Não se pode falar de uma “presciência” divina em sentido próprio, porque Deus está fora e acima do tempo, e, portanto, não há, para o seu Ser nem para a sua ciência, “antes” nem “depois”. Pelo que, não só os acontecimentos atuais, senão também os pretéritos e os que em si são futuros, estão todos ante o seu olhar. Este abarca, outrossim, nossas decisões livres futuras, todavia ocultas para nós, sem que pelo fato de serem vistas fiquem privadas de liberdade. Nossas ações livres atuais não variam pelo fato de terem quem as observe; Deus é o observador eterno, intemporal.
Deus conhece igualmente nossas ações livres condicionadamente futuras (futuros livres condicionados ou futuríveis), as que se realizariam só sob determinadas condições, mas que, de fato, não chegam a realizar-se, porque tais condições nunca se verificarão. Só desta maneira se consegue explicar a providência, sem que corra risco nossa liberdade. Quer dizer: se Deus sabe como os homens se comportariam em todas as situações particulares, basta-lhe, para obter o fim que se propõe, fazer que se apresente essa situação. Que Deus conhece desde toda eternidade as ações livres condicionadamente futuras, é coisa que, na filosofia escolástica, hoje mal se discute. Pelo contrário, as tentativas para explicar esse conhecimento e coordená-lo com a vontade de Deus e com outras espécies de ciência divina divergem notavelmente, de modo idêntico ao que sucede na questão do concurso divino (concurso de Deus). Segundo a solução “tomista”, Deus conhece os atos futuros livres, tanto absolutos como condicionados, nos decretos de sua vontade que predeterminam o querer do homem; segundo a doutrina molinista, Deus conhece os futuros livres condicionadas “em si mesmos”, na medida em que, de maneira para nós inescrutável, se oferecem a seu divino conhecimento (ciência média), independentemente de todo decreto de sua vontade. Quando se tenta entrar em pormenores, diversos são também os caminhos aqui seguidos, sem que nenhum seja plenamente satisfatório. — O fato da presciência divina em geral fundamenta-se muitas vezes na circunstância de Deus conhecer toda verdade. Contudo, é difícil compreender como independentemente da ciência divina, às coisas futuras convém o ser e, por conseguinte, também a verdade. — Rast. [Brugger]