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Patocka (1983:49) – falta radicalidade à fenomenologia da subjetividade
sábado 14 de setembro de 2024
Não é minha intenção fazer um relato detalhado da fenomenologia como uma ciência do surgimento. A interpretação que estou tentando apresentar aqui não é ortodoxa. A interpretação dos próprios fundadores da fenomenologia difere essencialmente dela.
Edmund Husserl definiu sua fenomenologia como a doutrina da subjetividade transcendental que constitui o mundo e tudo o que está contido no mundo. O que isso significa? Pode-se pensar que a diferença é meramente uma questão de terminologia. Na medida em que aparência significa que algo aparece para alguém, isso implica subjetividade. Algo aparece para alguém em determinadas circunstâncias, e essas estruturas de aparição são típicas e obrigatórias para toda objetividade. E essa legalidade é precisamente a maneira pela qual os objetos gradualmente tomam forma e se constroem em relação à subjetividade, ou seja, o que Husserl chama de constituição. Se fosse assim, a distinção seria puramente verbal. Por que nos apegamos a ela tão obstinadamente? Por que não nos atermos às formulações refinadas, experimentadas e testadas desse mestre da análise fenomenológica, cujo mergulho profundo nesses problemas capta pressupostos que escapam tanto ao olhar científico quanto à visão ingênua da realidade?
Porque nos parece que essa formulação, que apresenta a fenomenologia como uma doutrina da subjetividade, por mais transcendental que seja, não é suficientemente radical, no sentido de que nos apresenta não a aparência do ser, mas um ser determinado, algo já revelado, por mais fluido, por mais refinado que seja.
[PATOCKA , Jan. Platon et l’Europe. Tr. Erika Abrams. Paris: Verdier, 1983]
Ver online : Jan Patocka