Filosofia – Pensadores e Obras

fatos psíquicos

O objeto da psicologia são os fatos psíquicos. Fato é um sinônimo de fenômeno, mas que deve ser distinguido: o fenômeno (de phe, aparecer) é o fato enquanto aparece. Dessa maneira, um fato psíquico inconsciente, que não aparece, não deixa de ser um fato, mas ao qual não conviria empregar o termo fenômeno, nem falar em fenômenos, mas sim, fatos psíquicos inconscientes.

Impõe-se distinguir os psíquicos dos físicos: 1) individualidade dos psicológicos, que consistem em se darem numa única consciência e em não serem diretamente conhecidos senão por um único indivíduo; enquanto os físicos podem ser comprovados por um número indeterminado de pessoas. É que os psíquicos se dão no interior de uma pessoa, enquanto os físicos pertencem ao mundo exterior; 2) os psicológicos não ocupam espaço, não se apresentam como corpos, eles transcorrem no tempo. Os pensamentos, além de não serem espaciais, são também intemporais, mas o ato de pensar processa-se numa pessoa e num determinado tempo. Embora não seja ele espacial está implicado como algo que ocupa espaço, como é o ser humano.

Mas os fatos psicológicos como os sentimentos, a vontade, o raciocínio não têm dimensões nem ocupam um lugar no espaço. Há teorias que procuram explicar as funções psicológicas como meras funções cerebrais, localizando-as no encéfalo. Entretanto, se admitirmos essa relação entre os fatos psicológicos com a nossa constituição cérebro-espinhal, temos que salientar todavia que o processo fisiológico não torna espaciais os fatos psicológicos. Estes podem ser entendidos como simples processos que, na sua constituição unitária, não formam, no entanto, um corpo que é o fato processado no espaço e no tempo. Há nos fatos psicológicos temporalidade, pois eles se dão numa determinada fração de tempo, sem podermos, no entanto, dar-lhes uma espacialidade, isto é, uma extensão.

Sinteticamente podemos distinguir os fatos psíquicos dos outros: 1) os psíquicos são pessoais, existem só em quem os experimenta; os físicos são impessoais, existem para todos; 2) os psíquicos são interiores à consciência; os psíquicos são exteriores; 3) os psíquicos são intencionais, os físicos são fatos brutos; 4) os psíquicos desenrolam-se fora do espaço (não são localizáveis), enquanto os físicos desenrolam-se no espaço. Ambos, porém, sucedem no tempo (mas os psíquicos se dão na duração, no tempo psicológico); 5) os psíquicos são intensistas, genuinamente heterogêneos, móveis, cambiantes; os físicos, submetidos à lei da inércia, são predominantemente extensistas, homogêneos; 6) os físicos são determinados por causas (ou fatores caracteristicamente causais); 7) os psíquicos são determinados por fins. Os movimentos da matéria podem ser explicados pela causalidade; a atividade psíquica exige a presença de uma finalidade (em todo o plano biológico, como no psicológico, a finalidade se impões; 8) nos físicos reina o determinismo; nos psíquicos observamos uma faculdade especial de escolha.

Essas distinções que se podem fazer entre os fatos psíquicos e os fatos físicos, revelam-nos a impossibilidade de uma redução dos primeiros aos segundos, como pretende o materialismo. [MFSDIC]