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melencolia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

QUADRO DE DÜRER

Por isso, se agora voltarmos os olhos para a gravura de Dürer, condiz muito bem? com a figura? alada imóvel atenta aos próprios [54] fantasmas? e ao lado da qual está sentado Spiritus phantasticus, representado em forma? de anjinho, que os instrumentos da vida? ativa fiquem abandonados ao solo, transformando-se em cifra de uma sabedoria? enigmática. O estranhamento inquietante dos objetos mais familiares é o preço pago pelo melancólico às potências que fazem guarda ao inacessível. O anjo? que medita não é, segundo uma interpretação já tradicional, o símbolo da impossibilidade? da Geometria, e das artes que nela se fundamentam, de alcançar o incorpóreo mundo? metafísico, mas, pelo contrário, é o emblema da tentativa do homem, no limite? de um risco psíquico essencial, de dar corpo? aos próprios fantasmas e de tornar predominante, em uma prática artística, aquilo que, do contrário, não poderia ser? captado nem conhecido. O compasso, a esfera, a mola, o martelo, a balança, a régua, que a intenção melancólica esvaziou de seu sentido? habitual e transformou em emblemas do próprio luto, já não significam nada? mais que o espaço que eles tecem para a epifania do inapreensível. Dado? que a sua lição consiste em que só se pode apreender o que é inapreensível, o melancólico só se sente bem entre esses ambíguos despojos emblemáticos. Como relíquias de um passado no qual está escrita? a cifra edênica da infância, eles capturaram para sempre uma vaga ideia? do que só pode ser possuído se estiver perdido para sempre. [AgambenE:55-56]