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Leibniz (NEEH) – inatismo virtual

domingo 7 de novembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

A. Sérgio

Filaleto — Suposto que de fato existam verdades que possam estar impressas no entendimento sem que este se aperceba da sua existência, não vejo como, pelo que toca à origem, elas possam diferir daquelas que ele é só capaz de conhecer.

Teófilo — O espírito não é só capaz de conhecer essas verdades: é também capaz de as achar em si; e, se tivesse só a simples capacidade de receber conhecimentos, ou um dom passivo para tal efeito, tão indeterminado como o tem a cera para receber figuras várias, ou a tábula rasa para receber as letras, — nesse caso não seria origem das verdades necessárias, assim como acabo de mostrar que o é; pois é incontestável que os sentidos não são bastantes para nos fazer ver a necessidade de tais verdades, e que tem assim o espírito uma disposição (tanto ativa como passiva) para ele mesmo as tirar do seu próprio âmago, — apesar de que os sentidos são necessários, sem dúvida alguma, para lhe dar ocasião e atenção para proceder de tal maneira e se encaminhar a umas de preferência a outras. Vedes, pois, que aquelas pessoas (aliás muito doutas) que têm sustentado opinião diversa parece que não meditaram suficientemente nas consequências que se derivam da diferença que existe entre as verdades que são necessárias (ou verdades eternas) e as verdades de experiência, — como já tive ocasião de o fazer notar, e como o revela de maneira clara toda esta discussão entre nós dois. A prova originária das verdades necessárias procede exclusivamente do entendimento; as outras verdades são provenientes das experiências, ou das observações dos sentidos. Tanto a umas como a outras é capaz de conhecer o nosso espírito; das primeiras, contudo, é ele a origem; e qualquer que seja o número de experiências particulares que de uma verdade universal possamos ter, não é possível por simples indução assegurarmo-nos para sempre de tal verdade, sem conhecermos pela razão o seu carácter de necessária.

Filaleto — Mas não será certo que, se as palavras: existir no entendimento, envolvem algo de positivo, elas significam ser apercebido e compreendido pelo entendimento?

Teófilo — Quanto a mim, significam cousa muito diversa. Basta que o que existe no entendimento possa ser encontrado no entendimento, e que as origens, ou provas originárias, das verdades de que se trata jazam unicamente no entendimento. Podem os sentidos insinuar, justificar, confirmar essas verdades; mas não podem demonstrar a sua certeza infalível e perpétua.

Filaleto — Quem se der ao trabalho, no entanto, de refletir nas operações intelectuais com um tudo nada de atenção há-de descobrir que esse assentimento, dado sem custo pelo espírito a um certo número de verdades, depende da faculdade do espírito humano.

Teófilo — Muitíssimo bem. Mas é essa relação particular entre o espírito humano e tais verdades que torna o exercício da faculdade, com respeito a elas, natural e fácil e que faz que lhe chamemos verdades inatas. Não se trata, pois, de uma faculdade nua, a qual consistisse unicamente na possibilidade de compreendermos essas verdades; trata-se sim de uma disposição, de uma preformação, de uma aptidão, a qual determina a nossa alma e faz que as possamos tirar dela. De maneira análoga, há diferença entre as figuras que damos à pedra, ou ao mármore, indiferentemente, e aquela que os veios marcam já, ou que estão dispostos a marcar no caso de o obreiro se aproveitar deles.

original

PHILALÈTHE. Mais supposé qu’il y ait des vérités qui puissent être imprimées dans l’entendement, sans qu’il les aperçoive, je ne vois pas comment, par rapport à leur origine, elles peuvent différer des vérités qu’il est seulement capable de connaître.

THÉOPHILE. L’esprit n’est pas seulement capable de les connaître, mais encore de les trouver en soi, et s’il n’avait que la simple capacité de recevoir les connaissances ou la puissance passive pour cela, aussi indéterminée que celle qu’a la cire de recevoir des figures et la table rase de recevoir des lettres, il ne serait pas la source des vérités nécessaires, comme je viens demontrer qu’il l’est : car il est incontestable que les sens ne suffisent pas pour en faire voir la nécessité, et qu’ainsi l’esprit a une disposition (tant active que passive) pour les tirer lui-même de son fonds ; quoique les sens soient nécessaires pour lui donner de l’occasion et de l’attention pour cela, et pour le porter plutôt aux unes qu’aux autres. Vous voyez donc,Monsieur, que ces personnes, très habiles d’ailleurs, qui sont d’un autre sentiment, paraissent n’avoir pas assez médité sur les suites de la différence qu’il y a entre les vérités nécessaires ou éternelles, et entre les vérités d’expérience, comme je l’ai déjà remarqué, et comme toute notre contestation le montre. La preuve originaire des vérités nécessaires vient du seul entendement, et les autres vérités viennent des expériences ou des observations des sens. Notre esprit est capable de connaître les unes et les autres, mais il est la source des premières, et quelque nombre d’expériences particulières qu’on puisse avoir d’une vérité universelle, on ne saurait s’en assurer pour toujours par l’induction, sans en connaître la nécessité par la raison.

PHILALETHE.Mais n’est-il pas vrai que ci ces mots, être dans l’entendement, emportent quelque chose de positif, ils signifient être aperçu et compris par l’entendement ?

THÉOPHILE. Ils nous signifient tout autre chose : c’est assez que ce qui est dans l’entendement y puisse être trouvé et que les sources ou preuves originaires des vérités dont il s’agit ne soient que dans l’entendement : les sens peuvent insinuer, justifier, et confirmer ces vérités, mais non pas en démontrer la certitude immanquable et perpétuelle.

§ 11. PHILALÈTHE. Cependant tous ceux qui voudront prendre la peine de réfléchir avec un peu d’attention sur les opérations de l’entendement trouveront que ce consentement que l’esprit donne sans peine à certaines vérités dépend de la faculté de l’esprit humain.

THÉOPHILE. Fort bien. Mais c’est ce rapport particulier de l’esprit humain à ces vérités qui rend l’exercice de la faculté aisé et naturel à leur égard, et qui fait qu’on les appelle innées. Ce n’est donc pas une faculté nue qui consiste dans la seule possibilité de les entendre : c’est une disposition, une aptitude, une préformation, qui détermine notre âme et qui fait qu’elles en peuvent être tirées. Tout comme il y a de la différence entre les figures qu’on donne à la pierre ou au marbreindifféremment et entre celles que ses veines marquent déjà ou sont disposées à marquer si l’ouvrier en profite.


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