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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Escrita? (crítica à)

A relação de Platão com a escrituralidade é ambivalente. De um lado, ele parece ter uma atitude de distanciamento em relação à redação de textos escritos; de outro, ele próprio, ao contrário disso, compôs inúmeras (e importantes) obras escritas. Como avaliar esse dado??

As fontes principais da “crítica à escrita” platônica são uma passagem na Carta 7 (340b-345c) e uma no diálogo Fedro   (274b-278b). A autenticidade? da Carta 7 é controversa (e assim continuará); há unanimidade quanto ao fato? de que ela, em todo caso, deriva de uma fonte? contemporânea bem? informada. O Fedro? já foi anteriormente (já Diógenes Laércio 3, 38; diferentemente de Cícero, Orator 42) classificado como uma obra da juventude?, o que oferecia a hipotética opção de que Platão mais tarde teria revisado sua concepção. No entanto, critérios linguísticos hoje vastamente reconhecidos (ver Heitsch 1997, p. 231-233) deslocam essa obra para um grupo de diálogos? da fase intermediária, que também inclui, por exemplo, a República   — a datação mais antiga é ainda defendida por Tomin (1997).

Num debate até hoje acirrado entre uma interpretação esotérica e uma não esotérica de Platão, a avaliação desses dois textos constitui um ponto? fulcral. Trata-se essencialmente de saber? se e com que certeza? podemos deduzir deles a existência de uma DOUTRINA NÃO ESCRITA de Platão, no sentido? dos esotéricos, sobretudo Krã-mer, Gaiser, Reale, Szlezák  ; desde muito é indiscutível que Platão (como qualquer outro autor) sabia mais do que escreveu, o que seria algo trivial. Portanto, a disputa? não gira em torno da agrapha? dogmata simplesmente, mas também do postulado de uma doutrina platônica especial, descrita como teoria dos princípios (por exemplo Gaiser 2004, p. 295-315): Platão teria reservado essa doutrina à instrução oral, para evitar mal?-entendidos (Szlezák 1993a, p. 152-155). A questão da existência de tal doutrina está ligada a questões sobre seu conteúdo objetivo? e sua relevância para a interpretação dos textos platônicos — é óbvia a problemática metodológica do procedimento de ler textos existentes à luz? de uma teoria que não foi conservada (cf. Tarrant 2000, p. 19-25). Um artigo de um léxico não pode se envolver em tantas questões desse tipo. Portanto, o objetivo a seguir não passará de uma primeira informação sobre os dados? textuais. [SHÄFER]