1911), e dificuldades na parte teórica do projeto desviaram seus interesses para a matemática, para os fundamentos da matemática e para a filosofia, finalmente. Um encontro com o grande matemático Gottlob Frege dirigiu-o para Bertrand Russell, no outono de 1911. Tornando-se íntimo do círculo ligado a Russell, Wittgenstein conheceu, entre outros, a G. E. Moore, Alfred North Whitehead e John Maynard Key-nes. Iniciada a guerra, Wittgenstein se alistou no lado austríaco, e será na guerra que o Tractatus Logico-Philosophicus é escrito. No fim da guerra, Wittgenstein renuncia à herança que deveria receber de seu pai, e transformou-a num fundo que beneficiará anonimamente a Rainer Maria Rilke a Georg Trakl. O Tractatus é publicado em 1921, graças à intervenção de Bertrand Russell, enquanto Wittgenstein trabalhava como mestre-escola num lugarejo da Áustria. Considerando esgotado, com seu livro, o assunto “filosofia”, Wittgenstein só de novo se entusiasma com uma conferência, em 1928, pronunciada pelo matemático intuicionista L.E.J. Brouwer. Em junho de 1929 Cambridge concede ao pensador o Ph. D., e logo depois Wittgenstein inicia os seus cursos na universidade, que será o centro de seu trabalho até pouco antes de sua morte, em 1951. Além do Tractatus, Wittgenstein publicou em vida apenas o ensaio Some Remarks on Logical Form, e permitiu que seus alunos, na década de trinta, editassem em mimeógrafo os textos que seriam, mais tarde, conhecidos como o Blue Book e o Brown Book. Após sua morte foram publicados as Investigações Filosóficas e os cadernos preparatórios para o Tractatus.

Junto com Heidegger, Wittgenstein deve ser o maior pensador da primeira metade do século. Suas obras deram origem a duas escolas de pensamento — o empirismo lógico e a escola de análise linguística — que hoje, no entanto, podemos ver como resultado de um mal-entendido das intenções do pensador. Seu pensamento tem uma sólida base existencial, tomada em autores como Platão, Santo Agostinho, Schopenhauer, Kierkegaard e Tolstoi, mas este primado da existência se refina e se torna purificado através da rigorosa formação logicista que é sua base matemática. Desta maneira, só com dificuldade podemos extrapolar de uma obra como o Tractatus os problemas e as questões tipicamente existenciais que lhe deram origem, questões, no entanto, nitidamente expostas nos cadernos preparatórios escritos durante a guerra de 14-18. Wittgenstein chama à linguagem os problemas da existência, e pretende encontrar um caminho para a destruição destes problemas (pretende mostrar que são “falsos problemas”) através da análise da estrutura da linguagem. (Francisco Doria)


As teses principais do neopositivismo acham-se já indicadas em Logisch-philosophische Abhandlung (Tratado lógico-filosófico) de Ludwig Wittgenstein, discípulo e amigo de Russell, professor de filosofia em Cambridge. Nesta obra excessivamente difícil, composta de aforismos numerados, Wittgenstein parte do atomismo lógico de Russell, segundo o qual o mundo é composto de fatos absolutamente independentes uns dos outros. Nosso conhecimento é cópia destes fatos concretos, é sempre de índole singular, os enunciados gerais são todos “funções de verdade” dos enunciados singulares, isto é, formam-se a partir destes mediante relações lógicas. Assim, por exemplo, o enunciadotodo homem é mortal” é idêntico, quanto ao sentido, ao enunciado “Pedro é mortal e João é mortal”, etc. Portanto, a lógica possui um caráter puramente tautológico, nada diz de novo, os juízos lógicos são vazios e incapazes de nos dar qualquer esclarecimento acerca da realidade. A realidade é investigada pelas ciências da natureza. A filosofia não pode ser nenhuma doutrina, é mera atividade.

Wittgenstein elaborou, muito especialmente, uma teoria da linguagem. Segundo ela, não é possível falar com sentido da própria linguagem, sendo, por conseguinte, impossível a análise lógico-gramatical. Todavia, como todas as questões filosóficas se reduzem, em última instância, a essa análise, elas outra coisa não são senão pseudoproblemas insolúveis. Wittgenstein termina sua enigmática obra com a declaração de que suas próprias conceituações seriam destituídas de sentido e de que “devemos calar aquilo de que não podemos falar”.

D. Lógica e experiência.

Os neopositivistas, partindo das ideias de Wittgenstein, elaboraram uma teoria excessivamente técnica, da qual podemos resumir nos seguintes termos as teses principais: só existe uma fonte de conhecimento, a saber, a sensação, e esta não capta senão acontecimentos isolados e materiais. Como se vê, é a tese empirista clássica. Mas em seus desenvolvimentos os neopositivistas separam-se dos empiristas e dos positivistas clássicos. Como é sabido, os empiristas afirmavam que também a lógica é a posteriori, ou seja, que consiste numa generalização de fatos particulares observados. Pelo contrário, para Kant existem leis a priori (independentes da experiência) e, no entanto, sintéticas (não tautológicas). Os neopositivistas adotam posição intermédia. Segundo eles, as leis da lógica são a priori, independentes da experiência, mas, ao mesmo tempo, puramente tautológicas, nada significando. Não representam mais do que regras gramaticais susceptíveis de elaborar mais facilmente os dados da experiência sensível. Pelo que, a lógica compõe-se de regras sintáticas, derivadas de princípios arbitrariamente estabelecidos. Uma vez assentes os princípios e as regras da dedução, as consequências devem seguir-se, mas o fundamento de toda lógica é posição (Setzung) pura.

Contrariamente a Wittgenstein, Carnap defende a tese de que poderíamos falar da linguagem, principalmente empregando outra linguagem, uma metalinguagem. A filosofia consiste na análise metalógica. Ela estabelece um sistema de signos que significam, por sua vez, os termos da linguagem científica, e deste modo é capaz de analisar os enunciados das ciências da natureza. A filosofia é o estudo da sintaxe lógica dos enunciados científicos. [Bochenski]