Filosofia – Pensadores e Obras

teoria da linguagem

O vocábulo ‘linguagem’ designa todo sistema de signos, símbolos ou sinais, o mais das vezes artificiais e convencionais, e a utilização desse sistema de signos consoante determinadas regras, assim como as formas históricas e socialmente condicionadas da função do falar. Dentro de toda língua é preciso distinguir: a) a totalidade de signos e formas de que se pode servir aquele que fala (o “falável”); b) a realização do ato de falar; c) a palavra produzida e ouvida (o “ralado”). Em sentido originário ‘linguagem’ é a representação de pensamentos por meio de sons e só existe ao ser pronunciada. Enquanto a representação gráfica imita o objeto significado em sua forma sensível e é, em consequência, imediatamente compreendida por qualquer contemplador, a linguagem faz presente não o objeto, mas o pensamento e (em sua forma desenvolvida) não copiando-o, mas mediante um signo, sinal ou símbolo que o substitui. Daí, só é compreendido por quem conhece a significação do signo, sinal ou símbolo. A primeira forma fonética fundamental é a sílaba; a primeira forma fundamental de signo linguístico dotado de significação é a palavra; a primeira forma fundamental da própria linguagem é a oração. Somente nesta se exprime um pensamento completo.

As linguagens se dividem em naturais e artificiais. As linguagens naturais são as produzidas no curso da evolução psicológica e histórica, como, por exemplo, a grega, a portuguesa etc. As linguagens artificiais são construídas de acordo com certas regras formais, como, por exemplo, a linguagem matemática. As linguagens se dividem ainda em cognoscitivas e emotivas, sendo as primeiras às vezes chamadas indicativas, enunciativas, referenciais e simbólicas, enquanto as segundas foram chamadas também evocativas. As linguagens cognoscitivas são as que enunciam se alguma coisa é ou não, se uma proposição é verdadeira ou falsa. As linguagens emotivas expressam simplesmente o acontecer psíquico de um sujeito e por isso não se pode dizer de suas proposições que sejam verdadeiras ou falsas, como, por exemplo, as linguagens das ciências. Exemplos de linguagens emotivas são as linguagens poéticas. Finalmente, as linguagens podem ser reversíveis e irreversíveis. As linguagens reversíveis são as que estão compostas de expressões cuja ordem de elementos pode ser alterada sem que se modifique a significação da expressão. As linguagens irreversíveis são as que estão compostas de expressões cuja ordem de elementos não pode ser alterada sem que se modifique a significação da expressão. Exemplo de linguagens irreversíveis são as linguagens científicas; exemplo de linguagem reversível é a linguagem poética.

Posto isto, é perfeitamente aceitável a definição de ‘linguagem’ proposta por Edward Sapir: “A linguagem é um método exclusivamente humano, e não instintivo, de comunicar ideias, emoções e desejos por meio de um sistema de símbolos produzidos de maneira deliberada. Estes símbolos são antes de tudo auditivos, e são produzidos pelos chamados ‘órgãos da fala’”. Dessa definição defluem dois problemas: a) seria possível o pensamento sem a fala? b) a fala e o pensamento não seriam duas facetas de um mesmo processo psíquico? A solução desses problemas seria menos difícil se em torno deles não existissem tantos equívocos. Em primeiro lugar, convém observar que, independentemente de se o pensamento exige ou não o simbolismo (isto é, a fala), o próprio caudal da linguagem nem sempre é um indicador de pensamento. O fato de o elemento típico linguístico servir de rótulo a um conceito não quer dizer que os usos a que se destina a linguagem sejam sempre conceituais, nem que o sejam de maneira predominante. Na vida ordinária não nos interessamos tanto pelos conceitos enquanto tais, senão antes por particularidades concretas e relações determinadas. Por exemplo, quando se diz: “esta manhã tomei uma excelente parva”, é evidente que não se sentem os esforços de um pensamento laborioso e o que se comunica a quem ouve não passa de uma lembrança agradável, traduzida simbolicamente seguindo os biná-rios de uma expressão habitual. Cada um dos elementos da frase citada define um conceito separado, ou uma relação conceituai separada, ou as duas coisas juntas, mas a frase em si mesma não tem a menor significação conceituai. Assim, a única constante que existe na linguagem é sua forma externa, sendo o pensamento — do ponto de vista linguístico — o mais elevado dos conteúdos latentes ou potenciais da fala, o conteúdo ao qual podemos chegar quando nos esforçamos por cingir a cada um dos elementos do caudal linguístico seu pleno e absoluto valor conceituai. Disso se segue imediatamente que a linguagem e o pensamento, em sentido estrito, não são coexistentes. No máximo, a linguagem pode ser apenas a faceta exterior do pensamento no nível mais elevado, mais generalizado, da expressão simbólica.

Em suma, a linguagem é um sistema de signos que nos serve para comunicar nossas ideias, evocando na mente de outrem as imagens conceituais das coisas que se formam em nossa própria mente. A palavra não nos transmite a coisa, mas a imagem da coisa. Resulta daí que o signo linguístico é uma associação de duas imagens mentais, uma forma acústica significante ou nome, e um conceito significado ou sentido. Consoante Pierre Guiraud, “esta associação é um processo psíquico, bipolar e recíproco, já que o homem evoca o sentido e o sentido evoca o homem. A associação significante é convencional, resultante que é de um acordo entre aqueles que empregam a linguagem”. [LWVita]